quinta-feira, 6 de outubro de 2022

NOMINANDO DINIZ NETO

NOMINANDO DINIZ NETO, mais conhecido como Manito, nasceu em Princesa em 15 de fevereiro de 1944, era filho de José Nominando Diniz e de dona Laura Dantas Diniz. Neto do líder político princesense, Nominando Muniz Diniz (“Seu Mano”), era o querido do chefe do clã “Diniz”. Perdeu o pai muito cedo e foi criado pelo avô. Casou-se com dona Rosa e teve, com ela, dois filhos: Júnior (que levava seu nome) e Cinthia. Pulou a cerca e constituiu família com uma nissei em São Paulo com quem teve mais dois filhos. Alguns podem até questionar porque incluo Manito nessa Antologia de princesenses ilustres e eu, aproveito para justificar essa inclusão.  uma pessoa de grande coração, inteligente e dono de privilegiada presença de espírito. Em que pese seu comportamento, muitas vezes, dissonante dos padrões exigidos pela sociedade quando, contumaz consumidor de bebida alcoólica e farrista por excelência, era também de grande coração e, em sua profissão de advogado, um grande causídico. Se não inscrito na relação de advogados famosos, ricos e bem-sucedidos, foi reconhecido em Princesa como o defensor dos pobres e desvalidos, uma vez que sempre esteve à disposição dos despossuídos para defendê-los, gratuitamente, junto aos tribunais.

Advogado e político

Formado em Ciências Jurídicas pela UFPB – Universidade Federal da Paraíba foi, por obra e graça do prestígio do avô, nomeado Advogado de Ofício (o equivalente hoje a Defensor Público). Nessa condição, veio “destacar” na Comarca de Princesa onde esteve presente sempre - não por obrigação, mas, por prazer -, a defender aqueles mais necessitados que o procurassem no exercício de seu mister. De família política, viu-se, Manito, submetido às urnas – não por vontade própria, mas, por imposição familiar -, quando se candidatou a deputado estadual no pleito que se realizou em 1970. Não logrou êxito nas urnas, porém, obteve uma expressiva votação na região polarizada por Princesa. Esses votos, além do prestígio familiar, lhes foram dados, gratuitamente, pelo muito que sempre fez pelos mais pobres quando os defendia sem nenhum interesse financeiro junto à Justiça e às Delegacias de Polícia. Era, o neto de “seu” Mano, conhecido como o advogado dos pobres. Abraçava as causas daqueles que não tinham com que pagar e o fazia com muita dedicação como se dinheiro estivesse ganhando. Certa feita, quando defendia um homicida do município de Água Branca, que havia cometido duplo assassinato (matou a mulher que o traía e o “urso” que a “comia”), após emocionante discurso em defesa de seu constituído que havia sido “covardemente” traído pela mulher, o nosso advogado perorou da tribuna do Fórum:

“Vejam, senhores jurados, quão humilhante é a situação desse “corno”. Aqui, cabisbaixo na sua vergonha de haver sido traído pela mãe de seus filhos. Traído covardemente, repito, enquanto trabalhava para adquirir o sustento da família. Se não mereceu o respeito da esposa a quem amava e respeitava, deve merecer a compaixão dos senhores jurados e ser livre para continuar sua faina diária em busca do pão de cada dia para sustentar sua numerosa prole. Coloquem-se, os senhores, neste momento, no lugar desse “corno” e entenderão sua atitude que foi tão somente um ato em defesa de sua própria honra, que foi maculada por uma mulher a quem amava, confiava e respeitava!

Após esse discurso contundente e apelativo de Manito, o senhor promotor de Justiça apresentou aos jurados o “pau” usado pelo réu para matar sua mulher e o amante. O instrumento do crime, medindo aproximadamente um metro, continha, ainda, manchas de sangue, ao que protestou, junto ao meritíssimo juiz, o “advogado dos pobres”, dizendo:

“Senhores jurados, eu garanto-lhes que o “pau” que provocou a desonra desse “corno”, era muito maior do que esse que o senhor promotor nos apresenta agora!”.

O discurso surtiu efeito. Após a votação dos jurados, o réu foi absolvido por sete votos a zero.

O espirituoso

Certo dia, Manito, espirituoso e engraçado que era, estava observando os trabalhos da construção da “Estrela” na Praça “Dona Nathalia do Espírito Santo” – obra encetada pela administração do então prefeito e seu tio Antônio Nominando -, quando acompanhado pelo correligionário Gerson Patriota (um curioso de obras e com fama de sabe-tudo), que preocupado com a grande quantidade de lama que deveria ser removida daquela lagoa para que pudesse ser construída a referida “Estrela”, perguntou ao mestre de obras:

                               “Diga-me uma coisa: como farão para retirar essa lama toda no braço?”. Manito antecipou-se ao chefe dos trabalhos e disse; “Ah, Gerson, esse serviço vai ser feito com o aritendel!”. Aí, Patriota assentiu em tom de convencimento: “Ah! Com o aritendel é outra coisa!”. Manito virou-se prá Batista de Nequinho, mestre de obras que estava ao seu lado e perguntou; “O que diabo é aritendel?”.

Ele era assim, espirituoso, inteligente e engraçado. Fazia a festa nas rodas formadas nas calçadas e nas mesas de bar. Detentor de amplo conhecimento das coisas e de verve fácil se fazia entender por todos quando confabulava sempre de forma divertida, sem escolher plateia, fossem adversários ou correligionários. Generoso e desapegado às coisas materiais era sempre pródigo com os outros e, quando defendia alguma causa em que auferia algum honorário, fazia a festa pagando bebida e comida pra todo mundo. Por conta desse comportamento, durante sua convivência com os princesenses, nunca constituiu nenhuma inimizade sendo sempre amigo de todos.

O trágico e prematuro fim

Em que pese todas essas qualidades, foi Manito, punido pelo destino quando misteriosamente assassinado em 27 de maio de 1995, aos 51 anos de idade, ocasião em que dormia em sua residência em João Pessoa/PB, com um tiro na cabeça – crime que já completa 27 anos –, ocorrência nebulosa que até hoje não teve solução quanto aos autores dessa violência e que deixou, a alguns de seus familiares e a muitos amigos, além de saudade daquele que, somente com sua presença e sua luminosa inteligência, preenchia o vazio da tristeza que nunca foi sua companheira, dúvidas atrozes quanto aos autores de seu assassinato quando as maiores suspeitas recaíram sobre seus próprios familiares (mulher, filhos e genro). Diante desse mistério que persiste até hoje, resta-nos lamentar e homenageá-lo por tudo o que representou para Princesa, inscrevendo Nominando Diniz Neto, Manito, como um dos ilustres filhos desta Terra.




 

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