quarta-feira, 29 de maio de 2019

PERFIS DE PRINCESENSES ILUSTRES




WALDEMAR EMYGDIO DE MIRANDA, nasceu em Recife em 05 de agosto de 1897, filho do professor Auxêncio da Silva Viana e de dona Maria dos Passos de Miranda Andrade.
Ainda pequeno, seus pais resolveram, no início do século passado, mudarem-se para a então Vila Bela (atual Serra Talhada/PE) onde abriram uma escola particular na Praça Sérgio Magalhães, centro daquela Vila. Ali, viveu Emygdio de Miranda com seus pais até os 18 ou 19 anos de idade. Logo cedo se tornou afeito ao uso de bebidas alcoólicas o que o faria contumaz consumidor e, mais tarde, completamente dependente e viciado. Desprezava Miranda, as coisas de valor material. Romântico e muito inteligente, desde cedo se revelou um amante da poesia. Conviveu desde cedo em contato com os livros que eram os instrumentos de trabalho de seus pais. Ainda muito jovem começou a escrever poesias e poemas que encantavam as rodas dos saraus literários daquele tempo. No afã de divulgar seu trabalho e de participar de eventos culturais em outras cidades, começou a viajar em visita às cidades vizinhas a Vila Bela. Visitou as cidades de Caruaru, Arcoverde, Triunfo e Princesa. Chegando em Princesa, no início dos anos 20, encantado com a efervescência cultural que encontrou na Vila paraibana, ali aportou com vontade de ficar. Encontrou campo fértil para o desenvolvimento de sua arte literária até porque incentivado pelo coronel José Pereira Lima, de quem se fez amigo por ser este também um amante da arte da poesia e, portanto, promotor da cultura do lugar. Influenciado pelo Movimento Modernista promovido em São Paulo quando aconteceu naquela cidade a revolucionária “Semana da Arte Moderna”, Emygdio de Miranda, inspirado nesses novos ares artísticos e culturais, escreveu ao pioneiro do Modernismo no Nordeste, Joaquim Inojosa: “É preciso entanto, confessar que ainda há bem pouco, fôra eu partidário decidido das ideias velhas... Confesso o meu grande pecado em haver sido passadista”. No dia 17 de outubro de 1925, Emygdio de Miranda fundou em Princesa uma “Sociedade de Letras” denominada “Grupo Literário Joaquim Inojosa” e comunicou ao patrono em 28 de outubro de 1925: “Ilustre doutor Joaquim Inojosa, Recife. Os signatários da presente, membros efetivos do Grupo Literário Joaquim Inojosa (sic) que nesta localidade foi fundado sob o vosso patrocínio, com os nobilíssimos intuitos de trabalhar pela Escola Modernista cujo supremo chefe aqui no Nordeste é o erguido vulto, emocionados agradecem vossa carinhosa lembrança pela remessa que fizeste dos exemplares da Arte Moderna e o Brasil Pandeiro (...)” (Paulo Mariano – pp. 176 e 177). Com a iniciativa de instalar em Princesa o Movimento Modernista, Emygdio de Miranda fez com que a nossa cidade (então Vila) fosse a única cidade no estado da Paraíba a dar apoio ao Manifesto Modernista de 1922. Além de poeta, foi também, Miranda, professor tendo desempenhado essa função, com muita competência, em Princesa. Na verdade, o poeta, de todas as cidades por onde passou fez destacar o seu interesse especial pela Vila paraibana, pois, era aquele lugar - nos anos 20, período que precedeu a ”Guerra de Princesa” -, um recanto de prosperidade pelas riquezas que produzia advindas da cultura do algodão, uma vez ser Princesa o maior produtor desse têxtil no estado da Paraíba.
     Emygdio de Miranda não teve o prazer de ver suas poesias compiladas e publicadas em vida. Após sua prematura morte – causada, principalmente, pelo vício do alcoolismo – ocorrida em 29 de maio de 1933, teve, pela generosidade de alguns amigos, seus poemas publicados em dois livros póstumos: “Rosal” e “Rosa da Serra”. Em uma dessas publicações está essa magnífica poesia:

A UM BURGUÊS

Tu, ventrudo burguês analfabeto,
Escultura rotunda da irrisão,
Para quem o viver mais limpo e reto
Consiste em ser devoto e ter balcão;

Tu, que resumes todo o teu afeto
No dinheiro – o metal da sedução
Pelo qual negociarás abjeto
Tua esposa, teu lar, teu coração,

Escuta, ó ignorantaço, o que te digo:
Esse ouro protetor, que é teu amigo,
Que te deu o conforto de um paxá,

Pode comprar qualquer burguês cretino;
Mas a lira de um vate peregrino
Não compra, não comprou, não comprará.

     Emygdio de Mirando morreu pobre e abandonado na então vila de Rio Branco (atual Arcoverde/PE) onde foi enterrado como indigente. Hoje (29/05/2019), quando se completam 86 anos de seu falecimento, prestamos esta homenagem àquele que, mesmo não tendo nascido em Princesa, pode ser considerado princesense (como muitos outros que abordaremos aqui) uma vez que deu grande e significativo contributo para a construção do nosso legado cultural.

ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO EM 29 DE MAIO DE 2019.

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