PEDRO ANDRÉ DE LIMA nasceu no Sítio Várzea, município de
Princesa, em 19 de agosto de 1913. Era filho de Manoel André de Araújo e de
dona Maria Águida do Espírito Santo. Em 1947, casou-se com dona Rosa Maria de
Lima com quem teve 16 filhos, porém, só vingou uma menina de nome Maria de
Fátima. Viúvo, em 1963 contraiu segundas núpcias com dona Eva Lopes de Lima.
Deste segundo casamento nasceram cinco filhos, destes, quatro sobreviveram:
Manoel; Maria do Socorro; Joseane e Francisco de Assis.
Pedro André ficou órfão de pai com apenas 09 anos de idade e,
na qualidade de filho mais velho teve que trabalhar para ajudar a mãe no
sustento da família. Mesmo assim, conseguiu conciliar a labuta diária na roça
com os estudos. Interessado em alfabetizar-se, foi em frente e conseguiu concluir
o curso primário (equivalente hoje à 1ª fase do ensino fundamental). Além de
interessado pelos estudos, tinha também grande aptidão para as letras e logo
assimilou excelente aprendizado do português, sendo também exímio no fazimento
de contas. Em face dessa capacidade adquirida na escola, somado à sua inata
curiosidade, logo se tornou professor particular no Sítio onde nasceu. Começou
aí o seu contributo àquela comunidade (Várzea) da qual nunca se apartou.
CASA COMERCIAL DE PEDRO ANDRÉ NO SÍTIO
VÁRZEA
A seca e o comerciante
Em 1932, quando Pedro André tinha apenas 19 anos de idade,
abateu-se sobre o Nordeste uma das secas mais rigorosas de que se tem notícia
na história do semiárido brasileiro. Por força dessa estiagem, o nosso
biografado teve de sair de sua rotina intelectual e de trabalhos normais, para
sair em busca de serviço para prover o sustento de sua mãe e de seus irmãos.
Foi para a cidade de Patos/PB onde se alistou numa “Frente de Emergência” (grupo
de trabalhadores braçais, providos pelo Governo, para a execução de pequenas
obras públicas) e foi dali designado para trabalhar nos municípios de Piancó/PB
e de Catingueira, também na Paraíba.
Desse trabalho pesado, construindo estradas, barreiros de
açudes, recebia algum dinheiro, retirando um pouco para o seu sustento e
trazendo a maior parte para a casa de sua mãe na Várzea. Para tanto, muitas
vezes fez o percurso, dessas cidades até sua terra, a pés. Nesse périplo em
busca do sustento da família, chegou a trabalhar em Campina Grande. Porém, dali
não vinha caminhando a pés, mas sim em caronas proporcionadas pelo caminhão do
alto comerciante princesense, Sebastião Medeiros. Nessas viagens em que, como
vimos, conheceu o dono da “Casa Estrêla” (maior empório comercial da região
polarizada por Princesa), logo fez amizade com Sebastião Medeiros que sempre
viajava a Campina Grande com a finalidade de fazer compras para seu
estabelecimento comercial.
Finda a seca, já nos anos 40, estimulado pelo sucesso
comercial de Sebastião, Pedro resolveu entrar no ramo dos negócios. Começou
timidamente vendendo rapaduras na feira de Princesa. Fruto de sua organização e
tino comercial, em pouco tempo o negócio foi prosperando e logo, André, comprou
uma casinha na Várzea e estabeleceu ali uma pequena bodega onde vendia, além
das rapaduras, querosene, feijão, milho, café, fumo de rolo, dentre outros
produtos. Amigo de Sebastião Medeiros tornou-se também seu freguês na compra de
suprimentos para seu pequeno estabelecimento comercial.
Nos anos 50, já casado com Rosa, seu comércio não parava de
crescer. Para atender à demanda dos muitos fregueses, ampliou o espaço físico,
contratou mais empregados e passou a comprar mercadorias não mais a Sebastião
Medeiros, mas, direto no Recife. Nessa época, sua antiga bodega sofisticou-se e
virou um empório onde se vendia quase tudo. Além do milho, feijão, algodão e
mamona, negociava também: linhas, botões, fitas, rendas, bicos bordados,
agulhas e até tecidos finos e de algodão.
Prosperidade e filantropia
Nos anos 60, Pedro André, já era tido como um homem rico.
Além de comerciante, era também criador de gado e grande agricultor. Seu
estabelecimento comercial - o único daquele porte sediado num Sítio - era
referência em qualidade, diversidade de produtos e volume de vendas. Já casado
com Eva e muito católico, o nosso biografado levava uma vida tranquila e por
isso, começou a dedicar-se com mais assiduidade às coisas da religião. Ia à
missa todos os dias, quando fazia, a pés, o percurso da Várzea para Princesa.
