quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

LER PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA

 



 

“A PARAÍBA NA PRIMEIRA REPÚBLICA”

OSWALDO TRIGUEIRO DE ALBUQUERQUE MELLO

 

A obra de Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello: “A PARAÍBA NA PRIMEIRA  REPÚBLICA”, lançada em primeira edição em 1934 e reeditada em 1982, é na verdade, um minucioso estudo sobre a Paraíba durante o período que vai de 1889 até 1930. Nesse magistral trabalho, o escritor, Oswaldo Trigueiro, contextualiza o movimento sedicioso de Princesa, discorrendo sobre o tema ao longo de sete capítulos (do VI ao XII), tratando dos antecedentes, dos fatos e sobre as consequências da Guerra de Princesa. A riqueza desse relato obriga àqueles que desejam saber da nossa história a não dispensarem o conhecimento dessa importante obra.

 

Sobre o coronel José Pereira Lima, Trigueiro pontua: “Ele era, sem dúvida, o líder municipal de maior prestígio, com atuação que se estendia a todo o mundo sertanejo. Responsável pela direção política de seu Município, ele era também deputado estadual e membro da Comissão Executiva do Partido. Além disso, atuava, ao menos aparentemente, na imprensa, como diretor político do ‘Correio da Manhã’”. Nessa especial atenção que a obra em tela dispensa à Revolta de Princesa, o autor relata sobre todos os fatos que provocaram a Guerra de Princesa, desde as perseguições do presidente João Pessoa Cavalcante de Albuquerque às lideranças sertanejas - principalmente ao coronel José Pereira -, até o definitivo rompimento, entre os dois, em fevereiro de 1930. Interessante observar comentário do autor sobre a influência do movimento bélico de Princesa, em relação à dinâmica da administração do presidente João Pessoa (1928/1930) e o desfecho trágico que provocou o movimento revolucionário de 1930, quando diz: “A luta de Princesa exauriu as disponibilidades do Tesouro e, o que foi pior, culminou na tragédia em que o Presidente perdeu a vida(...)” “(...) Assim, João Pessoa teve apenas um ano de administração tranquila, se é que assim se pode qualificar o período de reforma tributária, que colocou o presidente em veemente antagonismo com os poderosos e combativos parentes de Pernambuco”. De acordo com a dissertação de Trigueiro, quando se refere ao rompimento político de Zé Pereira – no que foi este acompanhado pelo ex-presidente João Suassuna e outros próceres partidários -, por motivo do lançamento da chapa excludente para a escolha dos representantes à Câmara Federal, fica patente a influência do movimento armado de Princesa em contributo para a eclosão da Revolução de 1930: “(...) Mas não era previsível que dela resultasse (da chapa), em coisa de dias ou horas, o episódio de Princesa, que lançou a Paraíba na luta civil e tanto concorreu para a inevitabilidade da Revolução”. Às páginas 111 e 114, o escritor realça o alto conceito que tinha, o ex-presidente Epitácio Pessoa, com relação à figura do coronel José Pereira: “Há muitos anos que os elementos políticos daquele município obedecem à direção exclusiva do coronel José Pereira, cidadão abastado, inteligente e culto (...)” “(...) Citado sempre por mim como protótipo de devotamento e lealdade (...)”.

 

Considerando o périplo do presidente João Pessoa, em campanha eleitoral, a Princesa, como “um dos episódios mais curiosos da nossa crônica política”, Oswaldo Trigueiro afirma que aquela viagem, não programada e de supetão, está até hoje envolvida em enigmas que não foram ainda desvendados, quando questiona os propósitos e as intenções do presidente, em visitar um correligionário que já se sabia, conspirava contra ele. Afirma também, o autor, contrariando vários historiadores, que o primeiro tiro, na Revolta de Princesa, não foi disparado pelos homens de Zé Pereira, mas sim pelos da polícia da Paraíba. Na qualidade de importante estudioso da história paraibana, em especial ao que se refere àquele momento histórico que antecedeu o movimento revolucionário de 1930, Trigueiro tem a coragem de afirmar - o que muitos negam ou omitem -, a determinante participação e o papel importantíssimo de Princesa na eclosão da Revolução de 1930, quando diz: “Para a oposição paraibana, e particularmente para os Pessoa de Queiroz, não interessava uma intervenção (na Paraíba) que respeitasse o mandato de João Pessoa. Para a Aliança Liberal, a pacificação também não convinha, porque a luta de Princesa era o maior argumento em favor da Revolução que se preparava”.  

 

Com relação ao crime da Confeitaria Glória, Oswaldo Trigueiro não minimiza a conotação política do assassinato do presidente João Pessoa pelo advogado João Duarte Dantas. Admite que rixas antigas existiam entre os dois, porém, acentua: “(...) Os fatos acima resumidos (as rixas pessoais) não justificam o crime, mas explicam, como fruto de questão pessoal, embora derivada de causas originariamente políticas”.

 

Em face da intervenção militar em Princesa, perpetrada pelo Exército Brasileiro, por ordem do presidente da República, Washington Luís, o autor afirma: “(...) caso único na história da República – o governo de Washington Luís interveio na Paraíba a favor dos adversários, porque, na verdade, a intervenção se fez contra Princesa. O Exército, cumprindo ordens superiores, desarmou os insurretos e garantiu a entrada, no reduto de José Pereira da Polícia do Estado, que aí restabeleceu a normalidade administrativa”. Nesse caso, Trigueiro comete um equívoco. A intervenção do Exército em Princesa se deu de forma pacífica e perfeitamente assimilável pelo coronel José Pereira. Durante o período em que durou a intervenção, de meados de agosto ao início de outubro de 1930, a relação entre o coronel e os oficiais que ocupavam a cidadela rebelada, era das melhores possíveis e, quando da chegada da Polícia paraibana, o Exército protegeu e deu garantias ao coronel, a seus familiares e aos seus correligionários. Encerra o escritor, sobre Princesa: “Princesa, dentro de pouco tempo, passava a ser, de um lado e de outro, um tema de folclore e um florão na legenda da bravura sertaneja”.

 

O livro: “A PARAÍBA NA PRIMEIRA REPÚBLICA”, faz-se hoje leitura obrigatória para aqueles que querem conhecer o que verdadeiramente aconteceu, há 90 anos atrás, na Paraíba e em Princesa. Contido de informações preciosas, idôneas e despidas de facciosismo, que muitos deixaram de realçar porque não eram do agrado dos que venceram a contenda política quando da eclosão da Revolução de 1930, esse livro relegado ao esquecimento do leitor comum, pode agora ser considerado como um estudo de importância figadal para o entendimento da história da nossa terra.

 

Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello, advogado, professor, diplomata, jurista e político brasileiro. Foi governador do estado da Paraíba (1947/1950) e Procurador Geral da República (1964/1965). Nasceu em 02 de janeiro de 1905, na cidade paraibana de Alagoa Grande e faleceu em 30 de julho de 1989, na cidade do Rio de Janeiro. Além da importante obra de que tratamos aqui, Oswaldo Trigueiro produziu mais quatro trabalhos literários: “O Regime dos Estados na União Americana”, 285 páginas – Companhia Editora Americana – Rio de Janeiro – 1942; “A Descentralização Estadual” , 136 páginas – Companhia Editora Americana – Rio de Janeiro – 1943; “Problemas do Governo Democrático”, 340 páginas – Centro Gráfico do Senado Federal – Brasília – 1976 e “Direito Constitucional Estadual”, 331 páginas – Editora Forense – Rio de Janeiro – 1980.   

DSMR, em 17 de dezembro de 2020.

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