quarta-feira, 14 de agosto de 2019

ZÉ MIRANDA, O CARRO E O “CRAÚNA”



foto: maluco Zé Miranda
   
  Nos anos 1980, o Fórum de Princesa funcionava onde está hoje o Ministério Público. Naquele tempo, Princesa era povoada de muitas pessoas portadoras de deficiência mental que, perambulando pelas ruas sem amparo governamental viviam, os “doidos”, a conversarem besteiras e a serem chateados pelos meninos. O ponto predileto de alguns deles era a esquina da loja de Waldemar Abrantes, portanto, defronte ao Fórum. Um dos contumazes dementes que ali faziam ponto era um “galegão” chamado “Zé Miranda”. Era alto e falava mais alto ainda com ares de gozação e desafio e, às vezes, se fazia violento.

O Juiz
    
 Recém-chegado a Princesa, o juiz da comarca era um doutor de cor negra e de comportamento muito simples e desapegado a cerimônias. Vestia-se com simplicidade, andava a pés e dispensava seguranças. Certa tarde, ao chegar ao Fórum para mais um expediente, o juiz deparou-se com uma camioneta D-20 estacionada em frente ao Cartório de João Barros (vizinho ao Fórum), com o motorista ao volante e um homem alto, louro e mal vestido tentando empurrá-la. Parou um instante para observar a cena e, incontinenti, o sujeito que empurrava o carro gritou: “Ei, Craúna, me ajuda aqui! Vem cá negão, faz essa caridade!”. O juiz olhou ao redor e, não vendo nenhum “negão” por perto, deduziu ser com ele que o homem falava. Entrou no Fórum e, na mesma hora, ligou para a polícia que não se demorou a chegar.

A prisão
    
 Sem conhecer ainda as pessoas da cidade, o juiz tomou aquilo como uma desfeita e, chegada a polícia ao Fórum, determinou a imediata prisão daquele atrevido que o destratara publicamente. O comandante da guarda saiu do recinto para cumprir as ordens judiciais, porém, voltou em cima do rastro e, às gargalhadas, informou ao juiz: “doutor, aquele é Zé Miranda.”. Ao que o juiz perguntou: “E... Quem é Zé Miranda?”. O policial respondeu: “Um doido, doutor, um doido.”. Doutor João caiu na risada, saiu da repartição para a calçada e foi conhecer pessoalmente aquele pobre-diabo “brancão” que confundira o juiz com um “negão” qualquer. Na calçada do Fórum, olhando para o maluco, o magistrado deixou o dito pelo não dito e, quando adentrava novamente à repartição, ouviu de Zé Miranda: “Sossega, negão. Você é meu!”.

(Escrito por Domingos Sávio Maximiano Roberto, em: 14 de agosto de 2019)

Um comentário:

  1. Esse da foto é Cocó, Zé Miranda tinha barba e não usava chapéu. Só esclarecendo.

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