terça-feira, 28 de maio de 2019

PERFIS DE PRINCESENSES ILUSTRES





NOMIN                            NOMINANDO DINIZ NETO, mais conhecido como MANITO, nasceu em Princesa em 15 de fevereiro de 1944, era filho de José Nominando Diniz e de dona Laura Dantas Diniz. Neto de Nominando Muniz Diniz (“seu” Mano), era MANITO o querido do chefe do clã “Diniz”. Perdeu o pai muito cedo e foi criado pelo avô. Casou-se com dona Rosa e teve, com ela, dois filhos: Júnior (que levava seu nome) e Cinthia. Pulou a cerca e constituiu família com uma nissei em São Paulo com quem teve mais dois filhos. Alguns podem até questionar porque incluo MANITO nessa relação de princesenses ilustres e eu, aproveito para justificar essa inclusão: era MANITO uma pessoa de grande coração e de inteligência privilegiada. Em que pese seu comportamento, muitas vezes, dissonante dos padrões exigidos pela sociedade quando, contumaz consumidor de bebida alcoólica e farrista por excelência, era também de grande coração e, em sua profissão de advogado, um grande causídico. Se não inscrito nas relações de advogados famosos, ricos e bem sucedidos, mas reconhecido em Princesa como o defensor dos pobres e desvalidos, pois, sempre esteve à disposição dos despossuídos para defendê-los, gratuitamente, junto aos tribunais. Formado advogado, foi MANITO, por obra e graça do prestígio do avô, nomeado Advogado de Ofício (o equivalente hoje a Defensor Público). Nessa condição, veio “destacar” na Comarca de Princesa onde esteve presente sempre - não por obrigação, mas, por prazer -, a defender aqueles mais necessitados que o procurassem no exercício de seu mister. De família política, foi MANITO, submetido às urnas – não por vontade própria, mas, por imposição familiar -, quando se candidatou a deputado estadual no pleito que se realizou em 1970. Não logrou êxito, porém, obteve uma expressiva votação na região polarizada por Princesa. Esses votos, além do prestígio familiar, lhes foram dados, gratuitamente, pelo muito que sempre fez pelos mais pobres quando os defendia sem nenhum interesse financeiro junto à Justiça e às Delegacias de Polícia. Era MANITO, conhecido como o advogado dos pobres. Abraçava as causas daqueles que não tinham com que pagar e o fazia com muita dedicação como se dinheiro estivesse ganhando. Certa feita, quando defendia um homicida do município de Água Branca que havia cometido duplo assassinato (matou a mulher que o traía e o “urso” que a “comia”), MANITO, após emocionante discurso em defesa de seu constituído que havia sido “covardemente” traído pela mulher, perorou da tribuna do Fórum:
“Vejam, senhores jurados, quão humilhante é a situação desse “corno”. Aqui, cabisbaixo na sua vergonha de haver sido traído pela mãe de seus filhos. Traído covardemente, repito, enquanto trabalhava para adquirir o sustento da família. Se não mereceu o respeito da esposa a quem amava e respeitava, deve merecer a compaixão dos senhores jurados e ser livre para continuar sua faina diária em busca do pão de cada dia para sustentar sua numerosa prole. Coloquem-se, os senhores, neste momento, no lugar desse “corno” e entenderão sua atitude que foi tão somente um ato em defesa de sua própria honra, que foi maculada por uma mulher a quem amava, confiava e respeitava!
       Após esse discurso contundente e apelativo de MANITO, o senhor promotor de Justiça apresentou aos jurados o “pau” usado pelo réu para matar sua mulher e o amante. O instrumento do crime, medindo aproximadamente um metro, continha, ainda, manchas de sangue, ao que protestou, junto ao meritíssimo juiz, o “advogado dos pobres”, dizendo:
“Senhores jurados, eu garanto-lhes que o “pau” que provocou a desonra desse “corno”, era muito maior do que esse que o senhor promotor nos apresenta agora!”.
     O discurso de MANITO surtiu efeito. Após a votação dos jurados, o réu foi absolvido por sete votos a zero.
     Certo dia, MANITO, muito espirituoso e engraçado, estava observando os trabalhos da construção da “estrela” na Praça “Dona Nathalia do Espírito Santo” – obra encetada pela administração de seu tio Antônio Nominando -, quando acompanhado pelo correligionário Gerson Patriota (um curioso de obras e com fama de sabe-tudo), que preocupado com a grande quantidade de lama que deveria ser removida daquela lagoa para que pudesse ser construída a referida “estrela”, perguntou ao mestre de obras:
                               “Diga-me uma coisa: como farão para retirar essa lama toda no braço?”. Manito antecipou-se ao chefe dos trabalhos e disse; “Ah, Gerson, esse serviço vai ser feito com o aritendel!”. Aí, Patriota assentiu em tom de convencimento: “Ah! Com o aritendel é outra coisa!”. Manito virou-se prá Batista de Nequinho, mestre de obras que estava ao seu lado e perguntou; “O que diabo é aritendel?”.
     MANITO era assim, espirituoso, inteligente e engraçado. Fazia a festa nas rodas formadas nas calçadas e nas mesas de bar. Detentor de amplo conhecimento das coisas e de verve fácil se fazia entender por todos quando confabulava sempre de forma divertida, sem escolher plateia, fossem adversários ou correligionários. Generoso e desapegado às coisas materiais era sempre pródigo com os outros e, quando defendia alguma causa em que auferia algum honorário, fazia a festa pagando bebida e comida pra todo mundo.  Por conta desse comportamento, durante sua convivência com os princesenses, nunca constituiu nenhuma inimizade sendo sempre amigo de todos.
     Em que pese todas essas qualidades, foi MANITO, misteriosamente assassinado em 27 de maio de 1995, aos 51 anos de idade, quando dormia em sua residência em João Pessoa/PB, com um tiro na cabeça – crime que completa, hoje, 24 anos –, ocorrência nebulosa que até esta data não teve solução quanto aos autores dessa violência e que deixou, a alguns de seus familiares e a muitos amigos, uma saudade daquele que, somente com sua presença e sua luminosa inteligência, preenchia o vazio da tristeza que nunca foi sua companheira.


ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 27 DE MAIO DE 2019.

2 comentários:

  1. Justa homenagem ao saudoso Tio Manito, homem de rara simplicidade, advogado de singular sagacidade, cuja fluência verbal o fazia transitar com maestria desde núcleos de agricultores e poetas,a ilustrados Magistrados e Desembargadores!!! Ferrenho defensor da liberdade, desde tenra infância, onde, muitos não sabem, mas sua primeira fala como advogado* (advogar - falar em nome de), aconteceu aos sete anos de idade, onde, atendendo o clamor de outra criança, dirigiu-se à delegacia de Princesa Isabel, falou com o delegado e "soltou" o pai do seu amigo! Homem de riso e gestos largos, defensor incansável da liberdade de expressão, e da justiça, lamentavelmente vítima de um mistério(?), que apenas revelou a covardia de quem o cercava quando de seu último suspiro, vítima de um tiro (que ninguém que estava nos quartos ao lado conseguiu) escutar..., quem dera que Arthur Conan Doyle* pudesse ter sido não apenas um escritor, mas o pai daquele Detetive que investigava e sempre descobria e punia os culpados...!!! Como sobrinho, amigo e colega de profissão, nó nos resta lamentar e seguir lutando e orando, por um país mais justo, e trabalhando por maior efetividade dos nossos trinunais!!! Justa e merecida homenagem, muito bem escrita por outro amigo de singular coragem e precisão histórica em seus escritos!!! Meus respeitos!
    *Arthur Conan Doyle é o autor dos livros de Sherlock Holmes, famoso detetive inglês, obra de fantasia de leitura agradável e recomendável!!!Gustavo Floro Avellar Diniz, Advogado e Sobrinho do saudoso Manito.

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  2. Renata Marques Diniz Trajano3 de setembro de 2019 às 05:04

    Me encho de felicidade em ler uma homenagem tão linda ao meu avô. Passei meus 28 anos ouvindo minha mãe, Cynthia, contar histórias extraordinárias sobre ele.
    A maior tristeza das nossas vidas foi o seu assassinato. Que pena, meu avô querido, não ter podido ouvir suas histórias contadas por você. Te amaremos para sempre!

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