sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

ILUSTRES ANÔNIMOS DA MINHA TERRA

Já fiz rimas pros juízes

Doutores da minha serra,

Já falei das meretrizes

Que vive uma eterna guerra,

Mais agora vou mudar

Pra dar espaço e falar

Dos Ilustres da Minha Terra.


Começo por João Caití

Que se fez um soberano,

Em todo boteco aqui

Foi freguês de muitos anos,

Rugas em seu rosto vinga

Por causa da amiga pinga

Que agora traçou seus planos.


Falo também de Zé Grosso

Duma feição maltratada,

Homem forte, alto e moço

Que vive além e do nada,

Sua vida é um sofrimento

Anda dando passamento

Rolando pela calçada.


Teve o professor “Tózim”

Um homem de meia idade,

Que andou até o fim

Pelas ruas da cidade,

Já falou bem estrangeiro

E no Rio de Janeiro

Trabalhou em Faculdade.


Falo de ‘meu’ Zé Miranda

Que o brejo nos presenteia,

Por aqui quando ele anda

Sempre alguém lhe aperreia,

Dizia com vaidade:

-Aqui na vossa cidade

Sou o campeão de cadeia.


Teve um cidadão calado

Que andava sempre só,

Preguiçoso, encapotado

Fala mansa, ‘bocoió’,

 Um cabra novo ‘mufino’

De um certo modo granfino

Que atendia por Cocó.


Santo Antonio “o cobrador”

De distinta prontidão,

Fama de namorador

E de um bom cidadão,

É gago do início ao fim

E se fizer atchim

Joga pedra até no cão.


Sete Couro andava penso

Já era seu natural,

Sem documento e sem lenço

Levava a vida normal,

Com sua japona preta

Ele saía careta

Em dias de carnaval.


Tião Badé o galã

Namorador de muvuca,

Tereza sua eterna fã

Nunca lhe tirou da cuca,

Por aqui foi campeão

E não nasceu um cidadão

Pra lhe bater na sinuca.


“Seu Musa”, este foi bravo

Sempre vagou por aí,

Descendente de escravos

Também viveu por aqui,

Sem leitura, sem esquema

Foi órfão desse sistema

Foi guerreiro de Zumbi.


E Maria de João Costa

Toda festa era no pé,

Eu até faço uma aposta

Que você sabe o que é,

Numa mesa preta e tosca

Ali se vendia rosca

Seguido de capilé.


‘Luis Borná’ ou Lulinha

Sempre pronto em bacanagem,

Nunca desviou da linha

Pra fazer uma malandragem,

Cabeceiro da mão cheia

Um bonachão sem ‘pareia’

Que amava uma vadiagem.


“Ciço de João Vermelho”

Um ‘galeguim’ bem rosado,

Era toda hora no espelho

Fazendo seu penteado,

Ele amava uma branquinha

Bem cedo, de manhãzinha

Foi malandro diplomado.


Vou falar de Mané Gato

Boêmio de botequim,

Um vivedor desses nato

Que nunca passou ruim,

Pra pintor não tem ‘pareia’

E deixou Princesa cheia

Com o diabo dum ‘pantim’..


Com a voz de locutor

Chegado a um rabo de saia,

cabra bom namorador

Chefe da Rua da ‘Paia’,

Quero aqui mencionar

O Ricardão do lugar

 “Espedito Pade Maia”.


Vou prosseguir e ressalto

Com um cidadão decente,

Nosso ‘Cíço de Adauto’

O seu bigode e seu pente,

Na cachaça é outra linha

Responde por Estrelinha

E é doido pra matar gente.


Não posso esquecer jamais

Do cantor do coração,

Desse boêmio que faz

Chorar gente e violão,

É um galante matreiro

Que quando fala em Cruzeiro

Só lembra ‘Paulo Bocão’.


Tem também outro galã

Taxista há muito anos,

Que de outro galã é fã

E se faz tão soberano,

Provocando redevur

Nosso ‘Bosquim de Lulu’

É o Waldick Soriano.


Vou lembrar de um cidadão

Muito alegre, gozador

Ele é um bonachão

Um boêmio pescador,

Grande amigo do juiz

Por aqui vive feliz

E atende por Pecador.


Boêmio irremediável

Mecânico de qualquer frota,

Edelson foi um sujeito

Sempre pronto na lorota,

Por aqui foi bom rapaz

Amante dos carnavais

E a vida inteira por Cota.


Lembro aqui de Passarinho

Vendendo castanha assada,

Dizendo que Zé Galego

Morreu nessa madrugada,

Esse também tem um amor

A companheira Silô

Sua eterna namorada.


Também não posso esquecer

Nem se omitir da refrega,

Desse que me fez correr

E um dia quase me pega,

Morava num esconderijo

Fedia demais  a mijo

E se chamava ‘Burra Cega’.


Manézinho da carroça

Vou aqui também dizer,

Nunca usou meia e sapato

E se lhe oferecer,

Uma troca na carroça

Por uma morena grossa 

Ele diz não. Pode crer.


Nessa lista masculina

Jamais eu posso esquecê-la

dessa linda concubina

Que os homens sorriam ao vê-la,

A visita era sagrada

Domingo comprar buchada

No cabaré de ‘Estrela’.


Mas também como esquecer

Da Maria Catabí,

De Maria Bate Birro

Que viveu bem por aqui,

Me lembro bem de Arlinda

Fia Côca sempre linda

Com seu look por aí.


E ainda tinha Dasdores

Que morreu numa coivara,

Tinha Bem, tinha Clotilde

E também Rosa Muvara,

Maria Doida guereira

Que vem sua vida inteira

Novinha com a mesma cara.


Nesta lista ainda tem

O velho Mané Pitita,

Chico Raposa, Coquinho

Pamonha que corre e grita,

Dormia la no vapor

Gritava, fazia horror 

Deixando a cidade aflita.


E agora pra terminar

Me desculpe alguma falha,

Mas falo ainda em Fugêncio

Também em Rasga Mortalha,

Relembro  Zé Marcelino

Zé Maceió um menino

Que come toda migalha.


Você pode contestar

Discordar do que rimei,

Pode até ignorar

Das figuras que eu falei,

Não tem brasão de nobreza

Mas ‘Ilustres em Princesa’

Só são esses que eu citei.


Poeta cordelista

Rena Bezerra




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