terça-feira, 7 de janeiro de 2020

PERFIS DE PRINCESENSES ILUSTRES





FILOMENA AMÉLIA DE JESUS


FILOMENA AMÉLIA DE JESUS, mais conhecida como “Mãe Filó” e chamada pelos netos de “Mãe Véia”, nasceu na cidade pernambucana de Afogados da Ingazeira, no dia 12 de maio de 1891. Era casada com Luiz Costa com quem teve os filhos: Francisca; Aurora; Maria do Carmo; João Gonzaga; Antônio e Raimundo. Mulher pobre, simples e muito humilde, porém, denotava sua dignidade na maneira de postar-se. Embora de pequena estatura e de porte frágil, mantinha-se sempre empertigada numa natural elegância. Em casa vestia-se de roupas simples. Quando na rua, estava sempre a envergar conjuntos, no mais das vezes de cor azul, compostos de saia e blusa de mangas compridas, levando sempre ao braço, um pedaço de pano imaculado de tão limpo. Sua fala era baixa e mansa. Analfabeta, era também apolítica (não puxava para nenhum dos lados: Nominando ou Pereira). Muito católica, não faltava aos ofícios religiosos ministrados na Igreja Matriz de Princesa. Essa era a antológica figura chamada de “Mãe Filó” por quase todos os princesenses que têm hoje mais de 50 anos.


A Mãe de quase todos

Na Princesa do início e até além dos meados do século passado, a maioria das mulheres tinham os filhos de parto normal. As que naturalmente se viam impossibilitadas de parir pelas vias normais, se fossem ricas, iam para o Recife; as pobres, que (a partir de 1925) não tivessem a sorte de uma resolutividade promovida pelo único médico da cidade – doutor Severiano dos Santos Diniz -, morriam ou perdiam a cria. É aí que entra Filomena Amélia de Jesus, a nossa “Mãe Filó”. Já em 1911, a nossa biografada começou a assistir mulheres grávidas quando fazia seus partos. Graças à sua natural habilidade para lidar com esse mister, Filomena tornou-se a parteira mais famosa de Princesa. Naquele tempo, até 1925, quando chegou à cidade o médico princesense, doutor Severiano Diniz, as mulheres daqui pariam pelas mãos das parteiras e Filomena era a mais habilidosa de todas. Fazia reversões quando a criança se apresentava em posição pélvica e, segundo informações, até dicas e traquejos a parteira passou a alguns médicos iniciantes. Além de não cobrar nada por suas intervenções obstétricas, o fazia com a maior destreza e com os maiores cuidados de higiene. Raros foram os partos em que Filomena não obteve sucesso. Além de “pegar” a criança, cortava-lhe o cordão umbilical, fazia a assepsia necessária na mãe e no bebê e ainda incensava a casa com a queima de alfazema. Por esses zelos, todas as mães por ela assistidas a chamavam de “comadre” e faziam com que os filhos a chamassem de “Mãe Filó” e lhes pedissem a bênção. Todos nós, até chegados à idade adulta, a exemplo de mim e dos meus irmãos (que nascemos pelas suas mãos), pedíamos-lhe a bênção ao que ela respondia: “Deus lhe dê fortuna e felicidade”. São muitos os princesenses – inclusive alguns que se fizeram ilustres – que vieram ao mundo sob a assistência de “Mãe Filó”.

O fim

Além da atividade de “Parteira” (antigamente existia a figura da “Parteira” que com a chegada da FSESP – Fundação Serviços Especiais de Saúde Pública a Princesa em 1982, foram treinadas por aquele serviço e passaram a ser chamadas de “Parteiras Curiosas” e, a partir daí adquiriram um status de auxiliares credenciadas), “Mãe Filó” era excelente cozinheira e trabalhou nesse ofício em algumas casas dos ricos da cidade, para garantir o sustento de seus filhos. Na condição de pobre, agravada por uma viuvez precoce, teve de ralar para criar a sua prole o que, mesmo na adversidade provocada pelos parcos recursos, o fez com dignidade. Aliás, esse substantivo traduz muito bem toda a existência de Filomena Amélia de Jesus que, malgrado não haver nascido em Princesa, foi aqui que viveu e desenvolveu seu relevante ofício de parteira quando tantas vidas trouxe ao mundo e outras tantas salvou. Por isso, está a merecer ser homenageada e reconhecida, mesmo que postumamente, como uma das personalidades ilustres de Princesa. “Mãe Filó” teve longa existência; viveu até os 90 anos de idade, quando faleceu em Princesa no dia 03 de junho de 1981 deixando o legado de haver servido com dignidade e dedicação à terra que adotou como sua.


ESCRITO POR DOMNGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 07 DE JANEIRO DE 2020.

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