segunda-feira, 23 de março de 2020

90 ANOS DA GUERRA DE PRINCESA: CRONOLOGIA DE UM CONFLITO A TOMADA DE PATOS




22 de março de 1930. Com o intuito de ocupar Princesa, o contingente da polícia paraibana se dividiu em três colunas. A Coluna Leste, comandada pelo capitão João Costa, que a essa altura já se encontrava nas imediações do povoado de Tavares; a Coluna Norte, sob o comando do tenente Irineu Rangel e a Coluna Oeste, capitaneada pelo tenente Ascendino Feitosa. Esta coluna, constituída de cerca de 400 praças, que partiu do povoado de Olho D’água, município de Piancó – onde se instalara o Comando Geral da Polícia -, em direção a Princesa, já se encontrava estacionada no povoado de Alagoa Nova (atual Manaíra)aonde chegou de assalto e ocupou aquela povoação sem nenhuma resistência por parte da população. Ali, sob o comando do comerciante Cícero Bezerra, estavam 100 homens sob seu comando que resistindo à invasão da polícia, foram logo vencidos e recuados para o lugar chamado “Cajueiro”. A luta, que durou cerca de 30 horas, foi por demais desigual. A polícia, sob o comando do capitão Irineu Rangel, acompanhado dos oficias: Nonato, José Maurício, Manoel Benício, capitão Benjamin, tenente Antônio Pereira e sargento Clementino Quelé, lutava com um contingente de 400 homens contra apenas 100 do lado do coronel. Desse embate, resultaram 15 mortes do lado da polícia e 03 do lado dos homens de Princesa. De ambos os lados, foram muitos os feridos. Essa desigualdade, que resultou na derrota dos chamados “Libertadores de Princesa”, deu-se pelo fato de que a maioria dos homens, em armas, de José Pereira, se encontrava concentrada na sede do município e, grande parte deles, nas imediações do povoado de Tavares que, naquele momento se via ameaçado de invasão pela polícia vinda de Imaculada. Na verdade, as duas únicas posições importantes conquistadas pela polícia durante o conflito, foi a tomada dos povoados de Alagoa Nova e de Tavares. Neste último, a polícia, mesmo cercada, firmou posição. Em Alagoa Nova, a permanência do contingente policial tornou-se inócua quando da derrota imposta à polícia pelos homens de Zé Pereira.

O assalto a Patos

Sabedor de que, grande parte dos suprimentos de armas, munições e víveres, - vindos do Recife -, que abasteciam as tropas do coronel, entravam em Princesa através da fronteira pernambucana via o povoado de Patos, o tenente Ascendino Feitosa solicitou e obteve autorização do Comando Geral, para empreender ataque àquele povoado para uma tomada de posição bastante estratégica. Nesse dia 22, logo cedo da manhã, 60 homens da polícia, comandados pelo tenente Nonato e pelo sargento Clementino Quelé, saíram de Alagoa Nova e marcharam sobre o povoado de Patos (Irerê), distante 12 quilômetros,onde não encontraram nenhuma resistência uma vez estarem os homens do lugar quase todos no front do leste em defesa de Tavares. A polícia logo ocupou todo o arruado fazendo prisioneiras três senhoras decentes (as esposas de Marcolino Florentino Diniz, Luiz do Triângulo e Sinhô Salviano) daquele povoado. Além da ocupação, a polícia bombardeou, com dinamite, as casas de Marcolino Diniz, de Joaquim Antas e do major Florentino Diniz. Frente a esse inesperado ataque, no dia seguinte (23/03), Sinhô Salviano arregimentou alguns parentes e homens da roça, chegando ao número de aproximadamente 80, e atacou a polícia que teve de fugir para o casarão do major Florentino Rodrigues Diniz (Major Floro).

A reação do coronel

Sabedor do ataque ao povoado de Patos, o coronel Zé Pereira mobilizou 200 homens para a retomada do lugar. Nesse ínterim o sargento Clementino Quelé enviou um bilhete ao Delegado Geral do Estado, Severino Procópio, que se encontrava em Piancó, informando que marcharia - com as mulheres reféns à frente -, sobre Princesa. O soldado que conduzia o bilhete foi capturado pelos homens do coronel e, tomando conhecimento do intento de Quelé, Zé Pereira, irado com a ousadia do sargento, e já com 200 homens mobilizados, determinou que, sob o comando de Marcolino Diniz (o “Caboclo Marcolino”),invadissem Patos imediatamente e resgatassem as mulheres vivas ou mortas, acrescentando: “Eu não me entregaria à polícia nem que minha mãe viesse à frente da tropa!”. O contingente de homens partiu para o povoado e, lá chegando, travou-se violento tiroteio entre os homens de Zé Pereira e a polícia, a essa altura sitiada no casarão do major Floro. A luta começou às 08 horas da manhã e estendeu-se até às 17 horas. Após esse longo tiroteio, a polícia exaurida e sem munições, ameaçada de ser atacada por armas brancas pelo inimigo, fugiu para o vizinho estado de Pernambuco. O resultado desse combate em que os comandados pelo coronel saíram vitoriosos deixou um saldo de dois mortos e três feridos do lado do coronel e de 26 mortos e vários feridos do lado da polícia. As três mulheres foram libertadas ilesas.


(ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 22 DE MARÇO DE 2020).

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