Se vivo fosse, doutor Antônio Nominando Diniz teria
completado 100 anos de vida no último dia 19 de fevereiro deste ano de 2022. Em
comemoração ao Centenário de seu nascimento, reeditamos o seu Perfil
Biográfico, que publicamos a seguir:
ANTÔNIO NOMINANDO DINIZ
ANTÔNIO NOMINANDO
DINIZ, nascido em Princesa aos 19 de fevereiro de 1922, era filho de Nominando
Muniz Diniz (“seu” Mano) e de dona Aurora Sérgio Diniz. Concluiu o curso
primário no Grupo Escolar “Gama e Melo”; o curso secundário no Colégio
Salesiano do Recife e o curso pré-universitário no Liceu Pernambucano (a mais
antiga escola em funcionamento do Brasil, desde 1823). Em 1945 diplomou-se em
Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito do Recife, ocasião em que foi
contemporâneo de outros paraibanos ilustres, a exemplo de Ivan Bichara Sobreira
(ex-governador do Estado da Paraíba); Archimedes Souto Maior Filho (juiz da
Comarca de Princesa Isabel e desembargador do Tribunal de Justiça da Paraíba);
dentre outros.
O homem
Antônio Nominando era homem inteligente, cordato e
extremamente educado. Era também dono de temperamento afável, porém enérgico
quando necessário. Desapegado aos bens materiais, levou uma vida modesta e
simples. Quando não ajudado financeiramente pelo pai, viveu e educou seus
filhos com o fruto de seus vencimentos recebidos como deputado, prefeito ou Advogado
de Ofício (o equivalente ao cargo de Defensor Público). Foi casado com dona
Celina Gondim Diniz, com quem teve os filhos: José, Antônio, Maria de Jesus,
Maria Auxiliadora e Cristina. Todos detentores de diplomas de cursos
superiores.
Político e administrador
CARTAZ DA CAMPANHA ELEITORAL DE 1962
Ainda como estudante de Direito, Antônio Nominando, participou das lutas estudantis pela derrubada da ditadura do Estado Novo. Após sua formatura em 1945, época em que já era aliado de José Américo de Almeida e por influência de seu pai, ingressou na UDN – União Democrática Nacional, fazendo parte de seu primeiro Diretório e, sob essa legenda - comandada nacionalmente pelo brigadeiro Eduardo Gomes -, foi eleito deputado estadual pela primeira vez aos 24 anos de idade, nas eleições realizadas em 19 de janeiro de 1947, transformando-se num membro da Assembleia Constituinte do Estado da Paraíba que foi instalada em 05 de março de 1947. Candidato ao mesmo cargo em 1950 quando apoiou também a candidatura de José Américo para governador do Estado, não conseguiu ser reeleito. Em 1954 candidatou-se mais uma vez ao cargo de deputado estadual, desta feita pelo PL – Partido Libertador, quando obteve sucesso nas urnas. Nessa legislatura, foi escolhido vice-presidente da Assembleia Legislativa. Derrotado mais uma vez nas eleições de 1958, logrou êxito eleitoral no pleito de 1962, sendo mais uma vez eleito deputado. Com a ascensão de Pedro Moreno Gondim ao Governo do Estado, em 1960, Antônio Nominando foi convidado para exercer o cargo de Secretário de Estado de Educação e Saúde, função que ocupou até o final do mandato do governador. Em 1968 candidatou-se a prefeito de Princesa, pela ARENA – Aliança Renovadora Nacional sendo eleito quando derrotou nas urnas os dois oponentes do MDB – Movimento Democrático Brasileiro, Joaquim Mariano e Miguel Rodrigues. Fez uma profícua administração, principalmente no tocante à educação e à cultura. Naquele quatriênio, que compreendeu 1969/1972, doutor Antônio (como era mais conhecido em Princesa), trouxe para sua terra natal vários benefícios, a exemplo da Companhia de Teatro; da Biblioteca “José Nominando Diniz”; do Projeto Rondon; de incentivos importantes ao esporte quando inscreveu Princesa na “Liga Desportiva Paraibana”; construiu o Mercado Público Municipal, o Matadouro Público Municipal e vários prédios para alojar Escolas Municipais; implantou, no Ginásio “Nossa Senhora do Bom Conselho” (escola por ele criada ainda em 1949), os cursos de segundo grau “científico” e “clássico”; dentre outros benefícios.
O LIVRO “ARCO IRIS” E SEU AUTOR,
ANTÔNIO NOMINANDO DNIZ, AINDA ADOLESCENTE
O intelectual
Homem honesto no trato da coisa pública, nunca se locupletou
com qualquer benefício oriundo do erário. No exercício dos vários cargos
públicos que exerceu sempre se comportou com probidade e lisura. Registro aqui
um fato interessante que comprova a retidão de doutor Antônio como homem
público. Extraído o livro de minha autoria: “Princesa
– História e Voto”:
A honestidade de Antônio Nominando sempre foi um dos traços mais
marcantes de sua personalidade. Sempre relutou em aceitar vantagens que lhes
fossem oferecidas quando exercia cargos públicos. Certa vez, quando era
secretário de Estado de educação e saúde, os funcionários mais graduados
daquela secretaria que chefiava, sensibilizados pelo fato de que o secretário
se deslocava de sua residência para o local de trabalho, todos os dias, usando
transporte público, se quotizaram para comprarem um automóvel para dar-lhes de
presente. Quando tomou conhecimento disso, doutor Antônio mandou imediatamente,
que acabassem com essa intenção, pois ele, não aceitaria de forma alguma aquele
mimo. Doutra feita, relutou em consentir na sua nomeação, pelo governador Pedro
Gondim, para o cargo de Advogado de Ofício (equivalente hoje ao cargo de
Defensor Público), alegando que não fazia jus a essa promoção, pois, não havia
prestado nenhum concurso para tal cargo. Somente aceitou a nomeação quando o
governador lhe perguntou em tom ponderativo e de admoestação:
“Antônio, e quando você deixar de ser deputado ou secretário, vai viver
de quê? O cargo para o qual lhe nomeio, não será uma sinecura. Você terá que
trabalhar para auferir um salário. Ademais, você tem uma família para criar!”.
