sábado, 30 de julho de 2022

O MAJOR FELICIANO FLORÊNCIO E O INTERVENTOR RUY CARNEIRO

     O major Feliciano Rodrigues Florêncio era um homem austero e afeito às convenções sociais e sempre exigia que fossem as mesmas respeitadas. Certa vez, por ocasião da visita do então interventor (equivalente a governador) do estado da Paraíba, Ruy Carneiro, a Princesa o major procurou saber onde estava hospedada a autoridade e resolveu ir visitá-la. Para tanto, logo ao amanhecer do dia, chamou sua esposa e disse:

     - Mulher, ajeita meu “liforme” e meus “botins inglês” que eu vou visitar o governador.

     Atendido em sua ordem pela mulher, aprontou-se todo e partiu em seu desiderato. Chegando à casa onde dormira o Interventor, fez-se anunciar e, todo enfatiotado, sentou-se a uma poltrona e ficou a aguardar o aparecimento do chefe do Governo do Estado. Em poucos minutos, adentrou Ruy Carneiro à sala onde estava o major. Logo que pôs os olhos na figura da autoridade, o major espantou-se com os trajes do interventor que se encontrava de pijamas e uma toalha enrolada no pescoço. Sem titubear ou fazer cerimônias, Feliciano foi logo dizendo:

     - Espere meu sinhô! Isso é estilo de um governador de Estado receber as visitas? Volte, troque de roupa e venha me receber.

     O interventor ficou encabulado e falou:

     - Eu não quis dar maçada ao senhor; peço que me desculpe, realmente fui muito indelicado, major.

     Mesmo assim, o major insistiu:

     - Tá o diabo! Onde já se viu uma falta de estilo dessas, meu sinhô? Vá se aprontar que eu fico esperando.

   O major Feliciano era assim. Não tinha papas na língua, tampouco distinguia a quem dizer o que pensava. Nesse caso, para ele, a investidura num cargo público de relevância deveria também ser acompanhada de indumentárias adequadas e compatíveis, uma vez que, no seu entender, o respeito deveria ser mútuo, ou seja: teriam que se apresentar compostos, tanto o visitante quanto o visitado. Para o major, que nunca se achou menos importante do que ninguém, as “importâncias” eram as mesmas. 

                         


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