terça-feira, 13 de junho de 2023

OS DOIDOS DE PRINCESA I

Aqueles da minha faixa etária (65 anos) ou superior, hão de lembrar da plêiade de loucos que povoavam as ruas de Princesa. Tinha doido de toda "versidade". Estranhamente, num piscar de olhos do tempo, sem motivo que o explique, esses malucos desapareceram completamente, e de repente. Eram muitos, e com comportamentos diversos: pacíficos, violentos, preguiçosos, perigosos, chorões, divertidos, enfim, tinha doido para todos os gostos. "Maria Bate-birro', andava pelas ruas catando tudo que fosse imprestável e cozinhava sua própria comida num fogo alimentado por pneus velhos; "Ana Pé-de-Banha", uma moça-velha que detestava esse apelido e esculhambava a quem assim a chamasse, com palavrões cabeludos; "Zé

Marcelino, a quem chamávamos "Cágado Jabuti" e recebiamos como resposta pedradas e carreiras: "Chico Raposa", surdo-mudo, vivia a varrer as ruas e a dançar, sem música, tapando as narinas com os dedos; "Rasga-Mortalha", uma velha magérrima que esculhambava com quem assim a chamasse; "Mané Pitita", filósofo: "Quem tem mãe tem tudo, quem não tem mãe, não tem nada", dormia, no cemitério, acondicionado nos caixões de defunto destinados aos indigentes; "Cocó", podre de preguiça, vivia a pedir esmolas alegando que sofria de "preguiça recolhida";" Zé Miranda", violento, que chegou a desacatar até o Juiz de Direito; "Zé Grosso", epiléptico, que, nas convulsões, corria atrás dos meninos pelas ruas da cidade; "João Cuscuz, vivia em desabalada correria pelas Rua Grande e Rua Nova; "Maria Catabi", com seus grandes peitos, cara com frequência e chorava com facilidade; "Burra-cega", de mãos dadas com outra doida

- sua namorada -, que tinha sempre uma boneca velha nos braços, atirava pedras em quem assim o chamasse. Eram muitos, tantos, que farei dessa rememoração, uma série que publicarei ao longo do tempo. Rogo aqui, aos que vivenciaram esses tempos, que contribuam com mais informações sobre esse segmento folclórico e cultural da nossa amada Princesa. Na verdade, esses loucos, que desapareceram misteriosamente, não faziam mal a ninguém. Pelo contrário, divertiam e nos ensinavam a entender a efemeridade e a essência da vida.



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