sexta-feira, 15 de novembro de 2019

30 ANOS DA ERA COLLOR






Jejum eleitoral

Trinta anos após a escuridão da ditadura militar, foram realizadas as primeiras eleições diretas para a escolha do presidente da República no Brasil. Com o Golpe perpetrado pelas Forças Armadas em 31 de março de 1964, cessaram as liberdades democráticas no Brasil. Foram suspensas as eleições para presidente; várias lideranças políticas tiveram seus mandatos cassados; a tortura instalou-se nos porões dos quarteis do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, tudo ficou turvo. O jejum de eleições presidenciais durou quase 30 anos, uma vez que o último pleito para a escolha do presidente da República havia acontecido em 1960 quando da eleição do presidente Jânio Quadros.

Nova Constituição

Em 1985, após a rejeição pelo Congresso Nacional, em 1984, da Emenda Constitucional - de autoria do então deputado Dante de Oliveira -, que reinstituía as eleições diretas para presidente da República, as oposições se uniram num consenso e elegeram, indiretamente por um Colégio Eleitoral, o político mineiro Tancredo de Almeida Neves, presidente do Brasil. Antes de tomar posse, o presidente-eleito adoeceu e morreu quarenta dias depois de eleito. Com a vacância, assumiu o vice-presidente, José Sarney. Após a eleição do novo parlamento, em 1986, foi escrita uma nova Constituição Federal que, promulgada em 05 de outubro de 1988, previa no seu texto a realização de eleições diretas para a escolha do no presidente com data marcada para 15 de novembro de 1989, exatamente cem anos após a proclamação da República brasileira.

A “zebra” das Alagoas

Para as eleições de 1989, a união das oposições não se repetiu. O longo jejum eleitoral provocou na maioria das lideranças políticas brasileiras a avidez de concorrer ao cargo maior da Nação. A falta de consenso fez surgir 21 concorrentes à presidência. Entre estrelas de primeira grandeza na qualidade de Ulysses Guimarães; Mário Covas; Aureliano Chaves; Leonel Brizola, dentre outros, figuravam também alguns “marronzinhos” e outros que, pelo seu radicalismo ideológico (Lula; Roberto Freire; Fernando Gabeira), não se apresentavam com nenhuma chance de vitória. Face à miscelânea de postulantes desprovidos de propostas que tivessem o condão sensibilizar ou de atrair os eleitores, surgiu a “zebra” das Alagoas, pintada de verde-amarelo, descendo o pau no presidente Sarney, prometendo derrubar a hiperinflação de um Ippon (golpe de caratê) e com o simpático discurso de “Caçador de Marajás”. Essa “zebra” tinha um nome: Fernando Affonso Collor de Mello. Isso mesmo, tudo dobrado que nem tapioca. Dobrou a todos e, no meio do processo eleitoral já se apresentava como favorito a lograr êxito nas urnas de 15 de novembro.

A república das Alagoas

Não deu outra! Polarizando com outra “zebra”, como nome de Luís Inácio da Silva, o Lula, que surgira das esquerdas, respaldado pelos sindicatos e que teve o “mérito” de destronar aquele que oferecia maior perigo ao stablishment, chamado Leonel Brizola, os donos do capital junto aos de pensamento conservador, optaram pelo menos ruim, pelo menos perigoso. Com isso, Fernando Collor angariou apoios vários que o levaram à principal cadeira do Planalto, quando derrotou Lula no segundo turno daquelas eleições. Eleito, Collor instalou-se no governo acompanhado de uma turma, a maioria de seus componentes vindos de Alagoas, seu estado de origem, e começou a governar num estilo ufanista, arrogante e por demais presunçoso. Inicialmente, a população apostou no novo, porém, aos poucos foi ficando demonstrado o conto do vigário em que havia caído, a maioria dos brasileiros.

O fim da farsa

No começo tudo era festa. Veio o chamado “Plano Collor” que, sob o pretexto de acabar com a inflação confiscou as poupanças de forma indiscriminada; congelou salários e preços e não conseguiu explicar nada a ninguém. Enquanto o presidente Collor corria nas imediações da “Casa da Dinda” (casa que pertencera à sua avó e que adotou como residência oficial), a inflação - que fora abatida artificialmente -, voltava a subir de forma mais agressiva ainda. Na esteira desse e de vários outros fracassos administrativos, o irmão do presidente, Pedro Collor de Mello, enciumado tanto por motivos negociais quanto amorosos, deu entrevista-bomba à revista Veja, denunciando o tesoureiro da campanha eleitoral de Fernando Collor, Paulo César Farias, como sendo este o operador da corrupção que grassava no palácio do Planalto. Instalada uma CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara Federal, logo se constatou que as denúncias do irmão tinham fundamento e que havia mesmo falcatruas no governo do “Caçador de Marajás”. Instalado o processo de impeachment, correu tudo dentro do que manda a lei e o presidente foi afastado pela Câmara Federal, para ser julgado pelo Senado da República. Vendo que seria mesmo condenado e defenestrado do poder, Fernando Collor de Mello renunciou ao mandato de presidente da República em 29 de dezembro de 1992. Foi esse o fim do governo saído das urnas da primeira eleição direta pós ditadura militar. De lá para cá têm acontecido coisas que, se comparadas com as que derrubaram Collor do trono do Planalto, constataremos que aquelas são “fichinhas” em relação às de hoje. E o Brasil, mesmo aos trancos e barrancos no âmbito da política, segue impávido.


(Escrito por Domingos Sávio Maximiano Roberto, em 15 de novembro de 2019).


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