sábado, 20 de fevereiro de 2021

Neste dia em que é oficialmente inaugurado o "Memorial Pereira Lima", o bisneto de Zé Pereira e ex-prefeito Thiago Pereira, escreve sucinto texto sobre suas origens familiares.




 FAMÍLIA PEREIRA LIMA NA HISTÓRIA DE PRINCESA ISABEL

Por Thiago Pereira 

(bisneto de José Pereira Lima)


INTRODUÇÃO

O Coronel José Pereira Lima, de Princesa-PB, deve ter sido, sem dúvida, a pessoa de maior importância política e histórica da cidade, colocando, com as suas ações, este município nos livros de história do país. Sua relação com o desenvolvimento da cidade, sua ascensão política, sua personalidade diferenciada, sua coragem em enfrentar adversários poderosos, sua capacidade de construir amizades importantes, ajudaram a moldar o histórico personagem “José Pereira Lima” e o tornaram um dos homens mais influentes do Nordeste, no início do século 20. 

No entanto, José Pereira Lima, já nasceu sem preocupações financeiras. Não teve que construir seu império econômico, pois herdou dos pais, Marcolino Pereira Lima e Águeda Carlos de Andrade, a grande maioria de seus bens, além, claro, de sua educação e de seu status social.

O grande historiador paraibano Celso Mariz cita, por exemplo, que conheceu José Pereira Lima através de seu pai, Marcolino, na cidade de Taperoá, em 1902. Nessa época José Pereira, apenas com 18 anos, era estudante de Direito em Recife-PE e o pai, o já influente e poderoso Coronel Marcolino Pereira Lima, exercia o mandato de deputado estadual junto a Assembleia Legislativa da Paraíba.

É importante ressaltar este contexto porque, apesar da imensa importância histórica do Coronel José Pereira Lima (especialmente no que se refere aos acontecimentos de 1930 no Brasil), o seu pai, Marcolino Pereira Lima foi, na verdade, a figura mais valorosa para o desenvolvimento da família, porque a levou do total anonimato, da extrema dificuldade financeira, para a riqueza e para uma respeitada posição social. Marcolino, de um simples agricultor em sua origem, tornou-se o possuidor do maior inventário de bens de Princesa, em 1905, ano da sua morte. 

Assim, não se pode falar na presença da extensa família Pereira Lima em Princesa antes de falar em Marcolino, seu grande construtor.  

        

COMO TUDO COMEÇOU

Marcolino nasceu em 1840, na cidade de São João do Rio do Peixe, Paraíba. De lá, juntamente com os seus pais Manoel Pereira Lima e Francisca de Araújo Lima, e devido às dificuldades financeiras, decidiu mudar-se, inicialmente, para o povoamento de São Francisco de Aguiar (hoje município de Aguiar-PB), e depois seguiu para Piancó-PB. Em Piancó a família se estabeleceu por um tempo maior e conquistou melhor condição social, tendo Marcolino, por exemplo, exercido a função de jurado, perante o Júri Popular, o que era considerado, na época, um posto importante.

Ainda em Piancó Marcolino adquiriu bens, como propriedades que utilizou para desenvolver criação de gado e atividades agrícolas, o que lhe trouxeram tranquilidade financeira. A família então decidiu mudar-se para uma nova propriedade, localizada próximo à cidade de Triunfo-PE. O nome da propriedade era Fazenda Enjeitado, e por isso o pai de Marcolino passou a ser conhecido na região por Manoel do Enjeitado.

Durante este período, quando residiam na Fazenda Enjeitado, a família realizava, além da atividade agropastoril, uma intensa relação com o comércio de Triunfo-PE. Também foi em Triunfo que Marcolino buscou melhor educação, para si (mesmo apesar da idade), e para toda a sua família. Marcolino sempre valorizou o estudo e, segundo cita o seu neto, Aloysio Pereira Lima, em seu livro autobiográfico, Marcolino “sempre procurou dar o melhor de sua assistência à família, inclusive produzindo meios para educá-la”. Aloysio Pereira ainda cita em seu livro que Marcolino “esforçou-se em bem criar os seus irmãos menores, matriculando-os em escolas e procurando instruí-los, fazendo o mesmo, inclusive, com os seus sobrinhos”. Marcolino tentou educar também os seus filhos, insistindo, especialmente para os filhos homens (como era costume na época), que os mesmos concluíssem o ensino superior, o que não foi possível, por diversos motivos. A própria morte de Marcolino, em 1905, por exemplo, foi o grande motivo que fez seu filho, José Pereira, desistir da formação em Direito (José Pereira cursava o 4º ano, em Recife-PE) para regressar à Princesa e assumir os negócios da família.


MARCOLINO EM PRINCESA

A chegada de Marcolino Pereira Lima na “Vila da Princeza” veio pela proximidade com Triunfo e pela estreita relação comercial e social entre as localidades. Marcolino desceu a serra e - quase que, por gravidade - passou a residir em Princesa e desenvolver-se social e economicamente.

