PARAHYBA 1930: A Verdade Omitida
Flávio
Eduardo Maroja Riberio (“FUBA”)
O livro em resenha,
escrito pelo compositor e político paraibano, Flávio Eduardo Maroja Ribeiro,
mais conhecido como “Fuba”, contém 492 páginas e foi lançado em 2008, pela
Editora Sal da Terra – João Pessoa/PB. É uma obra polêmica porque em defesa dos
perrepistas e louvor aos da Aliança
Liberal. Já na apresentação, o autor escreve:
“Depois de anos, vim saber os
verdadeiros motivos pelos quais José Américo tinha razão. Em 1930, a Paraíba
viveu, talvez, o maior derramamento de sangue em toda sua história, e o que se
tinha nos livros enaltecia um lado bem diferente do que acontecera. Foi só aí
que vim a perceber que os fatos que antecederam o ano de 1930, e os que
posteriormente foram relatados, envolvem personagens tidas como mitos ou heróis
e que estão sendo desmistificados à medida que a verdade aparece. A história da
Paraíba está cheia destes equívocos, e João Pessoa é um deles”.
Mesmo assim, “Fuba”
não deixa de reconhecer a importância que teve o presidente (governador) João
Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, no contexto daqueles acontecimentos que
culminaram com a eclosão da Revolução de 1930 e a consequente queda da
República Velha: “Não quero, através
deste livro, denegrir nem tão pouco (sic) apagar a memória de João Pessoa que,
queira ou não, foi o principal motivo para que se deflagrasse a Revolução de
1930”. A obra em tela traz um capítulo inteiro (Capítulo 4 – A Revolta de
Princesa), sobre os acontecimentos em que Princesa foi protagonista.
Nas páginas 143/144,
Maroja Ribeiro se acode da entrevista concedida pelo coronel José Pereira Lima,
em 24 de maio de 1930, ao Jornal Correio
da Manhã, do Rio de Janeiro. Realçando o que ele [o autor], considera o
pomo da discórdia, o que transbordou o copo d’água das diferenças entre o
coronel Zé Pereira e o presidente João Pessoa: a formação da chapa para o
concurso eleitoral de 1º de março de 1930, em que o presidente paraibano
excluiu da mesma, o ex-presidente e amigo dileto de Zé Pereira, João Suassuna,
“Fuba” transcreve parte da entrevista do coronel de Princesa. Fala Zé Pereira:
“Estranhei que da lista organizada
[por João Pessoa] fossem excluídos sumariamente o senador Antônio Massa, que
havia sido um dos batalhadores pela ascensão do Sr. Epitácio Pessoa à suprema
direção da política da Paraíba. Objetei ao senhor Sobreira (ajudante-de-ordens
de João Pessoa) que ele, Massa, fiel ao partido, não merecia a odiosa exclusão
nos últimos momentos. Isto, a 20 de fevereiro. Objetivei mais também: não
compreendia a exclusão de Oscar Soares, que era um dos mais destacados do
partido; o sacrifício do deputado Daniel Carneiro, o qual, no momento em que o
presidente assim o tratava, se encontrava desassombradamente em Alagoas,
defendendo a causa da Aliança Liberal, em campanha eleitoral. Interpelei, então,
o ajudante-de-ordens, por que se excluía e sacrificava o deputado João
Suassuna, ex-governador do Estado, que elegera o próprio João Pessoa, a quem
entregara a chefia do partido? O ajudante-de-ordens respondeu-me que o critério
era o do rotativismo. Indaguei como ele explicava que sendo o critério o do
rotativismo só ficasse na bancada, dos antigos, o Sr. Carlos Pessoa, justamente
o primo-irmão do Presidente João Pessoa? O ajudante, meio confuso, disse que o
Presidente achava que o Sr. Carlos Pessoa se havia portado com muita vibração
na legislatura passada, durante a campanha da Aliança, ao que retruquei que o
Sr. Carlos Pessoa era um deputado apagado, que nunca pronunciara, sequer, um
discurso... Rotativismo ou é, ou não é. Em parte, eu não compreendia o
rotativismo beneficiando, precisamente, um membro da família. O
ajudante-de-ordens, afinal retirou-se da minha presença, alegando que eu
poderia levar as minhas objeções ao Presidente”.
