quinta-feira, 18 de março de 2021

LER PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA

 




“FELICIANO RODRIGUES FLORÊNCIO – O moço, o major, o velho”

ADA FLORÊNCIO BARROS DA NÓBREGA

Escritora temporã, a princesense, Ada Florêncio Barros da Nóbrega, embora não tenha logrado o prazer de lançar, ainda em vida, sua única obra literária, promoveu importante contribuição à história e à cultura de Princesa com o lançamento do livro: “FELICIANO RODRIGUES FLORÊNCIO – o moço, o major, o velho”. O escrito de Ada Barros, contido de 446 páginas, lançado pela editora Ideia, tem como epicentro a história de seu avô, o major Feliciano Florêncio. Homem de uma época, longevo e patriarca de vários segmentos das tradicionais famílias princesenses. Nesse livro, a autora discorre sobre quase tudo o que se refere à história recente de Princesa. Aborda aspectos históricos, culturais, religiosos, políticos, sociais, familiares, enfim, uma plêiade de informações que Ada resgata para nós e para as gerações futuras. Excluídas as muitas citações filosóficas e impressões emocionais, a obra é enxuta e rica de informações importantes para quem se interessa pela história da nossa terra. Uma ode a Princesa.

Na página 21, a escritora já realça a importância histórica de Princesa no concerto da historiografia regional e nacional:

“Poucas cidades, quando comparadas à vastidão territorial de todo um país – ainda mais, considerando-se que este(sic) município é a pequenina Princesa Isabel e o país, o imenso Brasil -, tiveram o destino glorioso de constar, tão assiduamente, nas grandes narrativas históricas, no caso específico de Princesa, de nossa conturbada história republicana”

Contido na página 56, Barros, acrescenta, evidenciando a importância de Princesa no contexto da história da Paraíba e do Brasil: “Todos sabem que, no Brasil, existe uma Paraíba e que, nessa Paraíba, existe uma Princesa, a qual foi território livre (sic), com bandeira, código e hino próprios (...)”. Quanto ao coronel José Pereira Lima, promotor da instituição do Território Livre de Princesa, Ada, realça o perfil de “chefe respeitado e acatado” do coronel, quando este comunica ao chefe do poder estadual – por ocasião da morte de seu pai, o coronel Marcolino Pereira -, a decisão de tomar as rédeas do poder em Princesa, de forma “inamovível”: “Somos quatro irmãos, novos, ricos e desassombrados, não vim pedir permissão, vim comunicar”. Seria essa já uma premonição da rebeldia que se faria ver em 1930?

Lá adiante, a autora, de forma sucinta e baseada em escrito do historiador Celso Mariz, delineia o perfil da formação histórica de Princesa sob a influência do padre-mestre Ibiapina:

“Essa Lagoa da Perdição é a atual cidade de Princesa Isabel. O missionário [padre Ibiapina] lhe havia mudado o nome, indicativo de azares materiais e morais, para Bom Conselho, pelo qual foi conhecido o povoado por muito tempo. Aquele Bom Conselho onde parou, quando voltava doente de Baixa Verde [Triunfo/PE], em janeiro de 1876, Lagoa da Perdição ou Bom Conselho já estava, então, elevada e ia instalar-se paróquia e vila por uma lei de novembro anterior, com o nome de Princesa. Ainda, anos depois dessa classificação oficial, era popularmente chamada pelo crisma de Ibiapina”.

Filha de Richomer Góis de Campos Barros, a quem o historiador e escritor princesense, Paulo Mariano, nominou de “o mais refinado intelectual princesense”, Ada Barros escreve sobre o pai. Na página 160, faz referências ao seu progenitor como: “(...) possuidor de notável força física, nadador exímio, músico amador, compositor, botânico e também poeta, escritor e jornalista. (...) colaborou nos jornais ‘Diário de Pernambuco’, ‘Correio de São Paulo’, ‘A União’ e na revista ‘Pará Agrícola’. São de sua autoria a ‘Monografia de Princesa’ e ‘O Caroá em Pernambuco e sua ocorrência nos demais estados do Nordeste’, publicada em 1941 pela Imprensa Nacional do Rio de Janeiro, e ‘Pródomos dos acontecimentos de Princesa – 1930’. Foi também revisor do jornal ‘Folha do Povo’, do Recife”.

Numa demonstração de que tudo em Princesa girava em torno da política entre as duas famílias, Pereira e Diniz – aprimeira chamada de “pelados” e, a segunda, de “Cabeludos” -, Ada anota, na página 174, um poema de Aída Barros, sua irmã,onde em sua última estrofe, diz:

“Meu despertar para a vida

foi numa terra marcada

Princesa, feia, sisuda,

anormal, atrapalhada,

duma banda cabeluda

e da outra bem pelada”

 

Das páginas 185 a 192, Ada Barros, discorre sobre as perseguições políticas perpetradas contra as famílias princesenses - adversárias da nova ordem política -, comandadas por Nominando Diniz (“seu” Mano), após a Guerra de Princesa, em 1930. Fala sobre as prisões do major Feliciano Florêncio e de sua filha, Antônia Florêncio (“dona” Toinha); do apedrejamento da casa do major; da viagem de Feliciano à capital do Estado para pedir garantias ao então presidente, enfim, de muitos acontecimentos, que até então, dormiam recônditos do conhecimento público:

 

“A euforia dos vitoriosos após a guerra sempre se perde nos desmandos da prepotência. Jamais compreendem a transitoriedade e a instabilidade que envolvem tais acontecimentos. É a insanidade do poder – quanto mais pode, menos se eterniza. O velho Feliciano, embora fosse tio afim de Zé Pereira, partícipe do estado-maior da histórica rebelião de Princesa, era hábil pacificador. Procurou o prefeito, Nominando Diniz Muniz (sic) e admoestou-o a não perseguir os remanescentes que tiveram de permanecer em Princesa. O prefeito, empolgado com sua nova posição,logo respondeu: - Você está dizendo isso, Feliciano, porque tem três genros envolvidos no movimento, e está procurando um jeito de protegê-los, mas não vai ser como você deseja.

O velho major, sabiamente, retrucou: - Use a inteligência que você vai conseguir trazer todo mundo na palma de sua mão. Não há proveito em fazer inimigos. Porém, obteve a infeliz respostas: - Inimigo para mim é café pequeno. O major, com a experiência acumulada ao longo dos seus oitenta anos, sentenciou: - Está certo, você vai saber e vai sentir que não existe inimigo pequeno!”

 

Na página 206, a autora do trabalho em tela, registra; “O algoz do major (...) regorgitou (sic) sua fúria contra um velho de oitenta anos. (...) Prender-se um cidadão, um pai de família honrado, só para se deixar posar para a posteridade!...”.

 

São interessantes esses registros, porque, somente Ada Barros e Tião Lucena, até a presente data, tiveram a coragem de deitar no papel essas informações que sempre, somente foram ditas, a boca pequena, nas conversas coloquiais em Princesa.

 

O livro que ora resenhamos, tem a proposta de contar a história do major Feliciano Rodrigues Florêncio, baseado, principalmente, num amor platônico do velho major. Descamba, portanto, numa abrangência da história recente de Princesa, nos seus aspectos culturais, religiosos, sociais, políticos, etc., numa importante contribuição que resgata memórias não contadas da nossa terra. É, por isso, um trabalho importante e indispensável para aqueles que querem conhecer a nossa história.

 

Ada Florêncio Barros da Nóbrega nasceu em Princesa, em 22 de agosto de 1929, filha de Richomer Góes de Campos Barros e de dona Noemi Florêncio Barros, casou-se com Inocêncio Nóbrega de Andrade, com quem teve os filhos; Cícero Emanuel, José Adaíno, Maria do Socorro, Richomer, Mônica, Moema e Maria do Rosário. Professora por formação e intelectual por natureza, tornou-se escritora, escreveu um único livro que foi lançado, em 2013, dois anos após sua morte.

DSMR, em 18 de março de 2021.

 

 

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