sexta-feira, 15 de novembro de 2019

DIA DA REPÚBLICA






Há exatos 130 anos, foi proclamada a República brasileira. Uma quartelada que deu certo. Como tudo no Brasil, um dos poucos países do mundo em que as coisas acontecem sem que a população participe e, no mais das vezes, sequer tome conhecimento, foi assim também com a ruptura que derrubou a monarquia e instalou o regime republicano. É certo que já existiam movimentos que exigiam a queda do imperador Dom Pedro II. O Partido Republicano se manifestava nas ruas e no Parlamento já havia mais de 20 anos, porém, de forma pífia, pois, na composição do parlamento que dava sustentação ao regime monarquista, apenas dois deputados se faziam voz dissonante, representando o Partido Republicano; como vemos essa agremiação não reunia forças suficientes para promover uma mudança dessa natureza, uma vez não comportar adesões nos meios políticos, tampouco participação popular. O que provocou mesmo a mudança foram fatores outros, tanto os da conveniência da elite militar como os que atendiam a motivos particulares. O caldo de cultura para a proclamação do novo regime foi, sem dúvida, gerado pela Abolição da Escravatura – que desagradou sobremaneira aos “barões” do império ao se verem privados da exploração da mão de obra escrava -, somado ao natural afadigamento do Poder Moderador que era exercido por um imperador senil que já não tinha mais muita vontade de governar. Somado a isso, considera-se também a perspectiva de o poder ser exercido pela filha de Dom Pedro II, a princesa Isabel, que era casada com o não muito simpático francês conde D’Eu.

A gota d’água

A gota d’água que fez entornar o copo das insatisfações foi a nomeação do primeiro ministro, Gaspar Silveira Martins, desafeto do marechal Deodoro da Fonseca (inimigos por haverem, no passado, disputado o amor da mesma mulher). Com isso, instigado pelos republicanos, Quintino Bocaiúva e Benjamin Constant, o marechal, que era monarquista e se dizia amigo do imperador, animado com a perspectiva de virar presidente, proclamou a República sem que uma só pessoa do meio popular tivesse conhecimento do que estava acontecendo. Na verdade, isso não causa surpresa, pois, o Brasil não foge à regra quando o caso se trata de participação popular. A nossa cultura sempre atestou que deixamos as coisas acontecerem “normalmente” sem provocá-las ou delas participar. Foi assim com o Descobrimento, que aconteceu por acaso; com a Independência que foi forçada pelas gestões domésticas da imperatriz Leopoldina instigada por José Bonifácio; com a Revolução de 1930, que teve o dedo de Princesa quando provocou a rebeldia que terminou dando cabo da vida do então presidente paraibano, João Pessoa, o que se transformou no estopim que fez eclodir aquela Revolução; com o golpe militar que, da noite pro dia mudou tudo sem que povo tivesse também conhecimento e, por fim, com o restabelecimento da democracia, fruto da habilidade de Tancredo Neves que se submeteu ao famigerado Colégio Eleitoral e foi ungido presidente, destronando os militares e suas vontades do poder. Taí uma República que se faz mais que centenária e que faz lembrar aos que conhecem a história, que o Poder Moderador ainda hoje nos traz saudades.


(Escrito por Domingos Sávio Maximiano Roberto, em 15 de novembro de 2019).

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