Em Princesa, Marcolino Pereira Lima casou-se com Águeda Carlos de Andrade - procedente de importante família local - filha de Manoel Carlos de Andrade e Joaninha Carlos de Andrade, com quem teve dez filhos, que geraram uma grande descendência. Os filhos de Marcolino e Águeda são – pela ordem: Maria Augusta, Marcolino Pereira Lima Filho, Francisca Maria Pereira Lima, Porcina Pereira Lima, José Pereira Lima, Joana Pereira Lima, Manoel Carlos Pereira Lima, Antônio Pereira Lima, Alexandrina Pereira Lima e Águeda Pereira Lima.

Marcolino exerceu grande influência política em Princesa, assumindo cargos e títulos importantes, apesar de também enfrentar resistências locais, especialmente da família Florentino Diniz, de onde vem Marçal Florentino Diniz, que também foi Coronel e se tornou, mais à frente, genro do coronel Marcolino Pereira Lima, pois casou-se com uma de suas filhas (Maria Augusta), fato que contribuiu para a pacificação das duas famílias. 

Marcolino Pereira Lima exerceu o cargo de 1º Suplente de Juiz Municipal (1883); recebeu o título de Tenente-Coronel da Guarda Nacional (1891), após já ter sido capitão do mesmo organismo; foi conselheiro – vereador - (1893 a 1896); foi Prefeito indicado de Princesa (1898); elegeu-se deputado estadual da Paraíba (1900 a 1903); e foi Delegado de Polícia (1904).

Além disso, Marcolino foi importante negociante de escravos do interior da Paraíba e grande proprietário de terras. Marcolino também conseguiu, juntamente com dois sócios (Conde Adolpho van der Brule e Jayme de Medeiros Paes), autorização do governo estadual paraibano, em janeiro de 1905, para explorar ouro na região do povoado de Cachoeira de Minas.

Marcolino Pereira Lima faleceu, de infarto, aos 65 anos, em 11 de setembro de 1905, causando imenso luto à família e grande surpresa à toda população da região, pois o mesmo aparentava boa saúde e disposição. 


A DESCENDÊNCIA DE MARCOLINO E ÁGUEDA – A FAMÍLIA PEREIRA LIMA

Naturalmente, seria impossível, neste breve texto, citar todos os descendentes de Marcolino Pereira Lima e Águeda Carlos de Andrade (e peço desculpas, por isso, aos não mencionados), mas é necessário fazer algumas considerações sobre esta gigantesca árvore genealógica, tendo em vista o debate sobre a presença da família em Princesa estar, atualmente, em grande evidência.

A primeira filha de Marcolino e Águeda foi Maria Augusta, mais conhecida com Doninha, que foi casada com o Coronel Marçal Florentino Diniz. Esta união, como já citado acima, contribuiu para acalmar os ânimos entre as famílias Pereira Lima e Florentino Diniz, já que as mesmas disputavam espaços na vida política princesense. 

O Coronel Marçal já havia sido casado, era viúvo e tinha dois filhos. O influente agropecuarista triunfense, Carlos Martins e o Advogado Clóvis Martins, por exemplo, são alguns dos descendentes do primeiro casamento de Marçal. 

Do casamento de Marçal e Doninha nasceram dois filhos, Marcolino Pereira Diniz e Alexandrina Pereira Diniz. Marcolino (filho de Marçal) criou fama pela sua grande amizade com lampião e pela música de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga sobre o seu casamento com Xanduzinha. Outro fato que sempre está presente nos livros de história do Nordeste, sobre os temas da época, é o crime cometido por Marcolino, na cidade de Triunfo, onde o mesmo assassinou o Juiz de Direito Ulysses Wanderley, em 1923. Esta história tem muitas versões, acusações contraditórias sobre as obscuras motivações de Marcolino, a participação de Lampião no resgate do acusado na cadeia, entre outros detalhes que enriquecem o fato histórico.

A outra filha de Marçal com Doninha era Alexandrina Pereira Diniz (Dona Xandú), que veio a ser a esposa do Coronel José Perreira Lima. Portanto José Pereira casou-se com uma sobrinha legítima, filha de sua irmã mais velha Maria Augusta com o coronel Marçal. 

Do casamento de Alexandrina (Xandu) e o coronel José Pereira Lima nasceram dez filhos, no entanto, talvez motivado pelo laço de consanguinidade, apenas dois sobreviveram e geraram descendentes. A primeira Filha era Luiza Pereira Lima, que casou-se com o tavarense Luiz Gonzaga de Souza, mais conhecido como Gonzaga Bento. No casamento dos dois o coronel José Pereira Lima já havia falecido e a união só ocorreu graças à intervenção e a benção do Coronel Marçal Florentino Diniz, avô da noiva, já que parte da família não via com bons olhos a humilde condição financeira e o status do noivo. Gonzaga, deu tempo ao tempo e, com o seu temperamento amigável e sua inteligência, conquistou o carinho da família além de, com sua alta capacidade política, ter ocupado cargos importantes, como prefeito por quatro mandatos, além de vice-prefeito e vereador. Do casamento de Gonzaga e Luíza (Luizinha) nasceram Rosane Pereira e Humberto Pereira.

