sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Ler para conhecer a nossa história


A BRIOSA: história da Polícia Militar da Paraíba

Este livro de autoria do coronel reformado da Polícia Militar da Paraíba, João Batista de Lima, foi lançado em 2000 pela Gráfica e Editora A União – João Pessoa/PB, e agora em 2013, relançado em edição revista e ampliada. Contido de 295 páginas, trata da participação da Corporação Militar Paraibana em vários eventos e conflitos, dando ênfase à Revolta de Princesa. Embora aborde, com intenção detalhista, alguns dos vários fatos referentes à Guerra de Princesa, a obra peca por seu facciosismo e exacerbada parcialidade. O capítulo 3 – A Campanha de Princesa, é dedicado aos acontecimentos ocorridos entre os meses de fevereiro e agosto de 1930. Já no início, na página 104, o autor faz uma ode ao presidente João Pessoa quando se refere ao rompimento político entre este e o coronel José Pereira Lima, o que culminou com o movimento armado colocando Princesa em luta contra a polícia paraibana. João Batista define o presidente João Pessoa, recém empossado, em outubro de 1928:

“Egresso da magistratura, onde exerceu as funções e Ministro do Superior Tribunal Militar, João Pessoa exerceu o Governo com imparcialidade e voltado para os problemas sociais, de tal forma que, de imediato, angariou a simpatia do povo, tornando-se um grande líder popular”.

Para um pesquisador atento em busca da verdade, este livro presta um desserviço à história. Em relação à citação acima: primeiro, João Pessoa não cuidou de reformas sociais, mas sim da reforma tributária e política. Segundo, nunca angariou a simpatia popular do povo da Paraíba. Sua aceitação era restrita à população do litoral. No Sertão, dominado pelos coronéis a quem ele perseguia, sua popularidade inexistia. Na página seguinte (105), Batista, eivado de vontade de endeusar João Pessoa, escreve esse absurdo:

“Uma das mudanças que João Pessoa defendia era a reforma eleitoral, com a instituição da Justiça Eleitoral e do voto secreto, o que por certo, não agradava aos políticos tradicionais que se elegiam através do chamado voto de cabresto ou dos currais eleitorais. Essas ideias, por certo, inquietavam a José Pereira e tantos outros Coronéis da Política. Esse fato e uma possível ligação com o Governo Federal podem ter contribuído para que José Pereira, já no final da campanha (eleitoral) resolvesse romper publicamente com João Pessoa, o que foi formalizado através de um Radiograma datado de 23 de fevereiro, portanto, seis dias antes da eleição. A justificativa apresentada por José Pereira foi confusa, ora se reportando a sua exclusão da lista de candidatos a Deputado Federal, feita por João Pessoa, ora alegando comentários desairosos feitos pelo Presidente contra sua pessoa, em reunião da cúpula do Partido Governista. O fato é que a partir de então – José Pereira rompia politicamente com João Pessoa”.

O recorte que reproduzimos acima está completo de inverdades. Logo que assumiu o governo da Paraíba, João Pessoa dedicou-se a promover o desarmamento dos coronéis e o desprestigiamento dos vários chefes políticos do interior. Não bastasse isso, desmontou todo o esquema tributário vigente, impondo novas taxas de impostos – no mais das vezes exorbitantes – o que tornou proibitivo o comércio do interior com a praça do Recife. Nada de reforma eleitoral nem voto secreto. Aliás, essas são pautas a serem tratadas pelo Governo Federal e não por um mero presidente de Estado. Quando se refere aos motivos do rompimento também se engana: José Pereira nunca postulou a candidatura de deputado federal. O coronel defendia a manutenção do nome do ex-presidente João Suassuna na chapa e não o seu próprio.

Na mesma página (105), o autor se refere aos homens convocados pelo coronel José Pereira como “cangaceiros”, afirmando de forma inversa que esses “cangaceiros” foram recrutados para que fosse impedida a realização das eleições de 1º de março de 1930 em Santana dos Garrotes e Piancó. Se engana, o autor, pois ocorreu exatamente o contrário: a polícia paraibana, sob o comando do tenente Ascendino Feitosa, invadiu Teixeira, justamente para impedir que as eleições ali acontecessem, uma vez saber, o presidente João Pessoa, que a chapa apoiada pelo coronel Zé Pereira teria a unanimidade dos votos. Essas afirmações põem em dúvida e tiram a credibilidade do resto da narrativa. O empenho do autor em louvar o presidente João Pessoa, em negativa de verdades históricas, desmerece toda a obra.

Na página 119, João Batista de Lima informa que no dia 27 de julho daquele ano de 1930, a Coluna Oeste, sediada no distrito de Tavares, tomou conhecimento do assassinato de João Pessoa, através de um mensageiro vindo de Alagoa Nova (atual Manaíra) e que:

“A vontade da Tropa era invadir Princesa, independente de ordem e vingar a morte de João Pessoa, que era atribuída às ações desenvolvidas por José Pereira. Nesse clima, a Coluna ficou no aguardo de munições e ordens para o ataque. (...) Um grupo de fazendeiros da região, leais ao Presidente João Pessoa, tinha se comprometido a fazer esse abastecimento, porém não tinha como cumprir essa tarefa. Manter uma tropa de 400 homens durante tanto tempo, exigia grande quantidade de alimentos, que era denominada de “munição de boca”.

Invadir Princesa, naquele momento, era quase impossível. Após o assassinato de João Pessoa, o coronel Zé Pereira concentrou 80% dos seus homens, mobilizados na cidade de Princesa e nos seus arredores, o que somava mais de 1000 lutadores, enquanto o contingente restante da Polícia Militar não somava 200 homens. Inverdade também a afirmação de que fazendeiros “leais” ao presidente morto se dispunham a ajudar os efetivos da polícia. No Sertão de Princesa, o coronel José Pereira gozava da adesão unânime à sua causa.

Esta obra, que se propõe a contar a história da briosa polícia paraibana traz em seu bojo pecados inadmissíveis em se tratando de resgate ou rememoração histórica, uma vez cuidar de fazer proselitismo da figura de João Pessoa em detrimento da verdade, um verdadeiro desserviço à história. Pelo menos no que trata da Guerra de Princesa, é uma leitura completamente dispensável por nociva à verdadeira compreensão dos fatos. A obedecer o critério estabelecido pelo autor deste obra, o brilho da Briosa Polícia paraibana pode ficar por demais comprometido.

João Batista de Lima ingressou na Polícia Militar da Paraíba em março de 1973. Galgou vários postos até alcançar a patente de Coronel. Em 2003 passou para a reserva remunerada e a partir de então exerce funções advocatícias com escritório em João Pessoa, onde reside atualmente.







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