ANTÔNIA FLORÊNCIO CARLOS DE ANDRADE, mais conhecida como
“Dona Toinha”, princesense de boa cepa, pois, filha do major Feliciano
Rodrigues Florêncio (um dos principais troncos das famílias tradicionais de
Princesa) e de dona Joaquina Carlos. Casou-se com Manoel Carlos de Andrade que
era funcionário da antiga Mesa de Rendas (atual Coletoria Estadual) e irmão do
coronel José Pereira Lima. Dessa união, nasceram os filhos: José Carlos, Maria
das Neves, Maria do Socorro, Policarpo, Terezinha e João. Dona Toinha era o que
se pode chamar de “mulher macho” sem macular sua feminilidade. Nos idos de
1930, por ocasião da “Guerra de Princesa” essa varoa teve importante
participação naquele conflito. Destemida e determinada, ela fez parte
ativamente daquela luta. Pois, enquanto quase a totalidade das mulheres das
boas famílias de Princesa se refugiaram nas cidades vizinhas do estado de
Pernambuco (Flores e Triunfo), “Dona Toinha” permaneceu em Princesa durante
toda a luta (de fevereiro a julho de 1930), prestando seu apoio aos combatentes
e participando também das estratégias traçadas pelos comandantes daquela
Revolta. Segundo a historiadora princesense Serioja Rodrigues Cordeiro Mariano,
em seu livro: “Signos em Confronto? O
Arcaico e o Moderno na Cidade de Princesa (PB) na década de 1920” pp. 178 e
179: “A literatura sobre a revolta diz que ficou uma só mulher na cidade, o que
foi reforçado nos depoimentos:”
(...) as mulheres saíram tudo daqui de Princesa, aqui só ficou Toinha
Carlos; era mulher de Manoel Carlos, o delegado, era muito mandona, o marido
não mandava em nada este era irmão de Zé Pereira, mas ela mandava naquela
redondeza toda, o povo tinha muita atenção a ela, era mulher cangaceira como se
diz. As outras tudo se mudaram daqui só ficou ela. (...) Quando João Pessoa
morreu aí cumadre Toinha foi presa, botaram ela em cima dum carro aberto ela e
os filhos, e levaram ela presa pela cidade em cima de um carro (...)”. (depoimento de dona Lindaura
Cordeiro Mariano).
Como vemos, “Dona Toinha” era uma
mulher singular, o que faz-nos lembrar da coronela do Ceará, Dona Fideralina
Augusto, avó do doutor Ildefonso Lacerda que foi barbaramente assassinado em
Princesa em 1902 (por coincidência, crime que teve a participação de um dos
irmãos de “Dona Toinha”), que mandava e desmandava em toda a região do Cariri
cearense, polarizada pela cidade de Lavras da Mangabeira. Como vimos a cunhada
do coronel Zé Pereira permaneceu, destemidamente, durante todo o tempo da luta
de resistência de Princesa, em sua casa dando conta de seus afazeres domésticos
e das necessidades dos que lutavam nos campos de batalhas. Relata-se que,
Nominando Muniz Diniz, mais conhecido como “Seu Mano” (que viria a ser o futuro
prefeito de Princesa após a eclosão da Revolução de 30 que apeou o coronel Zé
Pereira do poder em Princesa e que teria sido o executor da prisão dessa
valente mulher), que havia se retirado da cidade - por ocasião do conflito -,
para o município pernambucano de Triunfo, vinha, todos os sábados (dia de feira
em Princesa) para cuidar de seus negócios, ocasião em que tomava café e
almoçava na casa de “Dona Toinha”. Tivera tido maior oportunidade, haver-se-ia
tornado, “Dona Toinha”, também uma coronela? Mandona que era, tivesse tido
maiores oportunidades ter-se-ia consagrado como a nossa “Maria Quitéria”? Sabe-se
hoje que, além de dar ordens, sua casa constituiu-se, à época, uma espécie de
Quartel General da “Guerra de Princesa”, pois, já agora nos anos 1980, foram
encontrados, embutidos nas paredes de sua casa, vários cartuchos para rifles e
fuzis, semelhantes aos mesmos usados na revolta de 1930.
Pelo seu destemor
e sua coragem em desafiar os poderosos que venceram a Revolução, foi Antônia
Florêncio, vítima de prisão com todos seus filhos menores e conduzida, em cima
de um caminhão, exposta ao deboche público para satisfazer à execração de seus
adversários. Conta-se que, mesmo sofrendo tamanha humilhação, pôs-se aquela
valente mulher, de cabeça erguida sem se submeter aos vitoriosos que, se antes se
faziam de seus amigos se constituíam agora em seus algozes. Faleceu, “Dona
Toinha”, já em idade provecta, nos anos 70, morando na mesma casa em que sempre
viveu e sempre orgulhosa de sua coragem e compromisso com sua Terra.
ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO
ROBERTO, EM 30 DE MAIO DE 2019.
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