O filho mais novo do casamento de José Pereira e Xandu foi Aloysio Pereira Lima. Aloysio era médico, foi deputado estadual por diversos mandatos e também Secretário de Saúde do Estado da Paraíba no Governo de Tarcísio Burity. Dr. Aloysio, como era mais conhecido, deixou muitas realizações em todo o estado, especialmente em sua terra, Princesa, por quem tinha um amor inesgotável, herdado do pai, José Pereira, como ele mesmo gostava de dizer. Aloysio casou-se, em primeiras núpcias, com Denise Carneiro, irmã do grade tribuno e filho de Princesa, o Ministro Alcides Carneiro. Aloysio e Denise tiveram 3 filhos. Simone (já falecida), José e Gláucia. Aloysio, já idoso e viúvo, casou-se em segundas núpcias com Natércia Suassuna, prima do dramaturdo paraibano Ariano Suassuna.

Outros casamentos foram bem marcantes para os filhos de Marcolino e Águeda e geraram grande descendência: o grande escritor e acadêmico paraibano Otávio Augusto Sitônio Pinto é neto de Marcolino e Águeda, igualmente Hermosa Pereira, casada com Zacarias Sitônio (que foi tabelião, prefeito de Princesa e deputado estadual); o filho de Marcolino, Manoel Carlos Pereira Lima (Neco), - que fora colega de seminário de José Américo de Almeida – casou-se com Antônia de Andrade Lima, filha do Major Feliciano Rodrigues Florêncio); José Pereira Cardoso (que foi Prefeito de Princesa no final da década de 1930), e suas irmãs Adise Pereira Cardoso, Almira Pereira Cardoso, Avani Pereira Cardoso e Joanita Pereira Cardoso, também eram netos de Marcolino e Águeda; Iracema e Iêda, hoje residentes no Distrito de Lagoa da Cruz - PB, são netas de Silvino Pereira Lima, irmão de Marcolino.   


GRANDE FAMÍLIA

Percebe-se, portanto, que a descendência da família Pereira Lima é bem extensa. Mas não é só isso. Constata-se que o entrelaçamento de famílias é enorme, gerando muitos filhos, netos, bisnetos, de diversas origens, com características múltiplas e com muita história ainda para se contar. Pereira Lima, Carlos de Andrade, Florentino Diniz, Sitônio, Cardoso, Araújo, Bento, Nóbrega, Góes. São todos ramos de um mesmo tronco, por sangue ou por afinidade.

A descendência, os sobrenomes, não tornam ninguém melhor ou pior do que ninguém. Todos fazem parte de uma família, com virtudes e falhas, com alegrias e decepções. 

No entanto, é importante valorizar a história, honrar os antepassados, reverenciar toda luta travada no passado em busca de educação e melhor qualidade de vida. É preciso ter respeito ao suor, às lágrimas, ao sangue, que muitos jorraram lá atrás para que os seus descendentes tenham vida digna hoje. Foram as grandes atitudes de coragem dos homens e mulheres do passado, de todas as famílias, de todas as classes sociais, que construíram Princesa, que contribuíram para o seu desenvolvimento.      

É preciso, por isso, aplaudir, com deferência, os irmãos Gláucia Pereira e José Pereira, filhos de Aloysio Pereira Lima, pela valorosa atitude de idealizar, planejar e instalar, em Princesa, o Memorial Pereira Lima, em homenagem à família. Eles contaram com colaborações importantes, pessoas que amam a história desta terra e se dedicaram para que tudo isso acontecesse. 

Que este memorial, mais do que uma obra física, torne-se uma ideia, impregnada na mente de todos os filhos de Princesa, para valorizarem sua história, a história de suas famílias, de seus antepassados. E assim, que surjam mais memoriais, museus, centros culturais. Que a história de Princesa, além de orgulho, também traga desenvolvimento cultural e econômico para esta terra.  


FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Fontes: 

Francisco Florêncio – Entrevista realizada com Hermosa Pereira Sitônio.

Referências:

LIMA, Aloysio Pereira – Eu e meu pai o coronel José Pereira – 1930 – O Território Livre de Princesa – Ideia – 2013, João Pessoa/PB.

ALMEIDA, José Américo de - O ano do Nego – Fundação Casa de José Américo de Almeida – 2005, João Pessoa/PB. 

NÓBREGA, Ada Florêncio Barros da – Feliciano Rodrigues Florêncio – O moço, o major, o velho – Ideia – 2013, João Pessoa/PB.

Um comentário:

  1. Muito interessante!
    Fui e sou muito amiga da família de Lídia Dantas Lima e Abner Pereira Lima, descendentes desta família.
    E por quem tenho muita gratidão.

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