Há exatos 134 anos, foi proclamada a República brasileira. Uma quartelada que deu certo. Como tudo no Brasil, um dos poucos países do mundo em que as coisas acontecem sem que a população participe e, no mais das vezes, sequer tome conhecimento, foi assim também com o golpe de Estado que derrubou a Monarquia e instalou o Regime Republicano. É certo que já existiam movimentos que exigiam a queda do imperador Dom Pedro II. O Partido Republicano se manifestava nas ruas e no Parlamento já havia mais de 20 anos, porém, de forma pífia, pois, na composição do parlamento que dava sustentação ao regime monarquista, apenas dois deputados se faziam voz dissonante, representando o Partido Republicano. Como vemos, essa agremiação não reunia forças suficientes para promover uma mudança dessa natureza, uma vez não comportar adesões nos meios políticos, tampouco participação popular.
O que provocou mesmo a mudança, foram fatores outros tanto os da conveniência da elite militar quanto os que atendiam a motivos particulares e até de cunho pessoal. O caldo de cultura para a proclamação do novo regime foi, sem dúvida, gerado pela Abolição da Escravatura – que desagradou sobremaneira aos “barões” do império quando se viram privados da exploração da mão de obra escrava para a manutenção de sua produção cafeeira e de outras culturas -, somado ao natural afadigamento do Poder Moderador que era exercido por um imperador senil que já não tinha mais muita vontade de governar. Somado a isso, considerou-se também a iminente perspectiva, indesejada por muitos, de o poder ser exercido pela filha de Dom Pedro II, a princesa Isabel, que era casada com o não muito simpático francês, o conde D’Eu.
A gota d’água que fez entornar o copo das insatisfações foi a nomeação do primeiro ministro, Gaspar Silveira Martins, desafeto do marechal Deodoro da Fonseca (inimigos por haverem, no passado, disputado o amor da mesma mulher). Com isso, instigado pelos republicanos: Quintino Bocaiúva e Benjamin Constant, o marechal Deodoro - em que pese ser monarquista e dizer-se amigo do imperador - animado com a possibilidade de virar presidente, proclamou a República sem que uma só pessoa, do meio popular, tivesse conhecimento do que estava acontecendo. Na verdade, isso não causa surpresa, pois, o Brasil não foge à regra quando o caso se trata de participação popular. A nossa cultura sempre atestou que deixamos as coisas acontecerem “normalmente” sem provocá-las ou delas participar.
Foi assim com o Descobrimento, que aconteceu por acaso; com a Independência que foi forçada pelas gestões domésticas da imperatriz Leopoldina instigada por José Bonifácio; com a Revolução de 1930, que teve o dedo de Princesa quando provocou a rebeldia que terminou dando cabo da vida do então presidente paraibano, João Pessoa, o que se transformou no estopim que fez eclodir aquela Revolução; com o golpe militar de 1964 que, da noite pro dia mudou tudo sem que povo tivesse também conhecimento e, por fim, com o restabelecimento da democracia, fruto dos esforços de Ulysses Guimarães e da habilidade de Tancredo Neves que se submeteu ao famigerado Colégio Eleitoral e foi ungido presidente, destronando os militares e suas vontades do poder. Taí uma República que já se faz mais que centenária e que, aos trancos e barrancos, vem tocando o Brasil até os dias de hoje.
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