quarta-feira, 20 de maio de 2020

90 ANOS DA GUERRA DE PRINCESA – CRONOLOGIA DE UM CONFLITO REPERCUSSÃO NO BRASIL E NO MUNDO





A Guerra de Princesa foi o principal evento bélico ocorrido na Paraíba. A guerra civil que durou longos cinco meses, envolvendo a polícia da Paraíba e homens arregimentados pelo coronel José Pereira Lima para defender Princesa, ocorreu no  sertão da Paraíba entre os meses de fevereiro e agosto de 1930. Esse movimento, em que pese estar registrado em quase todos os livros que tratam da história contemporânea do Brasil, tem tido pouca divulgação. Isso por conta do que é por todos sabido, que a história normalmente é contada pelos vencedores. Zé Pereira perdeu algumas batalhas, mas mesmo não permitindo que a polícia paraibana invadisse Princesa, perdeu a guerra quando da eclosão da Revolução de 1930. Para não ser preso e humilhado, teve de fugir errante pelo interior do Nordeste brasileiro, somente retornando ao burgo princesense quando da anistia concedida por Getúlio Vargas , em 1934. Passados 90 anos daquele conflito, até hoje, quase nada foi escrito de forma detalhada e explicativa sobre a Guerra de Princesa. Não existe uma biografia do coronel José Pereira, aquele que foi um dos principais protagonistas daquele momento histórico. Não temo dizer que Princesa foi a chama que acendeu o estopim que provocou o estouro da Revolução de 1930, movimento renovador que extinguiu a Velha República e, com todos os seus defeitos e vícios, imprimiu uma nova forma de governar o país.

Importância do movimento

Rompido o coronel José Pereira com o presidente da Paraíba, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, após a invasão de Teixeira, às vésperas da eleição presidencial de 1º de março de 1930, foi deflagrado o conflito que reverberou por quase todo o sertão paraibano. Apoiado pelos primos do presidente paraibano, os empresários da indústria pernambucana, os Pessoa de Queiroz, o coronal declarou guerra ao governador da Paraíba, manteve quase 2.000 homens em armas, enfrentou a força policial paraibana e não permitiu a invasão da cidadela rebelada. Logo no início da guerra, Zé Pereira expediu um manifesto que foi lido no Senado Federal, que dizia em seu fecho: “Princeza poderá ser massacrada, mas não se há de render!”. Discursos vários foram proferidos da tribuna da Câmara Federal e do Senado da República. Os deputados que formavam a bancada da Aliança Liberal, tanto os da Paraíba quanto os do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, não perdiam oportunidade de denunciar nas duas Casas Legislativas, o apoio tácito ou as vistas grossas do presidente da República, Washington Luís, em prol do movimento rebelde de Princesa. Em contrapartida, os deputados perrepistas pediam a intervenção no estado da Paraíba com o pretexto do restabelecimento da ordem. Após a eleição de 1º de março, os deputados eleitos pela Aliança Liberal, foram todos cassados em seus mandatos pela famigerada Comissão Verificadora, sendo empossados os candidatos que tinham o apoio do palácio do Catete. Esses deputados ficaram sendo chamados e conhecidos por todo o país como “Os Deputados de Princesa”.

