“FELICIANO RODRIGUES
FLORÊNCIO – O moço, o major, o velho”
ADA FLORÊNCIO BARROS DA NÓBREGA
Escritora temporã, a princesense, Ada Florêncio Barros da
Nóbrega, embora não tenha logrado o prazer de lançar, ainda em vida, sua única
obra literária, promoveu importante contribuição à história e à cultura de
Princesa com o lançamento do livro: “FELICIANO
RODRIGUES FLORÊNCIO – o moço, o major, o velho”. O escrito de Ada Barros,
contido de 446 páginas, lançado pela editora Ideia, tem
como epicentro a história de seu avô, o major Feliciano Florêncio. Homem de uma
época, longevo e patriarca de vários segmentos das tradicionais famílias
princesenses. Nesse livro, a autora discorre sobre quase tudo o que se refere à
história recente de Princesa. Aborda aspectos históricos, culturais,
religiosos, políticos, sociais, familiares, enfim, uma plêiade de informações
que Ada resgata para nós e para as gerações futuras. Excluídas as muitas
citações filosóficas e impressões emocionais, a obra é enxuta e rica de
informações importantes para quem se interessa pela história da nossa terra.
Uma ode a Princesa.
Na página 21, a escritora já realça a importância histórica
de Princesa no concerto da historiografia regional e nacional:
“Poucas cidades, quando comparadas à
vastidão territorial de todo um país – ainda mais, considerando-se que este(sic) município é a pequenina Princesa
Isabel e o país, o imenso Brasil -, tiveram o destino glorioso de constar, tão
assiduamente, nas grandes narrativas históricas, no caso específico de
Princesa, de nossa conturbada história republicana”
Contido na página 56, Barros, acrescenta, evidenciando a
importância de Princesa no contexto da história da Paraíba e do Brasil: “Todos sabem que, no Brasil, existe uma
Paraíba e que, nessa Paraíba, existe uma Princesa, a qual foi território livre
(sic), com bandeira, código e hino próprios (...)”. Quanto ao coronel José
Pereira Lima, promotor da instituição do Território Livre de Princesa, Ada,
realça o perfil de “chefe respeitado e acatado” do coronel, quando este
comunica ao chefe do poder estadual – por ocasião da morte de seu pai, o
coronel Marcolino Pereira -, a decisão de tomar as rédeas do poder em Princesa,
de forma “inamovível”: “Somos quatro
irmãos, novos, ricos e desassombrados, não vim pedir permissão, vim comunicar”.
Seria essa já uma premonição da rebeldia que se faria ver em 1930?
Lá adiante, a autora, de forma sucinta e baseada em escrito
do historiador Celso Mariz, delineia o perfil da formação histórica de Princesa
sob a influência do padre-mestre Ibiapina:
“Essa Lagoa da Perdição é a atual
cidade de Princesa Isabel. O missionário [padre Ibiapina] lhe havia mudado o
nome, indicativo de azares materiais e morais, para Bom Conselho, pelo qual foi
conhecido o povoado por muito tempo. Aquele Bom Conselho onde parou, quando
voltava doente de Baixa Verde [Triunfo/PE], em janeiro de 1876, Lagoa da
Perdição ou Bom Conselho já estava, então, elevada e ia instalar-se paróquia e
vila por uma lei de novembro anterior, com o nome de Princesa. Ainda, anos
depois dessa classificação oficial, era popularmente chamada pelo crisma de
Ibiapina”.
Filha de Richomer Góis de Campos Barros, a quem o historiador
e escritor princesense, Paulo Mariano, nominou de “o mais refinado intelectual
princesense”, Ada Barros escreve sobre o pai. Na página 160, faz referências ao
seu progenitor como: “(...) possuidor de
notável força física, nadador exímio, músico amador, compositor, botânico e
também poeta, escritor e jornalista. (...) colaborou nos jornais ‘Diário de
Pernambuco’, ‘Correio de São Paulo’, ‘A União’ e na revista ‘Pará Agrícola’.
