terça-feira, 10 de maio de 2022

Repentes Memoráveis II

Certa vez estava, o poeta princesense, João Paraibano, participando de uma festa quando se excedeu na bebida e, por causa de ciúmes, brigou com sua esposa, chegando a agredi-la fisicamente. Detido pela polícia, na Delegacia, aos prantos, declamou, de improviso, esses primorosos versos:

Doutor, eu sei que errei

Por dois fatos: dama e porre

Por amor se mata e morre

Eu nem morri, nem matei

Apenas prejudiquei

Um ambiente de classe

Depois de apanhar na face

Bati na flor do meu ramo

Me prenderam porque amo

Quanto mais se eu odiasse.

 

Poeta mesmo ofendido

Sabe oferecer afeto

Faz pena dormir no teto

Da morada de um bandido

Se humilha, faz pedido

Ninguém escuta a voz sua

Não vê o sol nem a lua

Deixar o espaço aceso

Porque um poeta preso

Com tantos ladrões na rua?

 

Doutor, se eu perder o nome

Não acho mais quem empreste

A minha mulher não veste

Minha filhinha não come

E a minha fama se some

Para nunca mais voltar

Não querendo lhe comprar

Mas, humildemente peço:

Se puder, rasgue o processo

E deixe o poeta cantar.

 






 

 

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