ODE

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

MULHERES QUE FIZERAM A DIFERENÇA




ANAYDE BEIRIZ

Nasceu na então cidade de Parahyba (atual João Pessoa), capital do Estado de mesmo nome, em 18 de fevereiro de 1905. Professora e poetisa, Anayde Beiriz foi uma mulher diferente e muito adiante de sua época. Celebrizada pelo seu envolvimento amoroso com o advogado, João Duarte Dantas, que assassinou o então presidente paraibano, João Pessoa, foi também por isso punida, quando o destino lhe reservou um fim trágico. Filha de um operário da imprensa e de uma dona de casa, foi criada como todas as crianças de famílias pobres, porém decentes daquela época, sendo educada sob os preceitos cristãos, da ética e da moral vigentes. Terminado o curso primário, logo ingressou na Escola Normal, onde se destacou pela sua inteligência, espírito de liderança e criatividade. Já nesse tempo, tinha o hábito de fazer versos. Inspirada pela renovação cultural proposta pela Semana de Ate Moderna de 1922, declamou, numa reunião de intelectuais, o seguinte poema:

“Nasci

Nasceu

Cresceu

Namorou

Noivou

Casou

Noite Nupcial

As telhas viram tudo

Se as moças fossem telhas não se casariam...”.

 

Se causou sucesso no meio intelectual que frequentava, esse poema, provocou escândalo no meio social. Uma moça não deveria, nem poderia pensar daquele modo. Era pecado contra Deus e contra a sociedade uma donzela discorrer, publicamente, sobre tema tão obsceno! Diplomada pela escola Normal, em maio de 1922, Anayde distinguiu-se como primeira da turma embora fosse a mais jovem, com apenas 17 anos de idade. Foi a oradora da turma. No mesmo ano, inaugurava-se na Paraíba, o primeiro curso de datilografia – Escola Remington -, no qual logo se matriculou. Formada professora, foi designada para lecionar na Escola de Pescadores de Cabedelo, vila ainda sem luz elétrica, lugar onde ninguém queria trabalhar. Mesmo assim, ainda alimentava sonhos maiores. Perguntada se queria se casar ou ser freira (duas situações comuns, reservadas às moças daquela época), Anayde respondeu: “Quero ser médica”.

 

O amor

 

Charmosa, de físico atraente, cabelos curtos (o que não era usual para uma moça de família da época) e dona de belos olhos negros, Anayde Beiriz escandalizava a sociedade retrógrada daquele tempo. Vanguardista em tudo, usava pintura no rosto, saía às ruas sozinha, fumava, não queria casar nem ter filhos e escrevia versos que causavam impacto na intelectualidade paraibana e escândalo no meio social hipócrita. Onde quer que aparecesse, chamava a atenção. Teve alguns namoros efêmeros antes de conhecer João Dantas. Foram três seus namorados: Orris Barbosa, Jorge Bahia e Heriberto Paiva, todos letrados. Segundo um seu contemporâneo: “Anayde não gostava de namorados, e sim de admiradores”. Logo no início do ano de 1930, envolveu-se amorosamente com o advogado e jornalista, João Duarte Dantas, homem conservador, de cujas ideias ela discordava. Adversário do então presidente João Pessoa, o namorado de Anayde foi duramente atacado pela Polícia paraibana quando teve seu escritório arrombado e seus pertences jogados no meio da rua, inclusive cartas amorosas endereçadas à namorada. Após essa devassa, João Dantas saiu da Paraíba e foi residir em Olinda/PE. De lá, respondia às provocações do presidente e de seus partidários, veiculadas no jornal oficial do Estado, A União, através do Jornal do Commercio do Recife. Essa briga culminou com o assassinato do desditoso presidente João Pessoa, pelas mãos de João Dantas.

 

O trágico fim

 

Após o crime cometido, o advogado foi preso e, com o estouro da Revolução de 1930, em outubro daquele ano, foi assassinado na Casa de Detenção do Recife. Com a morte do namorado, Anayde Beiriz, internou-se em um convento e freiras, “O Bom Pastor”, no Recife. Depressiva pela morte de seu amor, acabou não resistindo e suicidou-se, aos 25 anos de idade, em 22 de outubro daquele fatídico ano. Durante muito tempo ficou esquecida de todos e, quando lembrada, o era com grande sentimento de preconceito. Assim diziam: “Anayde Beiriz não era noiva e sim, amante de João Dantas”. Porém, o tempo cuidou de resgatar a verdade e de restabelecer seu conceito. Em autópsia feita depois de sua morte, constatou-se que a moça morreu virgem. Hoje, até escolas existem levando seu nome. Na verdade, o legado de Anayde Beiriz foi importante para a luta pelo reconhecimento da importância da mulher no nosso meio social.

 

DSMR, EM 03 DE SETEMBRO DE 2020. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário