quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

LER PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA

 



REPÚBLICA DE PRINCESA – (JOSÉ PEREIRA X JOÃO PESSOA - 1930)

JOAQUIM INOJOSA

 

O livro República de Princesa, de autoria do jornalista pernambucano, Joaquim Inojosa de Andrade, foi lançado, em edição única, em 1980 pela Editora Civilização Brasileira, no Rio de Janeiro. Obra fundamental – talvez a mais completa sobre o assunto -, para o conhecimento, em detalhes, da guerra civil ocorrida em Princesa, na Paraíba, em 1930. É verdade que contida de alguma parcialidade, em face dos estreitos laços de amizade entre o escritor e o coronel José Pereira Lima. Mesmo dando ao escrito um tom bastante tendencioso em prol dos chamados “Libertadores de Princesa”, isso não prejudica a importância da obra, tampouco sua essencialidade para o entendimento daquele momento histórico e decisivo, quando a pequena cidade de Princesa se levantou em armas, rebelada contra o governo da Paraíba, se tornando independente do Estado e se autoproclamando “Território Livre de Princesa”.

Nesse trabalho literário, Joaquim Inojosa, na sua ótica de aliado do Coronel, conta a história completa. Mesmo com os vícios inerentes ao facciosismo, este é o segundo livro (depois da obra de José Gastão Cardoso: Heroica Resistência de Princesa, já resenhado por este Blog), numa sequência de várias publicações sobre o tema, desde 1930, que pinta um retrato favorável ao movimento sedicioso de Princesa. Como é praxe prevalecer a história contada pelos vencedores de uma guerra, nesse caso, em que não houve vencedores nem vencidos, o lançamento dessa obra fez-se necessário para, além de contar a história por quem foi testemunha ocular e ativista intelectual daquela Revolta, dirimir dúvidas e trazer à baila verdades omitidas pelos que escreveram a serviço dos chefes da vitoriosa Revolução de 1930.

Sem deixar de lado aspecto algum, Inojosa disserta sobre a efervescência política em que vivia o Brasil naquele ano de 1930, realça as graves insatisfações políticas geradas pelo novo governo da Paraíba, enfim, sobre tudo o que possibilitou a ocorrência do conflito. Em detalhes, o autor discorre sobre a assunção de João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque ao governo da Paraíba, quando em subversão à ordem vigente, agiu em prol do cerceamento do poder dos coronéis, em especial do coronel José Pereira de Princesa. Consta às páginas 13 do livro em tela, comentário bastante preconceituoso sobre o presidente da Paraíba:

“Ao assumir o governo da Paraíba, encontrou o sobrinho de Epitácio Pessoa (João Pessoa), um estado em ordem, política e administrativa, apenas perturbado por alguns problemas de natureza regional, comuns na vida provinciana brasileira. Com esta situação não se conformou o novo governador, pelo que tentou imprimir em tudo uma ordem nova, sem medir-lhe as consequências, ditada pelo seu temperamento contraditório, girando entre o tranquilo e o intempestivo. Não seria demasiado afirmar que algumas contradições das suas atitudes, pessoais ou políticas, resultasse, de uma tara familiar, sabido que um irmão e dois primos legítimos, morreram epilépticos”.

Com relação à importância do evento bélico (a Guerra de Princesa) e sua determinante contribuição para a eclosão da Revolução de 1930, o autor afirma:

“Qual a consequência mais importante da rebeldia de Princesa, para os destinos políticos do Brasil? Surge-nos imediata a resposta: A Revolução de 1930”.

