Desde os tempos de
escuridão democrática quando o País era comandado pelos militares, existiam
setores que almejavam mudanças na sociedade brasileira, alimentando o sonho da
instalação de um governo popular lá em Brasília. Isso criou corpo - ainda como
embrião -, já em 1978 por ocasião das greves dos metalúrgicos em São Paulo e
foi crescendo ao longo dos anos, culminando com a anistia e a campanha das
“Diretas Já”. Quando da realização, em 1989, das primeiras eleições presidenciais,
desde 1960, o eleitorado brasileiro já causou surpresa quando conduziu Lula ao
segundo lugar pela disputa no segundo turno daquelas eleições, concorrendo com
o ex-governador alagoano Fernando Affonso Collor de Mello. Ninguém esperava,
foi surpresa geral. Todos achavam que quem disputaria com Collor seria o
ex-governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola. Abertas as urnas do segundo
turno constatou-se que Lula quase chegou lá. Animado com esse resultado
inesperado, Lula disputou as eleições seguintes realizadas em 1994 e 1998. Foi
derrotado nas duas por Fernando Henrique Cardoso ainda no primeiro turno. Com
essa performance de quase Lá, Lula metia medo nos detentores do poder
econômico. Em 2002, imbuído dessa dificuldade, candidatou-se novamente, porém,
teve o cuidado de divulgar uma “Carta Aberta à Nação” dizendo que, em termos
econômicos, rezaria nas cartilhas do stablishment.
Ganhou a eleição no segundo turno, derrotando o então senador José Serra. Nessa
campanha eleitoral, embalada pelo hino “Lula-Lá” (aliás, uma criação do
princesense Otávio Augusto Sitônio Pinto), o torneiro mecânico, nordestino e
iletrado chegou Lá. A saga eleitoral de Lula vale menção por que foi realmente
um périplo antológico: para tomar conhecimento das coisas e das necessidades
nacionais, percorreu todo o País por várias vezes; perdeu três eleições
presidenciais consecutivas; enfrentou o poder econômico, mas, chegou Lá. O
mérito não foi somente dele [Lula]. Havia toda uma mobilização para levá-lo ao
poder. Instalado em Brasília, realizou um governo que se compara, hoje, aos de
Getúlio Vargas e de Juscelino Kubitschek. Eleito em 2002 e reeleito em 2006,
comandou um governo transformador quando valorizou a educação; incluiu a região
Nordeste no contexto da economia nacional; dotou a saúde de novos parâmetros de
atendimento, principalmente voltado aos mais carentes; dentre outras
realizações de grande monta. Não bastasse comandar o País para um novo rumo,
comandou também uma quadrilha que assaltou os cofres do Estado que foi ao longo
de seus dois mandatos, aparelhado para servir a um partido: o PT. Isso, em que
pese haver sido uma praxe nos governos que o antecederam, reacendeu a raiva das
classes “superiores” dando-lhes oportunidade de antever a possibilidade de
apear o metalúrgico do poder. Aí começou a urdidura que culminou com a prisão
do ex-presidente, considerado um dos mais populares que o País já teve. Traçaram
tudo direitinho chegando ao ponto de autoridades judiciais serem beneficiadas
com cargos importantes como que em agradecimento pela contribuição que deram
para a derrubada do nordestino iletrado. Não digo aqui que Lula não tem culpa.
Porém, pergunto: só ele? E os outros? Afinal, fica a constatação de que os que
não queriam Lula-Lá urdiram competentemente e puseram Lula-Lá, na cadeia, para
a decepção e tristeza de seus muitos admiradores e para o deleite dos que estão
agora usufruindo o poder sem demonstrar competência para tanto tampouco
evidências de lisura com a coisa pública, pois, baseado nas acusações imputadas
aos parentes do atual presidente, faço minha a assertiva de um amigo quando
disse: “A gang de Lula formou-se ao longo
de seus governos, porém, a de Bolsonaro já veio pronta”.
ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO
ROBERTO, EM 30 DE MAIO DE 2019.
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