Na igreja, ajudava aos padres nas celebrações. Membro da “Conferência de São
Vicente de Paulo”, Pedro exercitava na íntegra os ensinamentos daquela
associação quando não se furtava em ajudar aos mais necessitados. No mais das
vezes, comprava pães e saía distribuindo pelas casas dos mais necessitados.
Além de “Vicentino” Pedro André era também pertencente à
Ordem Francisca Secular e ao Apostolado da Oração. Amigo dos padres, ele sempre
os acompanhava em suas missões sacerdotais nos povoados que pertenciam a Princesa:
Cachoeira de Minas, Patos de Irerê, São José, etc. Por conta disso, desenvolveu
laços de amizade com vários dos frades da Ordem Carmelita que aqui exerceram
seu ministério, a exemplo de frei Casanova; frei Manoel Carneiro Leão; frei
Anscário Hillebrand; frei Carmelo; frei Alberto Carneiro Leão; frei Anastácio
Palmeira, dentre outros. Em face dessa amizade, sempre solicitava dos padres o
obséquio de prestarem assistência espiritual aos doentes que conhecia, quando
os levava para receber a confissão e ministrar a eucaristia àqueles que não
podiam se locomover. O mesmo afã teve, Pedro, quanto à arrecadação de
contribuições para viabilizar a construção da nova igreja Matriz de Princesa no
final dos anos 60. Amigo do médico doutor Severiano, ia também, Pedro André,
quando necessário, buscá-lo em Triunfo/PE para receitar os pobres necessitados
do Sítio Várzea e adjacências. Era um filantropo, que praticava a religião em
sua essência e cultivava o prazer de servir a todos, de forma indiscriminada.
O Brincalhão
Em que pese sua vocação para o altruísmo e a consequente
caridade, Pedro André definia bem as coisas quando dizia: “Caridade é caridade e negócio é negócio”. Quando decidido a
ajudar, não media esforços. Porém, quando vendia fiado em seu estabelecimento
comercial, não perdoava as dívidas dos velhacos. Em sua bodega estava sempre de
bom humor e gostava de tirar brincadeiras com todos. Certo dia, um freguês, muito
bom pagador e pai de família numerosa, devido à crise financeira por que
passava, demorou a pagar sua dívida e, depois de certo tempo, chegou pedindo
sua conta. Porém, depois de tanto tempo de atraso, Pedro não conseguia
encontrar o caderno em que estava anotado o débito. Procurava e não encontrava.
Vendo isso, o freguês, já animado, disse: “Esse
velho parece que já está doido ou caducando”. Pedro parou de procurar o
caderno, virou-se para o “velhaco” e respondeu: Doido ou caduco, eu estava no dia em que te vendi fiado!”. Doutra
feita, um outro freguês que já o havia enganado uma vez, apareceu na bodega,
pensando que Pedro se havia esquecido do débito e solicitou fazer uma feirinha
fiado. De chofre, o comerciante disse: “Vendo
não!”. O freguês insistiu: “Mas,
“seu” Pedro, tão conhecido que sou, o senhor não vai me vender?”. Sem dar
maior atenção, André respondeu: “És muito
conhecido por velhaco, por isso não vendo. Pensas que estou esquecido?”.
Nominandista empedernido
Além das atividades comerciais e religiosas, Pedro gostava
também de politica. Não da politicagem baixa, mas, da política partidária. Era
correligionário inquestionável da família Nominando Diniz. Nunca se apartou do
Partido de “seu” Mano. Era tão fiel que contam sobre ele uma história
engraçada. Dizem que, certo dia, ia Pedro André, a pés, da Várzea para Princesa.
Ouvindo a zoada de um carro que vinha na mesma direção, olhou para trás e,
reconhecendo ser aquele veículo, o jipe de Gonzaga Bento, entrou na capoeira
para que não fosse obrigado a aceitar uma carona de um adversário político.
Dizem os mais velhos, que essa estória era contada pelo próprio Gonzaga Bento, que
o fazia às gargalhadas quando acrescentava ser Pedro André, apesar de seu
adversário político, um grande amigo.
Falar em amigos, Pedro André tinha muitos e fieis amigos, a
exemplo de João Brandão; Luís Antas; Manoel Andrelino; João Mandu, dentre
outros. A opção de rememorar a vida desse princesense atem-se ao inusitado que
foi a sua longa existência. Um homem pobre, advindo da Zona Rural e que nela
própria construiu seu sucesso quando ali se fez líder, merece esta homenagem
pelo muito que representou na qualidade de self
made man que protagonizou sua saga de vida. Por tudo isso, está Pedro André
de Lima, entronizado na galeria dos princesenses ilustres.
Parabéns a ambos: biógrafo e biografado. Realmente o senhor Pedro André merece todas as homenagens. Será que há alguma rua com seu nome em Princesa? Acredito que não!
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