terça-feira, 21 de julho de 2020

90 ANOS DA GUERRA DE PRINCESA – CRONOLOGIA DE UM CONFLITO PRINCESA DURANTE A GUERRA





O coronel José Pereira Lima, tinha cerca de 2000 mil homens mobilizados, durante a Guerra de Princesa. 800 deles em luta, nos fronts do conflito e o restante estacionados na cidade à espera de convocação ou dando segurança aos chefes da rebelião. As lutas se desenvolviam em alguns pontos do município. No Distrito de Tavares, estavam mais ou menos 200 homens garantindo o sítio àquele arruado, quando mantinham encurralados os integrantes da Coluna Leste da polícia paraibana, comandados pelo capitão João Costa. Em Alagoa Nova (atual Manaíra), cerca de 150 homens, sob a égide do tenente Ascendino Feitosa, comandante da Coluna Oeste, lutavam com as forças da Paraíbaentre aquele Distrito e o sítio Cajueiro. A Coluna Norte, liderada pelo capitão Irineu Rangel, partindo de Piancó, subindo em busca de Princesa, teve várias escaramuças com os cerca de 150 Libertadores de Princesa, em Manguenza, Nova Olinda e Santana. Foi formada também a Coluna Sul, que teve negada, pelo governador Estácio Coimbra, sua incursão pelo vizinho estado de Pernambuco. Os demais homens de Zé Pereira, em armas, se espalhavam por quase todo o sertão paraibano, ocupando pequenos Distritos e Povoados e oferecendo emboscadas à polícia da Paraíba. 

Organização perfeita

Enquanto os comandados do presidente João Pessoa, lutavam com grandes dificuldades, os lutadores de Princesa obedeciam a rigorosa disciplina e, em que pese não existir nenhum estrategista profissional a orientá-los, suas ações eram muito bem coordenadas e, quase sempre, cumuladas de êxito. Além disso, tudo funcionava de forma organizada. Como bem disse o escritor paraibano, João Lelis de Luna Freire, em seu livro: A Campanha de Princesa, O suprimento de munições “de boca” e “de embornais” dos cabras do Coronel, era feito de forma perfeita. O abastecimento de munições e de armas era feito pelo marceneiro, Cícero Marrocos que, além de distribuir o material em todas as frentes de lutas, realizava também os consertos necessários nos equipamentos danificados. Já o abastecimento de suprimentos alimentares (“munições de boca”), era feito através do trabalho coordenado por Filadelfo (Fila), auxiliado pelos companheiros, Joaquim Gomes e Lino Tenório, o que faziam com rapidez, distribuindo por todas as frentes os víveres carregados em lombos de animais. Esses alimentos se constituíam, principalmente, de carne seca, farinha de mandioca, rapadura e, em algumas remessas, até bacalhau e queijo, constavam do cardápio. O pagamento dos Libertadores de Princesa era feito sem atraso. O tesoureiro da campanha era o japonês, Eije Kumamoto, que se deslocava de Princesa até Rio Branco (atual Arcoverde) para recolher, na estação do trem que vinha do Recife, os malotes contidos de dinheiro em espécie, que eram enviados pelos amigos de Zé Pereira (Pessoa de Queiroz e outros), fruto do recolhimento feito entre eles, na Capital pernambucana,e entre alguns simpatizantes da luta em São Paulo e no Rio de janeiro. De posse do numerário, o tesoureiro percorria os vários fronts e efetuava os pagamentos de forma individual. Aos casados, 20 mil reis e, aos solteiros, 10 mil reis.

