Foi assim que reagiu, o presidente Bolsonaro, irritadíssimo
em pronunciamento feito numa churrascaria de Brasília, com relação às notícias
divulgadas pela grande imprensa, de que o Poder Executivo federal dispendeu,
durante o ano de 2020, 21 milhões de reais com a compra de iogurte; 2 milhões
com a aquisição de chicletes; 15 milhões com latas de leite condensado, dentre
outras compras de itens considerados supérfluos. Bolsonaro disparou: “Enfia no rabo de vocês, da imprensa, essas
latas de leite condensado. Vão pra puta que pariu!”. Essa reação do
presidente não causa surpresa, uma vez sabermos todos do desequilíbrio
emocional do qual ele é portador. Na verdade, há um excesso por parte da
imprensa, quando realça essas despesas, imputando-as ao consumo do Palácio do
Planalto, o que não é verdade, pois, essas compras são feitas para atender às
necessidades de todo o Poder Executivo, incluindo aí, ministérios,
universidades, exército, etc.
É claro que se constitui um verdadeiro absurdo, o fato de que
o poder público, em tempos bicudos como o que vivemos, se deleite comprando
chicletes, iogurtes, leite condensado, dentre outros itens desnecessários e em
quantidades tão grandes. É desrespeitoso àqueles que ficarão agora sem o
Auxílio Emergencial e aos brasileiros que sofrem vivendo abaixo da linha da
pobreza. Mais desrespeitoso ainda é o presidente da República, chefe do poder
maior da Nação, descer do pedestal de magistrado e proferir descomposturas
usando termos chulos, ao invés de determinar averiguações para a apuração dos
fatos ou proibir essa prática. Mas, não, O presidente, além do discurso
pornográfico, justificou a prática, dizendo que a presidente Dilma Rousseff, em
2014, comprou mais leite condensado do que ele.
Esse comportamento inadequado do presidente faz-nos lembrar
de tempos passados. José Sarney (1985/1990), talvez tenha sido o presidente
mais fustigado pela grande imprensa, mas suportou todos os ataques com
dignidade. Nas palavras do jornalista Florestan Fernandes Júnior, adversário
ferrenho de Sarney: “Na véspera de passar
a Presidência (...) Sarney foi à sala de imprensa do Palácio do Planalto e se
despediu de todos os jornalistas que lá estavam. Eu que tinha escrito contra o
seu governo, fiquei comovido e disse: ‘Presidente, podem dizer o que quiserem
do seu governo, menos que o senhor não tenha sido um democrata’”. Isso
demonstra que a liturgia do cargo de presidente não comporta excessos. A digna
superioridade de Sarney contrasta com a incapacidade do “mito” de conviver com
o contraditório. Falcão tem razão: mundiça é mundiça e pronto.
DSMR, em 28 de janeiro de 2021.
Nenhum comentário:
Postar um comentário