terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

A SENTENÇA DO ESPELHO

 


Viver no Brasil é uma verdadeira corrida de obstáculos, com vários crocodilos na pista prontos a abocanhar os atletas concorrentes. E aqui a maioria dos membros do Poder Legislativo federal, se em algum dia teve notícia de uma palavra chamada vergonha (correspondente a decantada ética dos gregos), em Brasília a vergonha foi perdida.  Em cada dia que aquela turma se reúne, para fazer o que quer que seja, mais e mais o lençol que acoberta o cinismo, em seu estado puro, vai aumentando feito cobertura de circo de rico. Volto ao tema da entrega do deputado Daniel Silveira, para deleite dos que habitam o STF e completa desmoralização do Poder Legislativo. Nesse ponto específico os fatos colocaram um março divisor na história universal do cinismo, e um estigma na cabeça de cada um dos deputados que atiraram contra as vidraças da própria instituição. Nada será esquecido, para o bem e para o mal! Aquele ato de entrega, repleto da mais abjeta torpeza, destrói muito mais os seus atores cúmplices do que a vítima. Trata-se da flecha, atirada pelo arqueiro, que mata muito mais   o atirador do que a sua pretensa caça. E eu fico a imaginar a parte mais íntima desses seres amorais  desprovidos do mínimo de essência. Eles são tão somente casca. Embrulho social que se presta às conveniências momentâneas, sem qualquer vinculação com qualquer espécie de valor moral. Os malandros profissionais vendem a própria mãe, porém jamais a entregam. Besta quem a comprou! Em Brasília, os malandros do Legislativo vendem a coitada da velha e a entregam numa bandeja reluzente, tal qual fizeram com Daniel Silveira. Aquela sordidez histórica nós faz lembrar o fato de os vampiros não se enxergarem no espelho. É que a imagem deles não é refletida porque mesmo sendo providos do dom da eternidade são desprovidos de alma. Os deputados federais, que votaram contra Daniel, também evitam o espelho, e não é porque sejam eternos como os vampiros, mas, porque temem ver o vazio humano e moral  que trazem dentro de si. São bolhas de sabão dispersas no ar. Em breve sumirão deixando somente a lembrança da mais profunda e indizível vergonha. Eles evitam a sentença do espelho. 

 Wellington Marques Lima

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