São de sua autoria a ‘Monografia de Princesa’ e ‘O Caroá em Pernambuco e sua
ocorrência nos demais estados do Nordeste’, publicada em 1941 pela Imprensa Nacional
do Rio de Janeiro, e ‘Pródomos dos acontecimentos de Princesa – 1930’. Foi
também revisor do jornal ‘Folha do Povo’, do Recife”.
Numa demonstração de que tudo em Princesa girava em torno da
política entre as duas famílias, Pereira e Diniz – aprimeira chamada de
“pelados” e, a segunda, de “Cabeludos” -, Ada anota, na página 174, um poema de
Aída Barros, sua irmã,onde em sua última estrofe, diz:
“Meu
despertar para a vida
foi numa
terra marcada
Princesa,
feia, sisuda,
anormal,
atrapalhada,
duma banda
cabeluda
e da outra
bem pelada”
Das páginas 185 a 192,
Ada Barros, discorre sobre as perseguições políticas perpetradas contra as
famílias princesenses - adversárias da nova ordem política -, comandadas por
Nominando Diniz (“seu” Mano), após a Guerra de Princesa, em 1930. Fala sobre as
prisões do major Feliciano Florêncio e de sua filha, Antônia Florêncio (“dona”
Toinha); do apedrejamento da casa do major; da viagem de Feliciano à capital do
Estado para pedir garantias ao então presidente, enfim, de muitos acontecimentos,
que até então, dormiam recônditos do conhecimento público:
“A euforia dos vitoriosos após a
guerra sempre se perde nos desmandos da prepotência. Jamais compreendem a
transitoriedade e a instabilidade que envolvem tais acontecimentos. É a insanidade
do poder – quanto mais pode, menos se eterniza. O velho Feliciano, embora fosse
tio afim de Zé Pereira, partícipe do estado-maior da histórica rebelião de
Princesa, era hábil pacificador. Procurou o prefeito, Nominando Diniz Muniz (sic) e admoestou-o a não perseguir os
remanescentes que tiveram de permanecer em Princesa. O prefeito, empolgado com
sua nova posição,logo respondeu: - Você está dizendo isso, Feliciano, porque
tem três genros envolvidos no movimento, e está procurando um jeito de protegê-los,
mas não vai ser como você deseja.
O velho major, sabiamente, retrucou:
- Use a inteligência que você vai conseguir trazer todo mundo na palma de sua
mão. Não há proveito em fazer inimigos. Porém, obteve a infeliz respostas: -
Inimigo para mim é café pequeno. O major, com a experiência acumulada ao longo
dos seus oitenta anos, sentenciou: - Está certo, você vai saber e vai sentir
que não existe inimigo pequeno!”
Na página 206, a
autora do trabalho em tela, registra; “O
algoz do major (...) regorgitou (sic) sua fúria contra um velho de oitenta
anos. (...) Prender-se um cidadão, um pai de família honrado, só para se deixar
posar para a posteridade!...”.
São interessantes
esses registros, porque, somente Ada Barros e Tião Lucena, até a presente data,
tiveram a coragem de deitar no papel essas informações que sempre, somente
foram ditas, a boca pequena, nas conversas coloquiais em Princesa.
O livro que ora
resenhamos, tem a proposta de contar a história do major Feliciano Rodrigues
Florêncio, baseado, principalmente, num amor platônico do velho major. Descamba,
portanto, numa abrangência da história recente de Princesa, nos seus aspectos
culturais, religiosos, sociais, políticos, etc., numa importante contribuição
que resgata memórias não contadas da nossa terra. É, por isso, um trabalho
importante e indispensável para aqueles que querem conhecer a nossa história.
Ada Florêncio Barros
da Nóbrega nasceu em Princesa, em 22 de agosto de 1929, filha de Richomer Góes
de Campos Barros e de dona Noemi Florêncio Barros, casou-se com Inocêncio
Nóbrega de Andrade, com quem teve os filhos; Cícero Emanuel, José Adaíno, Maria
do Socorro, Richomer, Mônica, Moema e Maria do Rosário. Professora por formação
e intelectual por natureza, tornou-se escritora, escreveu um único livro que
foi lançado, em 2013, dois anos após sua morte.
DSMR, em 18
de março de 2021.
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