Esse diálogo, a que Zé
Pereira se refere na entrevista citada, aconteceu na casa do coronel José
Pereira, por ocasião da visita do presidente João Pessoa a Princesa, em
fevereiro de 1930. É certo que a questão da chapa, vem sendo, desde há muito, tipificado
como o fato emblemático que mais contribuiu para o rompimento de Zé Pereira com
o presidente João Pessoa. Porém, outros acontecimentos já motivavam a
indisposição entre ambos. Na verdade, o que ambos queriam - principalmente João
Pessoa - , era mesmo o enfrentamento. Na página 145, “Fuba” anota:
“Várias tentativas de conciliação
foram feitas partindo de João Suassuna e do próprio Epitácio, na possibilidade
de um acordo político, porém, João Pessoa foi intransigente e preferiu partir
para a luta armada”.
Com relação às
tentativas de apaziguamento, o autor realça várias situações. O padre Cícero
Romão Batista concitou Zé Pereira: (...)
pediria ao eminente amigo, mesmo com sacrifício de quaisquer paixões pessoais,
procurar uma solução que pusesse fim a esse lamentável estado de coisas, em que
vidas preciosas à riqueza da terra paraibana estão sendo destruídas na voragem
de uma luta fratricida”. Na página 153, “Fuba” anota comentário do escritor
Barbosa Lima Sobrinho: “Fosse menos
drástico nos seus processos de Governo, talvez houvesse o Sr. João Pessoa
evitado a peleja (...) O Sr. João Pessoa pertencia a essa classe de estadista e
de homens, para os quais o melhor remédio contra as dores de cabeça é a
guilhotina”. Ainda na página 185, Maroja Ribeiro, transcreve, do livro de
Domingos Meirelles, “1930 – Os Órfãos da Revolução”: (...) o coronel José Pereira mostrava-se interessado em encontrar uma
solução política para o conflito, mas Pessoa recusava-se a examinar a proposta
do chefe sertanejo”.
Na verdade, o autor
insiste em pôr a culpa em João Pessoa, no que não está completamente
equivocado. Porém, vale salientar, que o conflito (A Guerra de Princesa),
atendia a interesses de ambos os lados. Ao Catete porque o presidente da
República, Washington Luís, desejava intervir na Paraíba por vingança pelo não
alinhamento político do presidente João Pessoa, quanto ao apoio à candidatura
oficial de Júlio Prestes à presidência da República. Do lado dos liberais, a
guerra civil funcionava como uma mantenedora da chama acesa que propiciaria a
desejada futura Revolução.
No tocante à figura do
coronel José Pereira, no contexto dos acontecimentos de 1930, “Fuba” escreve:
“Na verdade José Pereira foi o
principal articulador da ascensão de Epitácio Pessoa na Paraíba, em 1915. Esta
era uma opinião que todos os correligionários reconheciam, incluída, entre eles
a própria família. Diante os fatos, existia mesmo da parte de João Pessoa uma
intransigência ou um ciúme exagerado em relação ao prestígio de José Pereira. Depois
de preterir, negar, discordar e rejeitar todas as possibilidades de acordo,
virou-se contra todos os seus aliados, transformando o nosso Estado em uma
verdadeira guerra civil. A explicação mais provável era a de que João Pessoa,
depois de ‘tomar gosto pelo poder’ quis, propositadamente, destruir a máquina
epitacista do Estado e montar a sua própria, excluindo, inclusive, o seu
poderoso tio”.
Como vemos, o autor
toma o corajoso partido de trazer a luz fatos que até então somente haviam sido
realçados por escritores que tinham algum laço familiar com Zé Pereira, ou que
viveu aqueles tempos de luta ao lado do coronel. Esse resgate, depois de quase
80 anos, faz-se interessante para aqueles que pesquisam sobre os fatos de 1930.
Afinal, é praxe que a história das lutas, das guerras, seja contada pelos
vencedores. Mesmo que o contido no livro em tela, necessariamente, retrate a
verdade, as rememorações apegadíssimas de não-louvores ao desditoso presidente
– o que se encontra no caudal de suas páginas -, tem sim, importante valor
histórico.
O cantor, compositor,
baterista, percussionista e violonista paraibano, Flávio Eduardo Maroja
Ribeiro, conhecido artisticamente como “Fuba”, nasceu em João Pessoa e viveu
sua infância em Campina Grande. Além das atividades artísticas acima mencionadas,
incursionou também na seara política, chegando a ser eleito vereador da Capital
paraibana. Na qualidade de parlamentar mirim, uma de suas principais bandeiras
foi a mudança do nome da capital, lutando para que deixasse de chamar-se João
Pessoa, retornando ao nome antigo de Parahyba. Depois desta obra, está também
inscrito no rol dos escritores paraibanos.
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