PAULO
MARIANO E A ÁGUA ENVENENADA
Em 1978, o chefe da agência da CAGEPA – Companhia de Água e
Esgotos da Paraíba, em Princesa, era Paulo Mariano. Vivíamos no tempo da
ditadura militar e, alguns reacionários princesenses, a serviço do regime, exerciam
aqui a função de espiões, bajuladores e lambe-botas dos militares. Segundo o
próprio Paulo Mariano, logo que ele foi designado para a chefia da agência
responsável pelo abastecimento de água de Princesa, emissários dos grupos
políticos tradicionais da cidade (Pereira e Diniz), foram até a direção da
Cagepa, em João Pessoa e informaram que Paulo era comunista e que seria capaz
de um ato terrorista fazendo o envenenamento da água que era distribuída para
toda a população princesense. Como se não bastasse, um anônimo escreveu uma
carta ao então governador do estado da Paraíba, Dorgival Terceiro Neto,
tentando denegrir a pessoa de Paulo e até prejudicá-lo em seu emprego. A
epístola apócrifa tinha o seguinte teor:
“Princesa Isabel, 03 de janeiro de
1978. Exmº. Sr. Governador: com a devida vênia, venho trazer ao conhecimento de
V. Exa., o seguinte caso: - Há mais de um mês que a Cagepa sediada nesta
cidade, vem sendo dirigida por PAULO CORDEIRO E SILVA (conhecido por PAULO
MARIANO), o mesmo é comunista fichado no Rio de Janeiro; em 1964, ele fugiu
daquela cidade e veio parar aqui, onde reside. Toda documentação dele foi
apreendida naquele ano pela Polícia Federal, tendo o aludido senhor
providenciado nova documentação depois que chegou nesta cidade. Com esta
situação o aludido Paulo não teve mais condição de ser colocado em nenhuma
função pública. Para surpresa nossa, num Governo moralizado, honesto e honrado
como o de V. Exa. suceder caso como este, não acredito que soubesse que existia
comunista aproveitado pela sua administração. Confiantes na sua providência,
antecipadamente agradecemos, V. Exa. pode mandar apurar, que encontrará a
verdade do que acabo de afirmar. Respeitosamente, José Vieira Ramos”.
Recebida a carta anônima, o governador determinou imediata e
rigorosa apuração. A direção da Cagepa convocou Paulo para dar explicações
sobre as graves denúncias e este negou tudo. Mesmo assim, o diretor geral
exigiu que o funcionário suspeito de terrorismo, levasse àquela direção, três
cartas de pessoas importantes da cidade, dizendo que lhe conheciam e atestando
que o mesmo era um cidadão de bem. Paulo retornou a Princesa e, na semana
seguinte, de volta à Capital, compareceu à sede da Cagepa e colocou em cima da
mesa do diretor, quatro envelopes contidos de documentos escritos. Os três
primeiros eram cartas. A primeira, assinada pelo juiz de Direito da Comarca de
Princesa, Dr. Irênio Paes Barreto; a segunda feita pelo promotor público; a
terceira com a assinatura do senhor Mirabeau Lacerda, coletor estadual, todas
atestando ser Paulo Mariano, um cidadão de conduta ilibada. No último envelope,
uma declaração do Cartório do 1º Ofício atestando que Mariano fazia parte do
Corpo de Jurados. Diante do credenciamento dos signatários, o diretor
desconsiderou a denúncia, efetivou Paulo no cargo de chefe da Cagepa que, a
partir daí, passou de suposto terrorista para um cidadão de ilibada conduta e
os denunciantes, continuaram tomando à agua limpa para curar seu próprio
veneno.
DSMR, EM 25 DE JULHO DE 2020.
EXTRAÍDO (EM PARTE), DO LIVRO DE PAULO MARIANO: MEU TEMPO, MEU LUGAR – QUASE MEMÓRIAS.
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