quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

O rei da merda

É quase impossível fazer, num escrito de poucas linhas, uma análise pobre, sobre personalidade tão polêmica e estéril quanto o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. No entanto, vamos lá. O que aconteceu no último dia 08, em Brasília, quando seguidores radicais do ex-presidente, invadiram as sedes dos Três Poderes da República, praticando todo tipo de vandalismo, num ato terrorista nunca visto no Brasil, se constituiu em algo estarrecedor e revelador do legado deixado por Bolsonaro.

Passados os primeiros momentos, esfriados os ânimos e abaixada a poeira, constata-se que, tudo isso, não teria acontecido, não fora o comportamento instigador do golpismo que Bolsonaro adotou desde o início do seu mandato como presidente da República. Esteve sempre a desafiar os demais Poderes, a descredenciar as urnas eletrônicas e a desmerecer tudo o que não faz parte da ideologia de extrema-direita fascista e negacionistas que ele tanto preza.

Jair Bolsonaro incentivou o uso e a disseminação de armas de fogo; promoveu o desmonte da legislação que protege o Meio-ambiente; facilitou o desmatamento da Amazônia; boicotou verbas destinadas à Educação, à Saúde e à Cultura; incentivou e participou de manifestações antidemocráticas e, o que se constituiu mais grave, negou a gravidade dos efeitos da Covid-19 quando retardou vacinas, e recomendou o uso de medicamentos ineficazes, além de fazer pantomimas ridicularizando das pessoas acometidas pela doença.

Não bastasse isso, o então presidente agiu sempre à revelia da liturgia do cargo. Emblemático quanto a isso, foi o comportamento de Jair Bolsonaro quando, por ocasião das comemorações do Bicentenário da Independência, no 7 de Setembro de 2022, transformou aquela importante efeméride num comício eleitoral em que, despudoradamente, diante de uma multidão, se disse “imbrochável”. Despreparado para o exercício da maior magistratura da Nação, o ex-presidente esteve sempre a dar provas de que não reunia condições de exercer, sequer, um cargo de vereador.

Tudo isso se fez bastante para criar um caldo de cultura que culminou (ainda bem) com sua derrota eleitoral, e também muito contribuiu para a criação de uma bolha extremista de seguidores radicais, manipulados por alguns segmentos religiosos e militares, além do amparo de vários empresários, por ele [Bolsonaro] beneficiados de alguma forma. Nada, portanto, se constituindo novidades, pois, desde os tempos em que exercia o cargo de deputado, o “mito” já agredia mulheres, negros, indígenas e quilombolas; defendia a tortura, etc.

Agora, já fora do poder e foragido do país, com o seu silêncio e, quem sabe, com a sua participação, vem contribuindo, como um incentivo, para a urdidura dessas ações antidemocráticas, golpistas, o que terminou com a tragédia ocorrida no último domingo. Fez merda demais, ao ponto de o pote esborrar. Nesse último ato, que se constituiu um tiro no pé, a bala saiu pela culatra. Sem apoio popular, uma vez que pesquisa aponta que 70% da população não aprova os últimos acontecimentos terroristas, o capitão está isolado e correndo o risco de responder, judicialmente, por seus desmandos irresponsáveis.

Lamentável essa situação, o que vem prestando um grande desserviço à Nação. Não fora a notória fortaleza da nossa jovem Democracia, adicionada à falta de respaldo da sociedade civil e ao repúdio da comunidade internacional, estaria o Brasil sob o risco de uma ruptura institucional. Em que pese haver [Bolsonaro] cooptado alguns segmentos militares em prol de suas intenções golpistas, tem prevalecido o bom senso, alimentado pela vocação libertária do povo brasileiro.




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