Repercussão internacional

Quando se trata da Revolução de 30, historiador nenhum se furta de constar em seus escritos os fatos ocorridos no município de Princesa naquele período, o que vem sendoreproduzido em quase todos os compêndios de História do Brasil e livros didáticos já publicados no país. Como prova da significante importância da terra princesense, até no âmbito internacional transcrevemos aqui, artigo publicado no jornal americano “Time de Chicago” que noticia fatos ocorridos em Princesa em 1930: 
“Parahyba is heavily Liberal, but the Brazilian Federal government and most of the rest of Brazil’s state governments are and will continue for the next four years to be Conservative Republican. Five-and-a-half months ago one José Pereira, hotheaded Republican state deputy in the Parahyba legislature, complained that sufficiently rich political plums were not falling into his lap, retired to his bailiwick, the mountainous city of Princesa on the Parahyba-Pernambuco frontier, and declared that Princesa and its surroundings were a new independent Brazilian state responsible only to the Federal government.” Em tradução livre o Jornal divulgou que “A Paraíba é profundamente Liberal, mas o Governo Federal Brasileiro e a maioria dos Governos Estaduais do Brasil são e continuarão sendo, pelos próximos quatro anos, Republicanos Conservadores. Cinco meses e meio atrás, José Pereira, um impetuoso deputado estadual da Paraíba, lamentou que almejadas tarefas políticas suficientemente valorosas não estavamsurgindo; afastou-se, assim, de suas funções na montanhosa cidade de Princesa, na fronteira Paraíba-Pernambuco, e declarou que Princesa e adjacências eram um novo estado brasileiro independente submetido apenas ao Governo Federal.” 
    Como vemos, até nos Estados Unidos da América, a nossa terrinha foi notícia numa reportagem em referência aos fatos da Guerra de 30. Pouquíssimas cidades do porte de Princesa tiveram esse privilégio. Até uma produção clássica da música popular brasileira, composta por Humberto Teixeira e cantada pelo “Rei do Baião”, Luiz Gonzaga, trata de Princesa com especialidade: “Êita pau Pereira que em Princesa já roncou... Êita Paraíba mulher macho sim sinhô! Segundo o historiador paraibano José Joffily, em suas palavras: “O inusitado episódio de Princesa teria de repercutir no exterior de forma pitoresca.”Em reportagem veiculada pelo prestigiosojornal americano, The Timetemos o que foi reproduzidono livro: “Revolta e Revolução”, do historiador acimaassinalado

“Time – August 11, 1930 – p. 28 – Foreign News Brazil, Pereira, Pessoa, Parahyba: ‘If a bellicose Republican boss should arise in upper New York State, dely Democratic Governor Roosevelt and attempt to make a 49th state out of the environs of Poughkeepsie, the Federal Government and the U.S. Army would doubtless give him short shrift.But things are different in Brazil’”. Em livre tradução: Se um chefe republicano rebelado tentasse se levantar ao norte do Estado de Nova Iorque para combater o governador democrata Roosevelt e procurasse formar um 49º Estado fora dos arredores de Poughkeepsie, o Governo Federal e o Exército americano lhe dariam, sem dúvida, imediato xeque-mate. Mas as coisas são diferentes no Brasil.”.

Além dessas publicações internacionais, durante o conflito, todos os principais jornais do Brasil publicavam matérias, quase que diariamente, sobre o desenrolar da guerra civil paraibana. O jornal “O Estado de São Paulo”, em sua edição de 27 de março de 1930, estampa, na primeira página, a seguinte manchete: “A Parahyba Conflagrada – Mil e quinhentos policiaes apertam o cerco de Princeza que está bem defendida pelos sertanejos”. Os jornais: “A Tarde” de Salvador/BA e “Correio da Manhã”, do Rio de Janeiro, davam conta, diariamente, das posições da guerrilha princesense. Outros Jornais importantes, tais quais: “O Globo”; “A Folha de São Paulo”, dentre outros, repercutiram também com ênfase o desenrolar dos acontecimentos na cidadela rebelada. A Guerra de Princesa foi, sem dúvida, um evento por demais importante na historiografia nacional e que necessita, mesmo 90 anos depois, ser rememorada e resgatada para melhor conhecimento, uma vez haver sido aqui onde começou a Revolução de 1930.


(ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 20 DE MAIO DE 2020).

2 comentários:

  1. Agradeço as referências feitas a vôvô José Pereira.Creio que o memorial Pereira Lima, irá corresponder as nossas melhores expectativas e ser razão de orgulho para nossa querida Princesa e a sua brava gente. A obra está praticamente pronta,faltando alguns ajustes técnicos para sua abertura.Boa noite

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  2. Agradeço as referências feitas a vôvô José Pereira.Creio que o memorial Pereira Lima, irá corresponder as nossas melhores expectativas e ser razão de orgulho para nossa querida Princesa e a sua brava gente. A obra está praticamente pronta,faltando alguns ajustes técnicos para sua abertura.Boa noite

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