Entre as décadas de 60 e 70 do século passado, Princesa era
uma diminuta cidade, que se restringia a pouquíssimas ruas. É tanto que, a
periferias, eram os Bairros do Cruzeiro e do Cancão. Nesse pequeno e encantado
burgo, uma das maiores sensações era quando da chegada de um Circo, coisa que
acontecia com frequência. O Circo que mais gostávamos e que já tinha identidade
com a cidade, era o Circo da Viúva. Aqui chegava e aqui fazia morada. Armado no
final da Rua Nova, onde é hoje a Praça Epitácio Pessoa ou, em outras vezes, no
pátio do Cancão, passava meses apresentando seus espetáculos.
O Circo da Viúva passava temporadas tão extensas em Princesa,
que a elite do elenco daquela lona chegava a alugar casas, onde moravam por
vários meses. Mesmo assim, com o intuito de renovar o ânimo dos princesenses,
todo final de mês, havia um “espetáculo de despedida”, com casamento do palhaço
e tudo. Eram noites memoráveis. No mais das vezes, atraídos pela intensa
animação da música lá dentro, quando o vigia estava distraído, nós, meninos
pobres que não tinham dinheiro para pagar o ingresso, entrávamos pelos arames,
acompanhados por alguns adultos muquiranas.
São lembranças que não se apartam da minha memória. As gêmeas,
Jacklene e Jackleide, dançando de minissaia; o palhaço Xexéu com suas
divertidas brincadeiras; Rogério Almeida fazendo peripécias com sua motocicleta
no “Globo da Morte”; o mágico Wilson, acendendo um cigarro e arremessando
várias piolas, numa ilusão de ótica que nos deixava bestificados; Birôco e
Dorinha fazendo estripulias no trapézio; sem falar no malabarismo de Tinoco com
vários cones e bolas às mãos. Depois dessas apresentações preliminares,
findava-se, o espetáculo, com a apresentação do drama: “A Louca do Jardim”.
Era uma festa só. À tardinha, o palhaço saía, pelas ruas da
cidade, em pernas-de-pau, cantando o “Benedito Bacurau” e convidando a todos
para o espetáculo logo mais à noite. Os meninos e meninas que acompanhassem o
palhaço e respondessem à sua cantoria, recebiam um carimbo no braço e - sem
tomar banho para não apagar a tinta do carimbo -, tinham o direito de entrar de
graça no Circo. Havia espetáculos todas as noites. Os ricos, ficavam aboletados
nas cadeiras e, os pobres, atrepados nos poleiros. Na entrada do Circo, estava
Nana de Vigó vendendo rolete de cana e, lá dentro, Passarinho com sua tábua de
pirulitos e castanhola, e um menino vendendo o cavaco chinês de “seu” Manezim
Pereira.
Eram tempos memoráveis, românticos, naquela Princesa bucólica
onde todos se conheciam e, ao invés da maldade de hoje, havia muita inocência,
desprendimento e distância dos outros lugares. Aquilo era o nosso mundo, onde
valores decentes eram cultivados. Gostávamos de ler, de conversar e, até as
brincadeiras, tinham cunho cultural ou educativo. Não havia culto ao hedonismo
e, o respeito, era a regra. Como já disse Roberto Carlos: “Velhos Tempos,
Velhos Dias”. É certo, que o saudosismo é um sentimento inócuo, porém, lembrar das
coisas boas com alegria, é salutar para o espírito e nos coloca mais perto uns
dos outros, trazendo à baila as felicidades de criança.
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