Um leão perseguia uma camurça num vale. Estava prestes a
agarrá-la e com olhos cúpidos previa um garantido e satisfatório repasto.
Parecia impossível à vítima escapar, uma ravina profunda barrava o caminho
tanto do caçador quanto da caça. Mas a ágil camurça, reunindo todas as suas
forças, lançou-se como uma flecha sobre o abismo e parou do outro lado sobre
uma pedra. Nosso leão deteve-se abruptamente. Mas naquele momento um amigo dele
passava por ali. Esse amigo era a raposa: “O quê!”, ela disse, “com a sua força
e agilidade você vai perder para uma fraca camurça? Basta querer e será capaz
de fazer maravilhas. Embora o abismo seja profundo, se você quiser mesmo, tenho
certeza de que o vencerá. Sem dúvida você pode confiar na minha amizade
desinteressada. Eu não exporia a sua vida a tanto risco se não conhecesse tão
bem a sua força e destreza”. O sangue do leão ferveu nas veias. Ele se atirou
com toda a força ao espaço. Mas não conseguiu vencer o abismo e caiu de cabeça,
morrendo na queda. Então, o que fez o seu querido amigo? Desceu cautelosamente
até o fundo da ravina e lá, ao ar livre e no espaço aberto, vendo que o leão
não precisava mais de elogios nem de obediência, se dispôs a prestar as últimas
exéquias ao amigo morto e, de uma só vez, devorou-o até os ossos. (FÁBULAS DA RÚSSIA, IVAN KRILOFF
1768-1844)
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