ANAYDE BEIRIZ
Nasceu na então cidade de Parahyba (atual João Pessoa),
capital do Estado de mesmo nome, em 18 de fevereiro de 1905. Professora e
poetisa, Anayde Beiriz foi uma mulher diferente e muito adiante de sua época. Celebrizada
pelo seu envolvimento amoroso com o advogado, João Duarte Dantas, que
assassinou o então presidente paraibano, João Pessoa, foi também por isso
punida, quando o destino lhe reservou um fim trágico. Filha de um operário da
imprensa e de uma dona de casa, foi criada como todas as crianças de famílias
pobres, porém decentes daquela época, sendo educada sob os preceitos cristãos,
da ética e da moral vigentes. Terminado o curso primário, logo ingressou na
Escola Normal, onde se destacou pela sua inteligência, espírito de liderança e
criatividade. Já nesse tempo, tinha o hábito de fazer versos. Inspirada pela
renovação cultural proposta pela Semana de Ate Moderna de 1922, declamou, numa
reunião de intelectuais, o seguinte poema:
“Nasci
Nasceu
Cresceu
Namorou
Noivou
Casou
Noite
Nupcial
As telhas
viram tudo
Se as moças
fossem telhas não se casariam...”.
Se causou sucesso no
meio intelectual que frequentava, esse poema, provocou escândalo no meio
social. Uma moça não deveria, nem poderia pensar daquele modo. Era pecado
contra Deus e contra a sociedade uma donzela discorrer, publicamente, sobre
tema tão obsceno! Diplomada pela escola Normal, em maio de 1922, Anayde
distinguiu-se como primeira da turma embora fosse a mais jovem, com apenas 17
anos de idade. Foi a oradora da turma. No mesmo ano, inaugurava-se na Paraíba, o
primeiro curso de datilografia – Escola Remington -, no qual logo se
matriculou. Formada professora, foi designada para lecionar na Escola de
Pescadores de Cabedelo, vila ainda sem luz elétrica, lugar onde ninguém queria
trabalhar. Mesmo assim, ainda alimentava sonhos maiores. Perguntada se queria
se casar ou ser freira (duas situações comuns, reservadas às moças daquela
época), Anayde respondeu: “Quero ser
médica”.
O amor
Charmosa, de físico
atraente, cabelos curtos (o que não era usual para uma moça de família da
época) e dona de belos olhos negros, Anayde Beiriz escandalizava a sociedade
retrógrada daquele tempo. Vanguardista em tudo, usava pintura no rosto, saía às
ruas sozinha, fumava, não queria casar nem ter filhos e escrevia versos que
causavam impacto na intelectualidade paraibana e escândalo no meio social
hipócrita. Onde quer que aparecesse, chamava a atenção. Teve alguns namoros
efêmeros antes de conhecer João Dantas. Foram três seus namorados: Orris
Barbosa, Jorge Bahia e Heriberto Paiva, todos letrados. Segundo um seu
contemporâneo: “Anayde não gostava de
namorados, e sim de admiradores”. Logo no início do ano de 1930,
envolveu-se amorosamente com o advogado e jornalista, João Duarte Dantas, homem
conservador, de cujas ideias ela discordava. Adversário do então presidente
João Pessoa, o namorado de Anayde foi duramente atacado pela Polícia paraibana
quando teve seu escritório arrombado e seus pertences jogados no meio da rua,
inclusive cartas amorosas endereçadas à namorada. Após essa devassa, João
Dantas saiu da Paraíba e foi residir em Olinda/PE. De lá, respondia às
provocações do presidente e de seus partidários, veiculadas no jornal oficial do
Estado, A União, através do Jornal do
Commercio do Recife. Essa briga culminou com o assassinato do desditoso
presidente João Pessoa, pelas mãos de João Dantas.
O trágico
fim
Após o crime cometido,
o advogado foi preso e, com o estouro da Revolução de 1930, em outubro daquele
ano, foi assassinado na Casa de Detenção do Recife. Com a morte do namorado,
Anayde Beiriz, internou-se em um convento e freiras, “O Bom Pastor”, no Recife.
Depressiva pela morte de seu amor, acabou não resistindo e suicidou-se, aos 25
anos de idade, em 22 de outubro daquele fatídico ano. Durante muito tempo ficou
esquecida de todos e, quando lembrada, o era com grande sentimento de
preconceito. Assim diziam: “Anayde Beiriz
não era noiva e sim, amante de João Dantas”. Porém, o tempo cuidou de resgatar
a verdade e de restabelecer seu conceito. Em autópsia feita depois de sua
morte, constatou-se que a moça morreu virgem. Hoje, até escolas existem levando
seu nome. Na verdade, o legado de Anayde Beiriz foi importante para a luta pelo
reconhecimento da importância da mulher no nosso meio social.
DSMR, EM 03 DE SETEMBRO DE 2020.
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