terça-feira, 19 de maio de 2020

AS MOÇAS VELHAS DE PRINCESA






Por mais paradoxal que pareça o termo “Moça Velha” existiu. Era usado no interior do Nordeste para designar as virgens, fossem elas jovens ou velhas. Nesse caso específico, a palavra “moça”, significava “virgem”. Por isso, até as velhas solteironas era chamadas de moças: moças-velhas. Em Princesa, isso foi quase uma instituição. Havia famílias que eram pródigas em produzir solteironas. Na maioria dos casos, essas moças se dedicavam, além das prendas domésticas, às coisas da igreja como cantoras, ornamentadoras, catequistas e a grande maioria delas pertencia à associação religiosa - que só permitia a congregação de moças solteiras e virgens -, chamada “Pia União das Filhas de Maria”. Algumas dessas moças-velhas, membros de famílias ilustres de Princesa, se tornaram muito conhecidas. As “Borrego”, como eram chamadas as solteironas: Maria Adília, Quitéria, Tertuzinha, Adalzira e Clarice, eram irmãs e todas solteiras, algumas delas competentes professoras. As “Marrocos”: Dorothéa, Arethuza, Lede Claire e Doralice, das quatro irmãs, somente Arethuza casou-se já em idade avançada; eram professoras, catequistas, artesãs e cantoras da igreja. Zefa, Joaninha e Hosana Maximiano, minhas primas, eram primas entre si e moravam juntas, a última casou-se já idosa. As “Marreta”: Chiquita, Anita e Lourdinha eram professoras e também nunca se casaram. No sítio Laje, de Princesa, havia uma casa que abrigava três moças-velhas e um rapaz-velho: Ana, Quitéria, Zefa e Joaquim, todos viviam da agricultura. Outra casa de primas minhas era também celeiro de solteironas: Chiquinha, Tatá, Celeide e os irmãos João e Francisco, todos solteiros e, em sua maioria, ainda vivosAinda em menor quantidade, existiam outras solteironas famosas: Bebé e Teté, residentes na Rua do Cancão e ambas altíssimas; Domitília e Francisquinha, primas do coronel Zé Pereira, que eram vizinhas das também solteironas,Carminha e Sitônia, irmãs do ex-prefeito Zacharias Sitônio; Eurides e Berenice (Papoula), oriundas de Patos de Irerê; Cleonice, irmã do rapaz-velho José Góis e Alice Maia e sua irmã Quina, a primeira, uma das principais professoras de Princesa, uma legenda da nossa história educacionalEssa figura da moça-velha se apresentava também de maneira solo. Antônia Gastão, oriunda da vizinha cidade pernambucana de Triunfo, veio residir em Princesa e aqui funcionava como estilista e vendedora de roupas finas além de exercer o ofício de cantora da igreja. Duas moças-velhas tinham comportamento peculiar, era Maria Sérgio Diniz, mais conhecida por “Tatá” e dona Nina Marrocos que, mesmo sem haverem feito os votos de castidade, vestiam-se ambas como se fossem freiras e viviam completamente dedicadas às coisas da igreja católica. A solteirice dessas mulheres, muitas vezes se devia ao rigor imposto pelos pais ou irmãos que lhes proibiam de namorar. Como eram todas de famílias decentes, a maioria delas mantinham-se contritas e virgens até o fim da vida. O hímen era seu troféu. Naquele tempo, ser moça-velha era uma virtude por todos admirada e respeitada. Hoje, o termo caiu em completo desuso, pois, a partir dos quinze anos de idade, as meninas já começam a ter vida sexual ativa, o casamento foi banalizado e o prazer, que era restrito aos rapazes, hoje é naturalmente extensivo às moças também, por isso, elas não ficam mais velhas, mas sim usadas.


(ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 19 DE MAIO DE 2020).

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