O cotidiano em Princesa

Durante a ocorrência da Guerra de Princesa, na Capital do Território Livre, sob o olhar atento do coronel José Pereira, a população que não se transferiu para as cidades pernambucanas de Triunfo ou Flores, levava vida normal. Reuniões constantes eram realizadas, lideradas pelo Coronel, chefe do Estado Maior dos rebeldes. Saraus musicais e literários aconteciam nas residências das ilustres lideranças do município. Missas solenes, em ação de graças, eram rezadas pelo padre Floro, sempre que chegava a notícia de uma vitória dos Libertadores de Princesa. Bailes eram oferecidos aos integrantes da sociedade, enquanto a ralé, se contentava com os “Bolos Doces” (danças ao som de sanfoneiros e zabumbas, quaconteciam em salões da periferia da cidade). O Teatro “Pereira Lima” encenava peças com frequência e, o Cinema de “Ferreirão”, exibia fitas duas vezes por semana. Funcionava também, a todo vapor, o Cabaré da cidade que, à época, era localizado na atual Rua Conrado Rosas. Aos domingos, o Coronel mandava que a Banda de Música fizesse retretas pelas principais ruas da cidade. Princesa vivia numa festa constante. Só se encontrava tristeza no Cemitério, quando chegavam os mortos para serem sepultados ou no Hospital de Sangue - que funcionava no “Palacete dos Pereira” -, onde eram socorridos e tratados os feridos nos campos de batalha.

Estratégias de luta

Como vimos acima, o Coronel fazia questão de que tudo funcionasse a contento. Zé Pereira não admitia falhas nas ações bélicas. Para tanto, contava com um eficiente serviço de espionagem que, pela sofisticação, sempre deu bons resultados. A principal fonte que abastecia os rebeldes de Princesa, de informações privilegiadas, era o serviço federal de telegrafia, que funcionava na Capital paraibana. Ali, o Coronel tinha informantes que lhe davam conta de toda a movimentação do Comando Geral da polícia do presidente João Pessoa. Em Piancó, onde funcionava o Estado Maior da Força Pública da Paraíba, comandado pelo Secretário de Segurança Pública, José Américo de Almeida, o funcionário público, chefe da Mesa de Renda daquela cidade, Joaquim Sérgio Diniz, colhia as informações sobre o movimento das tropas estacionadas em Piancó e comunicava, através de cartas, ao coronel José Pereira na Capital do Território Livre. Enquanto tudo funcionava redondo para os rebeldes de Princesa, o que se verificava, do lado da polícia, eram deserções, falta de munição, equipamentos danificados e desânimo total da tropa combatente. Conforme escreveu o escritor princesense, Paulo Mariano, em seu livro: Princesa - Antes e depois de 30, p.p.130, o jornalista dos Diários Associados, do Rio de Janeiro, Victor do Espírito Santo, que esteve em Princesa durante a luta e depois visitou o centro de operações da Polícia em Piancó, escreveu:

“O reduto rebelde surpreendeu-me por sua organização e pelo espírito combativo, ao passo que do outro lado tudo era sinal de derrota. Seguro da vitória, José Pereira já tinha estudado seus planos de ataque a Patos, a Piancó e a capital do Estado”.

O então jornalista e futuro presidente da República, João Café Filho, em seu livro: Do Sindicato ao Catete, escreveu:

“(...) Em minhas andanças pelo interior do Estado, fui a Piancó em companhia de Victor do Espírito Santo, que como representante dos “Diários Associados”, estivera em Princesa, fazendo uma reportagem. Em Piancó, concentrava-se o grosso das tropas paraibanas. Juntos, Victor do Espírito Santo e eu, contamos a João Pessoa a situação real, que observáramos de perto. Era uma situação de pânico, de fadiga e de debandada. As tropas da Foça Pública da Paraíba lutavam amedrontadas e, sempre que podiam, escapavam à luta, largando as posições de combate e se recusando a enfrentar o inimigo. Os contingentes mandados para suprir esses claros, em pouco tempo se deixavam impregnar do mesmo pavor. João Pessoa, que tudo ignorava – pois os amigos não ousavam dar-lhes um testemunho verdadeiro – encheu-se de cólera e determinou ao chefe de polícia, Ademar Vidal: Não poupe ninguém. Se for preciso mande incendiar as propriedades dos adversários! De todos os adversários, que estão colaborando com os revoltosos de Princesa. Ademar, prudente e hábil, não cumpriu a ordem desesperada do governador (...)”

Era essa a situação da polícia naquela luta inglória que, não fora o trágico assassinato do presidente João Pessoa, o desfecho, certamente, seria nefasto para os integrantes da Força Pública. Como é sabido, durante os longos cinco meses em que durou o conflito, a polícia da Paraíba jamais conseguiu atacar ou ocupar a Capital do Território Livre de Princesa.

DSMR, EM 21 DE JULHO DE 2020.

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