sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

UM LUAL NA CHAPADA

  


MANOEL GALDINO PEREIRA TAVARES

 

I

Eu tava bem sossegado

Favorável numa boa

Tava inté bebendo umas

Na praia de João Pessoa

O telefone tocando

Era Etim me chamando

Eu disse: O que diabo é?

Ele disse: É amanhã

É eu, você e Nivan

Se encontrar prá tomar 

 

II

Eu disse amanhã não posso

Tu tem que se programar

Para o final de semana

Que tende a turma aumentar

E fazer uma folia 

Prá amanhecer o dia

E sem nenhum “nhémnhémnhém

Pois inté faz um tempão

Que eu num toco umas canção

Com meu amigo Cohem

 

III

Etim disse já sei

Nós vamos lá prá chapada

Beber cana e tirar gosto

Fazer a maior zuada

Conversar, se divertir

Prá gente se reunir

Eu acho muito legal

E aproveitando o ensejo

Que há tempo é o meu desejo

De nós fazer um lual

 

IV

Eu disse  tudo bem

Recebo com alegria

Vá já convidando a turma

E também marcando o dia

Pois prá isso eu  disposto

E sempre foi do meu gosto

Seja no mato ou na rua

É um imenso prazer

Prosar, tocar e roer

Em uma noite de lua

 

V

Assim ficou combinado

De ser no sábado à tardinha

Mas, eu disse logo a ele

Só vou chegar à noitinha

Ele disse: não tem nada

Eu vou estar na chapada

Não vou prá lugar nenhum

E só vou a cara encher

Pois, não quero nem saber;

Cada um é cada um

 

VI

No sábado, Rilda inventou

De ir tirar seriguela

Quando a gaia ela cortou

Caiu na cabeça dela

A gaia era meio bruta

Com um galo na cucuruta

Foi parar no hospital

E eu me peguei a dizer

Se essa peste morrer

Acabou nosso lual

 

VI

Fomos arrumar as coisa

Umas pasta organizar

E separei umas moda

Pro mode a gente cantar

Insaiêi umas canção

Ajeitei meu violão

Inté as corda eu troquei

Ajeitei minha bagagem

pro mode seguir viagem

Na estrada imburaquei

 

 

VIII

Disabei pra Manaíra

Lane já tava esperando

Com um mói de cacareco

Eu pensei:  se mudando!

Lazanha, Baião de dois

Uma travessa de arroz

Que uns dez quilos pesava

Verdura, fruta, farinha

Um caldeirão de galinha

E um aribé de fava

 

IX

marchemo pra chapada

Encontrar a comitiva

 da curva da estrada

Não vi uma alma viva

Eu disse: tão entocado

Ajeita aí o babado

Que eu  morrendo de sede

Cheguemo Etim tava lá

Iscornado numa rede

Bebo que só um gambá.

 

X

As porteira tudo aberta

E a porta escancarada

A água se derramando

A churrasqueira apagada

E o carro ao Deus-dará

Do jeito que tava lá

Só o senhor Jesus Cristo

Eu queria que você visse

Que um desmantelo desse

Juro, eu nunca tinha visto

 

XI

Nós descemo e fumo ver

Se tinha alguém escondido

Se tinham pegado no sono

Se afogado ou morrido?

Nada, não tinha ninguém

Nem Cerezo, Nem Cohem

Aí eu disse: E agora?

É só Etim acordar

umas coisa ajeitar

E depois vamo simbora

 

XII

E aí tiramo pra rua

E Lane ficou atrás

E disse pode ir na frente

Senão Etim num vai mais

Saí disaconçoado

Pois tava tudo acertado

Eu fiquei de frente à praça

Vi minha irmã acordada

Fui, me sentei na calçada

Mas, Porém todo sem graça

 

XIII

E aí chegou Joãozim

Nós ficamo conversando

Uns dez ou vinte minutos

 que Etim tava chegando

Aí nós fumo pra lá

E para o tempo passar

Eu fui dá uma beiçada

Fumo conversar besteira

E aí nessa brincadeira

Saímos de madrugada

 

XIV

Veja que decepção

O cabra ir tão distante

E nem lua, nem violão

Mas, de agora em diante

Seja por bem ou por mal

Só faço agora um lual

Com testemunha e contrato

E veja, ainda tem mais

Tem que pagar mil reais

Para quem quebrar o trato!!!

 

Manoel Galdino Pereira Tavares é manairense, porém, radicado em Princesa desde 1984. Poeta, cordelista, músico e compositor, usa suas horas vagas – que são muitas -, para escrever suas poesias. De sua lavra, são muitas e este Blog, passará, a partir de agora, a veicular essas produções artísticas e culturais, tanto de Galdino, quanto daqueles que nos enviarem seus trabalhos, para conhecimento do público.



DSMR, em 22 de janeiro de 2021.

 

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