terça-feira, 31 de março de 2020

PRINCESA E AS SUAS PESTES





Quando criança eu escutava dos mais velhos sobre as agruras porque passou o povo de Princesa em tempos idos. Uma tia velha, chamada Francisca, a quem nós tratávamos por “Tia Chiquinha”, não parava de relembrar a catástrofe que foi a seca de 1888, a tragédia provocada pela epidemia da Febre Amarela iniciada em 1900 e que durou até 1903 e a famigerada “Gripe Espanhola que assolou o Brasil em 1918. Dessas três pragas, a mais terrível foi a Febre Amarela, causada pelo vírus stegomya fasciata. Essa epidemia matou um quarto da população da então Vila dPrincesa. As pessoas morriam algumas, com menos de 24 horas da apresentação dos primeiros sintomas e, não morreram mais graças ao diligente esforço do médico cearense, doutor Ildefonso Augusto de Lacerda Leite que, infelizmente, por motivos outros foi cruelmente assassinado. A estiagem de 1888 foi responsável pelo maior êxodo de pessoas, daqui saídas para outras paragens em busca de comida e água. Segundo tia Chiquinha, nessa seca, as pessoas se alimentavam de animais mortos encontrados pelas estradas e bebiam água extraída de cactos. Em 1918, a “Gripe Espanhola” foi menos rigorosa, ateve-se principalmente ao sul do País, não se registrando nenhuma morte em Princesa. 

Mais de 100 anos depois

Agora, mais de 100 anos depois da última epidemia,estamos vivendo esse período de sofrimento, mais com a expectativa da chegada da COVID-19 do que com o pânico implantado pela imprensa, acrescido do rigor do isolamento social que nos coloca a todos impacientes a espera do desfecho da chegada dessa terrível doença. A trégua que estamos tendo se deve à incubação da doença que, segundo as autoridades de saúde, pode tardar, mas virá. Nunca, em tempo algum, vivemos situação similar. A população trancada dentro de casa; as escolas fechadas;não temos mais Feira Livre; o Jatobá transbordando e o povo privado de ali se divertir; os mais pobres desempregados e passando necessidades; o presidente da República batendo cabeça com os governadores; a incerteza quanto à eficiência do Poder Público em prover um atendimento à saúde de todos. É uma situação verdadeiramente inusitada, pois, em pleno século XXI, na era da comunicação digital e virtual, estamos adotando comportamentos medievais, de quarentena em isolamento social que chega ao ponto, diante da impotência da ciência em tratar uma doença para a qual não há remédio, o Sumo Pontífice da Igreja Católica recorrer, em orações, a um ícone do século XIV (a imagem do Cristo Crucificado que, segundo os católicos os livrou da peste que assolou a Europa no século XV) pela saúde do mundo. Pelo que vemos a peste não tem idade, tampouco escolhe tempo ou lugar. Estamos vulneráveis e só nos restar cuidado e conformação.


(ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 31 DE MARÇO DE 2020).

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