Na verdade, Joaquim Inojosa era um expertise sobre a insurreição de Princesa e é mais um autor que escreve sobre aquele conturbado período, que atesta quanto à determinante contribuição daquele evento bélico para a eclosão do movimento revolucionário que pôs fim à República Velha. Nesse trabalho, Inojosa, reafirma que as ações de guerra promovidas pelo coronel José Pereira, foram em concerto com o presidente da República, Washington Luís, numa demonstração de que havia interesse do Governo Federal em manter a guerra. Como prova disso, alude o autor, em detalhes, sobre a proibição, pelo Governo Central, de o presidente João Pessoa importar armas e munições, enquanto o coronel José Pereira tinha quase mil homens em armas e com o poder de livre trânsito para adquirir munições nos grandes centros do país. Por fim, às páginas 22, o autor escreve sobre os motivos que fizeram culminar com o assassinato do presidente João Pessoa, pelo advogado João Dantas, numa conjuminância de fatores que, segundo ele, no mais das vezes, tiveram origem na Guerra de Princesa:

“Embora resultante de um desforço pessoal, vingança de brios ofendidos, o assassínio tivera as suas origens na guerrilha sertaneja. As raízes ali estavam: tortura de familiares em Piancó, cuja invasão (de Teixeira) fora confiada a um tenente da polícia ‘figadal inimigo’ de João Dantas; a expulsão deste da capital paraibana, onde residia e advogava; o arrombamento do seu cofre particular com a publicação da correspondência mais íntima; levando tudo isto João Dantas a duas decisões pessoais: colaborar intensamente com José Pereira na reação sertaneja contra os desmandos do presidente João Pessoa, e ajustar contas com este no primeiro encontro, o que aconteceu numa casa de chá do Recife, quando então o roble tombou para sempre”. “(...) até que se completasse em breve a sequência natural: Princesa + Confeitaria Glória = Revolução de 30”.

Ao longo das 329 páginas do livro, Inojosa disserta sobre a “Guerra Tributária”; “O Rompimento”; “O Território Livre de Princesa”; “A Luta”; “As duas Tragédias”. No último capítulo, um documentário onde o autor apresenta limitada iconografia e farto material informativo, tanto sobre a guerra civil (telegramas, cartas, artigos de jornais, etc.), quanto referente à Revolução de 1930. Na qualidade de então genro do industrial pernambucano, João Pessoa de Queiroz, que era primo e inimigo do presidente paraibano, Inojosa funcionou, durante a guerra, como importante auxiliar do coronel José Pereira, e foi o redator do Decreto que criou o “Território Livre de Princesa”.

Joaquim Inojosa de Andrade nasceu em 27 de março de 1901, na antiga vila de São Vicente, município de Timbaúba, estado de Pernambuco, hoje cidade de São Vicente Férrer, filho de João Inojosa de Albuquerque Andrade Lima e de Ninfa Pessoa de Albuquerque Vasconcelos. Formado advogado pela Faculdade de Direito do Recife (1923), estreou no jornalismo em 1917 e foi nomeado Promotor Público do Recife em 1923. Além deste livro, publicou quase trinta outras obras. Visitou São Paulo onde conheceu os promotores da “Semana de Arte Moderna” e trouxe para o Nordeste aquele movimento lítero-cultural, chegando ao ponto de influenciar intelectuais princesenses, na década de 1920, a fundarem, em Princesa, o “Grêmio Literário Joaquim Inojosa”, tornando-se Princesa, a única cidade do interior do Nordeste a aderir àquele importante movimento cultural.  

Sobre o autor, assinalou a Editora Civilização Brasileira:

“Tendo observado e até mesmo co-participado dos episódios de 1930 nas lutas que se travaram entre o líder sertanejo José Pereira e o Presidente da Paraíba João Pessoa, consideradas hoje em dia a causa mais próxima da revolução de 3 de outubro, presta neste livro República de Princesa vivo e amplo depoimento de tudo quanto pôde anotar, como valioso subsídio para os historiadores daqueles distantes acontecimentos”.

Sobre o livro, disse o crítico literário paraibano e professor de literatura da UFPB, Francelino Soares de Souza:

“(...) é obra de fundamental importância para os estudiosos dos fatos ocorridos então”.

É claro que essa resenha apenas aponta como guia para o conhecimento da história, uma vez que a concisão deste escrito não descortina a amplitude da obra. O livro de Joaquim Inojosa é, portanto, leitura obrigatória para aqueles que desejam conhecer a história de Princesa e partes importantes da história da Paraíba e do Brasil.

DSMR, em 30 de dezembro de 2020.

 

 

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