sábado, 5 de setembro de 2020

REISADO DO AVIÃO DE ZÉ PEREIRA

 


 

Por Junior Almeida

 

No episódio histórico que ficou conhecido como “A revolta de Princesa”, estopim da revolução de 1930, conta-se de que Zé Américo, comandante da Força na capital paraibana arranjou um avião para bombardear a terra do Coronel Zé Pereira, potentado chefe revoltoso. Porém, ao invés de bombas, como todo mundo esperava, o teco-teco do Governo vinha carregado de panfletos que foram jogados sobre Princesa Izabel, conclamando o povo à rendição.

 

Os cabras de Zé Pereira, entrincheirados pra guerra, correram pro meio da rua disparando suas armas tentando atingir a aeronave. Major Feliciano, homem, alvo, de grande estatura e aparentado com o chefe político de Princesa, foi um dos homens que atiraram contra o avião e, por coincidência no exato momento em que os papéis começaram a voar sobre acidade. Como avião naquela área e naquele tempo era novidade, Feliciano, em tom de gabolice disparou:

 

Não matei, mas tirei as penas.

 

Como definiu Pinto do Monteiro, poeta é aquele que tira onde não tem e bota onde não cabe”, que do nada faz uma poesia, até mesmo o momento delicado da guerra de Princesa, foi inspiração para um artista, e um mestre de reisado criou uma peça alusiva ao episódio. O capoeirense Lula de Santo, grande poeta popular, me contou que os versos diziam assim:

 

Foi de manhã quando o avião passou

Nos ares ele pousou

Fazendo a separação

Jogou no chão um bocado de “papé”

Ninguém sabe pra que é 

Mas assustou o Sertão

 

Jogou no chão um bocado de “papé”

Ninguém sabe pra que é 

Mas assustou o Sertão...

 *Junior Almeida é pernambucano de Garanhuns e reside na vizinha Capoeiras. É historiador, membro do conselho do Cariri Cangaço, da ABLAC - Academia Brasileira de Letras e Arte do Cangaço e autor dos livros "A Volta do Rei do Cangaço", "Lampião, o Cangaço e Outros Fatos no Agreste Pernambucano" e "Capoeiras: Pessoas, Histórias e Causos".

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