sexta-feira, 1 de novembro de 2019

HOMENAGEM A “SEU MUSA”





COSMO era seu nome. Chegou a Princesa aos dezessete anos de idade, vindo do Recife em cima de uma carga de mercadorias que haviam sido trocadas por algodão levado daqui. Chegou, gostou e ficou. “Seu Musa”, como era conhecido por todos, era figura popular nas ruas de Princesa. O preto velho, analfabeto, humilde, respeitador e muito trabalhador, viveu entre nós por mais de sessenta anos. Solteiro, vivia sozinho, tão sozinho que o então prefeito Gonzaga Bento mandou mensagem à Câmara Municipal pedindo autorização para que a prefeitura doasse uma casinha para “Seu Musa” morar. Aprovada por unanimidade, essa proposta virou realidade. Viveu o preto na casinha que lhe foi dada para usufruto e, quando morreu, esse bem retornou à municipalidade, pois, Musa não tinha herdeiros. Era filho de Princesa e pai de ninguém. Segundo o próprio, seus pais haviam nascido ainda escravizados.

Homenagem

Essa homenagem, mesmo que tardia, vale muito uma vez termos certeza de que “Seu Musa” ainda mora na memória de muitos dos princesenses que têm mais de quarenta anos. É um patrimônio cultural de Princesa e por isso merecido desta homenagem que não é somente minha, mas, de todos os que o conheceram. Sentado a uma das portas da loja de Miguel Rodrigues estava sempre, o preto velho, a ser cumprimentado e a cumprimentar a todos, quando dizia: “Sim sinhô, coloquei”. Era assim que ele falava querendo dizer: “Sim senhor, tudo ok”. Além da força física necessária para o ofício de “cabeceiro” tinha, “Seu Musa”, força maior ainda que era a força moral, uma vez jamais haver sido registrado ato que desabonasse o comportamento daquele desvalido.

O fim

O nosso Cosmo “não sei de quê”, faleceu em Princesa no início dos anos 90 e, no seu sepultamento, além de Geraldo Rodrigues, somente mais uns quatro ou cinco pés de pessoas. Mesmo assim, para Princesa, “Seu Musa” - que hoje é nome de uma das ruas da cidade -, nunca será esquecido, pois, mesmo humilde em sua longa existência em nosso meio, jamais será lembrado como um anônimo. Viva “Seu Musa!”.


(Escrito por Domingos Sávio Maximiano Roberto, em 02 de novembro de 2019).

5 comentários:

  1. Com quantos anos faleceu o Seu Musa?

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  2. Eu o conheci,parabéns Dominguinhos bela homenagem.
    Bravoooooo

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  3. Merecida homenagem, valeu Dominguinhos pelo resgate.

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  4. “Seu Musa”, este foi bravo
    Sempre vagou por aí,
    Descendente de escravos
    Também viveu por aqui,
    Sem leitura, sem esquema
    Foi órfão desse sistema
    Foi guerreiro de Zumbi.

    "Estrofe do cordel Ilustres Anônimos da Minha Terra" de Rena Bezerra

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  5. Corrigindo! Seu Musa não morreu na década de 90, já foi no anos de 2000 e alguma coisa. O velório dele estava: Jandui e sua esposa, Quiterinha de Telô, Daiana de Toinho de Gino, Marcos de Chata, Ramaiana de Pai Véi, Gilberto de Carminha, Leda Macaxeira, os Filhos de Socorro de Ilario. Ficamos até as 6 da manhã e em seguida ouve o enterro e realmente com bem poucas pessoas.

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