A partir de agora, em comemoração ao Centenário (1921/2021)
da Emancipação Política de Princesa, iniciaremos uma série de artigos dedicados
ao conhecimento da historiografia de Princesa e de parte da história da Paraíba
e do Brasil. Começando hoje, este Blog passará a resenhar sobre as várias
publicações literárias que abordam assuntos inerentes à Guerra de Princesa,
seus antecedentes e as repercussões do que aconteceu em Princesa no contexto da
revolução de 1930. São mais de 50 livros, que carregam em suas páginas,
informações sobre a participação dessa histórica cidade no movimento
revolucionário que pôs fim à República Velha (1891-1930) e que manteve Princesa
em guerra, por longos cinco meses, contra o governo do estado da Paraíba. Este
trabalho, que levará o título: “Para Conhecer a nossa História”, terá o condão
- além de informar sobre assunto de tão relevante importância -, de estimular,
principalmente nos jovens, o interesse pela leitura e o consequente
conhecimento da nossa fascinante história. As resenhas sobre as publicações que
se referem a Princesa, funcionarão como um verdadeiro guia para aqueles
iniciantes que querem adentrar no assunto. Hoje, iniciaremos com o livro do
escritor José Gastão Cardoso: “A Heróica Resistência de Princesa”. Boa leitura.
PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA
“A HERÓICA RESISTÊNCIA
DE PRINCESA”
O livro, “A Heróica Resistência de Princesa”, do escritor
José Gastão Cardoso, com 89 páginas, começou a ser escrito em 1949 e foi
publicado em 1954, pela Editora Artes Gráficas da Escola Industrial Governador
Agamenon Magalhães, do Recife. O autor, ainda adolescente - princesense por
adoção -, chegou a Princesa no dia 20 de fevereiro de 1915, acompanhado de seus
pais e irmãos, emigrado do agreste pernambucano. Sua família fixou residência
na então Vila e aqui morou até a eclosão do movimento revolucionário de 1930.
José Gastão Cardoso, foi testemunha da fase áurea por que passou o município de
Princesa na década de 1920. Excerto da publicação em tela:
“(...) evidentemente, um novo ritmo de
vida, forçado pelo progresso demográfico, veio tonificar os músculos do velho
organismo político do município, com a renovação dos seus quadros econômicos e
sociais. A velha aspiração política dos filhos da terra concretiza-se com a
elevação da vila a categoria (sic) de
cidade (18/11/1921). É o comêço de uma fase de grande prosperidade para
Princesa. Quando na presidência da República o Dr. Epitácio Pessoa, ela foi
grandemente beneficiada com os serviços de obras contra as sêcas, graças ao
prestígio do seu chefe, deputado José Pereira, a quem aquêle homem público
devia a vitória da sua campanha política de 1915”.
Autodidata e dado à leitura, Gastão logo caiu nas graças do
Coronel, se tornando seu secretário particular. Afeiçoaram-se em verdadeira
amizade o que proporcionou ao autor do livro em análise, um conhecimento
profundo da personalidade de José Pereira Lima. Isso, ao invés de ajudar no
entendimento da obra aqui abordada, desmerece um pouco o relato em face da
obstinada facciosidade de José Gastão quanto aos acontecimentos que procederam
à Guerra de Princesa. Em muitos pontos da publicação, José Gastão, de forma
parcial, transforma o escrito numa ode ao Coronel, o que prejudica o valor
histórico da publicação. Mesmo assim, faz-se leitura indispensável para aqueles
que intencionam tomar conhecimento da nossa história. Na verdade, “A Heróica
Resistência de Princesa”, foi uma das primeiras obras escritas sobre os
acontecimentos de 1930 em Princesa e uma das mais corajosas quanto às
informações sobre as perseguições perpetradas contra os aliados de Zé Pereira
no após Revolução. O autor inicia os escritos que relatam os fatos - 19 anos
depois -, no calor dos sentimentos pela recente morte do coronel José Pereira
(13/11/1949), realçando muito mais – movido pela dor da perda - as qualidades
de seu idolatrado amigo e o ódio devotado aos inimigos do líder político, do
que mesmo a verdade imparcial dos acontecimentos históricos. Basta ver que José
Gastão é o primeiro a pôr no papel, informações sobre os desmandos cometidos
pela nova ordem revolucionária, sob o comando do prefeito nomeado, Nominando
Muniz Diniz, contra os correligionários do coronel José Pereira. Extraído do
livro de Cardoso, no capítulo “O Ambiente Político”, temos o que diz o autor,
sobre os executores da nova ordem revolucionária em Princesa:
“O que fêz repugnar a consciência,
naquela hora dramática do fim da campanha, foi a atitude pusilânime dos
fariseus que se alapardaram por detrás de uma falsa neutralidade para comprar
as posições a trôco de bajulações e alegações de pseudo-vítimas da guerra civil
(...). Os oportunistas insinuaram-se para as posições que vieram a ocupar, na
ausência de elementos credenciados para assumir a direção do município, naquela
hora delicada. Certo é que, de posse das posições, os trânsfugas, que outrora
mereceram do Sr. José Pereira a melhor acolhida, tornaram-se os maiores algozes
da terra onde viveram com tôdas as garantias. O clima político do tempo de José
Pereira, era tão saturado de liberdade que os oportunistas não querendo tomar
parte na luta, se retiraram do município para, de longe melhor urdirem os seus
planos sinistros”.
Gastão discorre, de forma minuciosa, sobre o arrombamento do
cofre do Coronel para o resgate de cartas comprometedoras; sobre as prisões e
desmoralizações públicas de correligionários do chefe político e sobre a
“sumária e incisiva” ordem do interventor, Antenor Navarro: “É preciso arrancar a língua do povo de
Princesa!”. Aborda também, ao longo do escrito, informações sobre os
aspectos geográficos, sociais, econômicos, culturais e políticos do município
de Princesa, desde o início de sua formação histórica até os últimos dias do
ano de 1930. Em que pese o esmero em louvar seu ídolo e a imparcialidade quanto
aos relatos sobre os fatos ocorridos durante e depois da Guerra de Princesa, “A
Heróica Resistência de Princesa” é obra indispensável para aqueles que desejam
entender a nossa história.
DSMR, em 25 de novembro de 2020.