quarta-feira, 14 de julho de 2021

LER PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA

 



RAIMUNDO ONOFRE – O AMIGO DO REI

GILVAN DE BRITO

O livro do advogado e jornalista, Gilvan de Brito, intitulado: RAIMUNDO ONOFRE - O AMIGO DO REI, lançado pela gráfica e editora Edições Trevo – João Pessoa/PB – 2001, contém 271 páginas e trata da biografia de um dos personagens mais emblemáticos da política paraibana: Raimundo de Paiva, mais conhecido como Raimundo Onofre. Nas palavras do jornalista, escritor e historiador, Hélio Nóbrega Zenaide, subscritor da apresentação desse livro:

“Não se pode escrever a história política da Paraíba desconhecendo-se a história dos políticos paraibanos. E Raimundo Onofre é um político que viveu intensamente a política da Paraíba no pós-redemocratização de 1945, cultivando singular relacionamento com gregos e troianos, com todos os políticos importantes de todos os partidos políticos daquela época, correligionários e adversários, amigos e inimigos, sendo uma espécie de “repórter Esso” da política paraibana: era sempre o primeiro a dar as últimas notícias”.

Raimundo Onofre, foi deputado estadual (1951/1955) à Assembleia Estadual da Paraíba, mas notabilizou-se, principalmente, pela estreita amizade cultivada com o então senador Ruy Carneiro – que a ele se referia como “o filho que não tive”. Onofre reverenciava o senador como se fora seu “rei” (daí o título desse livro). Justifica-se a resenha desse trabalho, na série que este Blog vem apresentando, pelas altas referências do biografado sobre a personalidade do coronel José Pereira Lima, por quem tinha verdadeira admiração, somente superada pela dispensada ao seu guru, Ruy Carneiro. Já na apresentação da obra, o autor descreve:

“Raimundo Onofre é o exemplo típico de pessoa que pelas ações, pensamentos, ideias, propósitos, emoções e sentimentos, ofereceu meios para que se possa compreender o ambiente político-social paraibano no contexto histórico de um Brasil moderno, pós Artur Bernardes, de 1922 a 2001, há 79 anos, portanto, quase um século. (...) enquanto transitou pela vida política paraibana Raimundo Onofre foi, pelo seu estilo contundente e vulcânico, instrumento da ordem e da desordem, presenciando ativamente ou participando diretamente de traições, conspirações, negociações e conchavos contra ou a favor, plantando marcas em cada equívoco ou contraste. (...) Admirador confesso do coronelismo nordestino, tinha em José Pereira, de quem foi discípulo e amigo, o exemplo vivo de um administrador competente e a imagem irretocável de um bravo revolucionário”.

Segundo relata o autor desse trabalho, além do senador paraibano, Ruy Carneiro, Onofre admirava - como já vimos -, fortemente o coronel José Pereira Lima de Princesa. Conheceu este, no Recife, em 1947, a quem definia como “homem pacífico, civilizado, humano, amável, de formação universitária e ex-parlamentar”. A amizade entre os dois foi imediata, e se tornaram íntimos e confidentes. Nas páginas 42 e 43, nas palavras de Gilvan de Brito:

“Raimundo Onofre escolhera José Pereira como ídolo e não escondia as razões da preferência: demonstrava atitudes fortes, firmes e decisivas e fora protagonista de um dos episódios mais marcantes da vida paraibana, ao criar o Território Livre de Princesa, contribuindo para o surgimento da Revolução de 30. Era, porém, sincero, plácido e cândido, ninguém seria capaz de reconhecê-lo como um dos grandes responsáveis pela queda da República Velha e das mudanças de rumo da política, da administração, dos costumes e da história do País.”

Em face desse relato, mais uma vez se constata a importância da guerra civil paraibana, conhecida como a Guerra de Princesa, como contribuição para a eclosão da Revolução de 1930. Daí patenteado, que a participação de Princesa foi fundamental no movimento que teve o condão de mudar o Brasil. Ainda nesse relato, o autor informa que o coronel Zé Pereira havia dito a Raimundo Onofre que, não fora o assassinato do presidente João Pessoa, em 26 de julho de 1930, na Confeitaria Glória, no Recife, em poucos dias seria, o governante paraibano, deposto pela força dos coronéis nordestinos: “O coronel Juvenal Lamartine (governador do estado do Rio Grande do Norte) viria com dois mil homens; de Pernambuco era esperado o coronel Caio de Lima Cavalcante, com três mil homens, e do sertão da Paraíba surgiria José Pereira, com três mil e quinhentos homens, armados até os dentes, enquanto a força estadual só tinha três balas disponíveis para cada um dos 700 artilheiros. As referências de Raimundo Onofre sobre o coronel princesense, em que pese sinceras, guardavam algum exagero:

“O coronel José Pereira foi, para ele, o maior homem que a Paraíba já produziu em todos os tempos. Tivesse ele [José Pereira] assumido o comando do Estado em 1930 a Paraíba certamente seria outra. Lembrava também palavras filosóficas de José Pereira, de que ‘difícil não é mostrar coragem, difícil é esconder o medo’. Realçava que até os homens mais fortes tinham seus pontos fracos. Os de José Pereira, enumerou-os: ‘Injeção, alma e avião – morria de medo’”.

Sobre Raimundo Onofre, os ex-ministro José Américo de Almeida, dizia: “Raimundo Onofre é tão hipócrita que, para enganar o semelhante, chora pelo olho de vidro”. Onofre, acometido de uma infecção, perdeu o olho direito e, por questão de estética, usava um olho de vidro. Muito católico, por orientação do coronel José Pereira, tornou-se devoto do Padre Cícero do Juazeiro, de quem matinha um quadro com sua imagem, dependurado numa das paredes de seu quarto de dormir. Onofre foi amigo do então deputado federal, o princesense, Alcides Vieira Carneira a quem nomina como um dos maiores oradores do País. Foi contemporâneo, como deputado estadual, de outro princesense ilustre, na Assembleia legislativa, Zacarias Sitônio.

Raimundo Onofre conheceu e conviveu com vários coronéis nordestinos, de nomes famosos, como: Chico Heráclito, Agamenon Magalhães, Fábio Corrêia e Etelvino Lins, em Pernambuco; Góis Monteiro, em Alagoas e Juracy Magalhães, na Bahia; Leandro Maciel, em Sergipe; Vitorino Freire, no Maranhão; José Augusto, Dinarte Mariz e Teodorico Bezerra, no Rio Grande do Norte. Porém o coronel José Pereira de Princesa, foi o seu guru, amigo e ídolo em quem procurou se espelhar.

A obra que ora resenhamos, se não trata da Guerra de Princesa em detalhes ou não traz informações importantes acerca da história, se basta como referência pelo fato de ater-se a uma das personalidades mais importantes da historiografia local: o coronel José Pereira Lima que, falto de uma biografia, tudo a que a ele se refere, tem o caráter de um contributo para melhor conhecermos a nossa história. Leitura necessária, portanto.

Gilvan de Brito nasceu em João Pessoa em 1940, formado em Direito pelo UNIPÊ em 1983, é escritor, poeta, teatrólogo, ensaísta, jornalista, dramaturgo, letrista e ator. Tem 135 livros escritos, 25 publicados. Escreveu 15 roteiros para cinema e 25 peças teatrais. Hoje, aos 81 anos de idade, reside na capital paraibana.



 

 

 

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