MANOEL GALDINO PEREIRA TAVARES
I
Eu tava bem sossegado
Favorável numa boa
Tava inté bebendo umas
Na praia de João Pessoa
O telefone tocando
Era Etim me chamando
Eu disse: O que diabo é?
Ele disse: É amanhã
É eu, você e Nivan
Se encontrar prá tomar mé
II
Eu disse amanhã não posso
Tu tem que se programar
Para o final de semana
Que tende a turma aumentar
E fazer uma folia
Prá amanhecer o dia
E sem nenhum “nhém, nhém, nhém”
Pois inté faz um tempão
Que eu num toco umas canção
Com meu amigo Cohem
III
E Etim disse já sei
Nós vamos lá prá chapada
Beber cana e tirar gosto
Fazer a maior zuada
Conversar, se divertir
Prá gente se reunir
Eu acho muito legal
E aproveitando o ensejo
Que há tempo é o meu desejo
De nós fazer um lual
IV
Eu disse tá tudo bem
Recebo com alegria
Vá já convidando a turma
E também marcando o dia
Pois prá isso eu tô disposto
E sempre foi do meu gosto
Seja no mato ou na rua
É um imenso prazer
Prosar, tocar e roer
Em uma noite de lua
V
Assim ficou combinado
De ser no sábado à tardinha
Mas, eu disse logo a ele
Só vou chegar à noitinha
Ele disse: não tem nada
Eu vou estar na chapada
Não vou prá lugar nenhum
E só vou a cara encher
Pois, não quero nem saber;
Cada um é cada um
VI
No sábado, Rilda inventou
De ir tirar seriguela
Quando a gaia ela cortou
Caiu na cabeça dela
A gaia era meio bruta
Com um galo na cucuruta
Foi parar no hospital
E eu me peguei a dizer
Se essa peste morrer
Acabou nosso lual
VI
Fomos arrumar as coisa
Umas pasta organizar
E separei umas moda
Pro mode a gente cantar
Insaiêi umas canção
Ajeitei meu violão
Inté as corda eu troquei
Ajeitei minha bagagem
E pro mode seguir viagem
Na estrada imburaquei
VIII
Disabei pra Manaíra
Lane já tava esperando
Com um mói de cacareco
Eu pensei: Tá se mudando!
Lazanha, Baião de dois
Uma travessa de arroz
Que uns dez quilos pesava
Verdura, fruta, farinha
Um caldeirão de galinha
E um aribé de fava
IX
E marchemo pra chapada
Encontrar a comitiva
Já da curva da estrada
Não vi uma alma viva
Eu disse: tão entocado
Ajeita aí o babado
Que eu tô morrendo de sede
Cheguemo Etim tava lá
Iscornado numa rede
Bebo que só um gambá.
X
As porteira tudo aberta
E a porta escancarada
A água se derramando
A churrasqueira apagada
E o carro ao Deus-dará
Do jeito que tava lá
Só o senhor Jesus Cristo
Eu queria que você visse
Que um desmantelo desse
Juro, eu nunca tinha visto
XI
Nós descemo e fumo ver
Se tinha alguém escondido
Se tinham pegado no sono
Se afogado ou morrido?
Nada, não tinha ninguém
Nem Cerezo, Nem Cohem
Aí eu disse: E agora?
É só Etim acordar
E umas coisa ajeitar
E depois vamo simbora
XII
E aí tiramo pra rua
E Lane ficou atrás
E disse pode ir na frente
Senão Etim num vai mais
Saí disaconçoado
Pois tava tudo acertado
Eu fiquei de frente à praça
Vi minha irmã acordada
Fui, me sentei na calçada
Mas, Porém todo sem graça
XIII
E aí chegou Joãozim
Nós ficamo conversando
Uns dez ou vinte minutos
Ví que Etim tava chegando
Aí nós fumo pra lá
E para o tempo passar
Eu fui dá uma beiçada
Fumo conversar besteira
E aí nessa brincadeira
Saímos de madrugada
XIV
Veja que decepção
O cabra ir tão distante
E nem lua, nem violão
Mas, de agora em diante
Seja por bem ou por mal
Com testemunha e contrato
E veja, ainda tem mais
Tem que pagar mil reais
Para quem quebrar o trato!!!
Manoel Galdino Pereira Tavares é manairense, porém, radicado em Princesa desde 1984. Poeta, cordelista, músico e compositor, usa suas horas vagas – que são muitas -, para escrever suas poesias. De sua lavra, são muitas e este Blog, passará, a partir de agora, a veicular essas produções artísticas e culturais, tanto de Galdino, quanto daqueles que nos enviarem seus trabalhos, para conhecimento do público.
DSMR, em 22 de janeiro de 2021.
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