sexta-feira, 13 de outubro de 2023

O Leão, a Camurça e a Raposa

Um leão perseguia uma camurça num vale. Estava prestes a agarrá-la e com olhos cúpidos previa um garantido e satisfatório repasto. Parecia impossível à vítima escapar, uma ravina profunda barrava o caminho tanto do caçador quanto da caça. Mas a ágil camurça, reunindo todas as suas forças, lançou-se como uma flecha sobre o abismo e parou do outro lado sobre uma pedra. Nosso leão deteve-se abruptamente. Mas naquele momento um amigo dele passava por ali. Esse amigo era a raposa: “O quê!”, ela disse, “com a sua força e agilidade você vai perder para uma fraca camurça? Basta querer e será capaz de fazer maravilhas. Embora o abismo seja profundo, se você quiser mesmo, tenho certeza de que o vencerá. Sem dúvida você pode confiar na minha amizade desinteressada. Eu não exporia a sua vida a tanto risco se não conhecesse tão bem a sua força e destreza”. O sangue do leão ferveu nas veias. Ele se atirou com toda a força ao espaço. Mas não conseguiu vencer o abismo e caiu de cabeça, morrendo na queda. Então, o que fez o seu querido amigo? Desceu cautelosamente até o fundo da ravina e lá, ao ar livre e no espaço aberto, vendo que o leão não precisava mais de elogios nem de obediência, se dispôs a prestar as últimas exéquias ao amigo morto e, de uma só vez, devorou-o até os ossos. (FÁBULAS DA RÚSSIA, IVAN KRILOFF 1768-1844)



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