Diante desse aconselhamento governamental contido de advertência,
Antônio Nominando aceitou a nomeação que foi por muito tempo, responsável pelo
seu sustento e de sua família.
Antônio Nominando era também um intelectual refinado. Exímio
orador, poeta, compositor e escritor, pois, apesar de ter publicado apenas uma
obra “Arco Iris” ainda aos 14 anos de idade, redigia para jornais e escreveu várias
crônicas que não foram publicadas. Tinha como lazer preferido, promover “saraus
domésticos” quando, juntamente com sua esposa, dona Celina, tocava sanfona,
acompanhado pela mulher que dedilhava muito bem o teclado de seu piano. Colhido
do livro do escritor princesense Paulo Mariano: “Princesa – Antes e Depois de 30” pp.173: “(...) Segundo José
Leal, no livro Dicionário Bibliográfico
Paraibano (sic), Antônio Nominando é um poeta espontâneo, autor de
quadrinhas saborosas, inspiradas nos incidentes da vida parlamentar”. Vários
foram os discursos proferidos por Nominando ao longo de sua carreira política e
como advogado. Algumas de suas falas em palanques eleitorais se fizeram
antológicas, como as que reproduziremos a seguir, também extraídas do livro, de
minha autoria, anteriormente mencionado. Esse primeiro discurso foi pronunciado
por ocasião de um comício realizado na Rua da Lapa, onde se localizava o Cabaré
de Princesa, na campanha eleitoral de 1968, quando doutor Antônio foi candidato
a prefeito. Encerrando aquela concentração cívica, o candidato, se referindo às
prostitutas, assim discursou:
“Chamam-nas de mulheres de vida fácil. Porém, quão difícil é entender onde está a facilidade de uma vida, quando se é obrigado a corromper o santuário do corpo para adquirir o sustento para a sobrevivência. São, portanto, mulheres de vida difícil, dificílima, que sofrem o preconceito das elites para, de forma imoral, proporcionar a moralidade. São mulheres que dormem tarde, como guardas noturnos, velando pela segurança das famílias de bem.”.
Este segundo discurso, proferido na mesma campanha eleitoral,
foi inspirado por uma carreata promovida por seus adversários (Miguel Rodrigues
e Joaquim Mariano) quando eleitores adversários embriagados, passaram pela
frente de sua da casa, gritando: “Vitória! Vitória!” Em comício no dia
seguinte, Antônio respondeu com o seguinte discurso:
“Enganam-se aqueles que proclamam antecipada a vitória de
seus candidatos. O povo de Princesa já decidiu quem será seu próximo
governante. A vitória a que esses desavisados se referiam a gritar, ontem à
noite, perturbando o descanso das pessoas de bem, era a vitória que estava
impregnada em suas cabeças e que, certamente, hoje, estava fazendo mal a seus
fígados, pois, tratava-se de estímulo provocado pelo líquido, que é a alma das
garrafas, produzido pela destilaria de Vitória de Santo Antão. Líquido que lhes
tira o juízo e a capacidade de ver que o vitorioso será o povo, com a
candidatura deste que vos fala, para Prefeito de Princesa!”.
O fim
Após deixar o
cargo de prefeito de Princesa, doutor Antônio Nominando retornou a João Pessoa
quando se candidatou novamente a deputado estadual, empresa na qual logrou
êxito, em 1974, chegando, nessa legislatura a ser eleito presidente da
Assembleia Legislativa. Tentou se reeleger em 1978, mas foi derrotado. Aliás,
ficou na história daquela Casa Legislativa, como o único presidente da
Assembleia Legislativa, no exercício do cargo, a disputar a reeleição e ser
derrotado. Em 1982 candidatou-se novamente a deputado estadual quando sofreu
mais uma derrota eleitoral e abandonou, definitivamente, a lide eleitoral
passando o bastão de comando da política princesense e dos municípios em que
exercia influência ao seu filho Antônio Nominando Diniz Filho (Totonho). Doutor
Antônio era assim, não investia financeiramente para obter sucesso nas
eleições. Apresentava-se como candidato contando apenas com seu patrimônio de
propostas, obras e ações em prol do Estado e das pessoas. Residiu o resto dos
seus dias na capital do Estado. Desinteressado por tudo e sofrendo surtos de
depressão, veio a falecer em março de 2001 aos 79 anos de idade. Seus restos
mortais repousam no cemitério “Campo Santo” de Princesa. Pelo seu amor e
dedicação a sua terra e pela retidão de seu caráter está, Antônio Nominando
Diniz, para sempre entronizado como um dos mais ilustres filhos de Princesa.
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