JOÃO PESSOA ATRAVÉS DE
SUAS MENSAGENS PRESIDENCIAIS
EDUARDO MARTINS DA SILVA
Esse trabalho de pesquisa e organização do escritor Eduardo
Martins da Silva, contém 186 páginas mais anexos e foi editado em 1978 pela CIA
Editora A União, intitulado: JOÃO PESSOA
ATRAVÉS DE SUAS MENSAGENS PRESIDENCIAIS”. O livro, se reveste da maior
importância quando traz à baila, informações pouco conhecidas, principalmente
no tocante ao antes, durante e depois dos ocorridos num dos instantes mais
decisivos da história da Paraíba, o que envolve Princesa, no contexto dos
primórdios da Revolução de 30, de forma muito abrangente. A obra de Eduardo
Martins, aborda a história através das Mensagens do presidente (governador)
João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, à Assembleia Legislativa da Paraíba,
referentes ao período administrativo de julho de 1929 a junho de 1930.
Inacabada, a mensagem, uma vez que em seu curso de elaboração foi, o desditoso
presidente, assassinado pelas mãos do advogado João Duarte Dantas, na
Confeitaria Glória, no Recife, em 26 de julho de 1930.
Nesse escrito, Martins evoca a versão de João Pessoa, sobre
os fatos de 1930, escritos pelo seu próprio punho. Informações que, no mais das
vezes, são omitidas ou divergem das trazidas à luz por vários historiadores que
já escreveram sobre o assunto. A partir da página 07, começa, o presidente
paraibano, a discorrer sobre os fatos que ilustraram a crise política de então:
as eleições de 1º de março, o esbulho das candidaturas aliancistas, a Guerra de
Princesa, a ameaça de intervenção na Paraíba, dentre outros. Às páginas 08,
encontramos o registro do rompimento do presidente da Paraíba com o Governo
Federal, quando João Pessoa expede telegrama ao presidente Washington Luís, nos
seguintes termos:
“Reunido Directorio Partido, sob minha
presidencia, depois consultados amigos maior representação politica, resolveu
unanimemente não apoiar candidatura eminente dr. Julio Prestes successão
presidencial Republica. Peço comunicar essa resolução leader maioria em resposta sua consulta sobre attitude Parahyba.
Saudações, - João Pessoa”.
No mesmo texto, registra-se o convite dos integrantes da
Aliança Liberal, para que João Pessoa figurasse na chapa concorrente à
presidência da República, representada por aquela agremiação política e
encabeçada por Getúlio Vargas, como candidato a vice-presidente, o que, “de
pronto”, foi aceitado por este: “Convite
me fazem v. v. excs., pela Alliança Liberal é uma honra que não tenho direito
recusar neste momento, sobretudo porque representa uma generosa homenagem ao
meu pequeno Estado”. Tanto o rompimento com o Governo Federal, quanto o
aceite em compor a chapa majoritária federal, são anotados, pelo presidente
João Pessoa, como se fora uma discussão democrática ocorrida no seio de seu
partido. Na verdade, é sabido que a Paraíba já havia decidido aliar-se aos
Estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, em oposição ao Governo Central e
que, por determinação do ex-presidente Epitácio Pessoa, seu sobrinho, João
Pessoa, já havia sido indicado para ser o candidato a vice-presidente.
Rompimento selado e candidatura posta, João Pessoa começou
sua campanha eleitoral em périplo pelo Estado, o que, segundo ele [Pessoa],
desagradou sobremaneira o Poder Central e aí, se iniciam o que o presidente da
Paraíba chama de perseguições políticas, o que desaguou na “Mashorca de Princeza”. Os acontecimentos se precipitaram. Segundo
o presidente paraibano - às páginas 17 de sua Mensagem -, este registra que
cabia a ele a “orientação” quanto à escolha dos candidatos à renovação da
Câmara e do terço do Senado da República. Às páginas 18, quanto a isso, João Pessoa
se trai quando afirma:
“Os rumores de traição, as denuncias
que recebia diariamente de que correligionarios como os srs. João Suassuna,
José Pereira e José Duarte Dantas se haviam mancommunado desde fins do anno
passado, para trair o partido, á ultima hora, não conseguiram perturbar a
serenidade com que rumei os casos politicos. Não costumo suspeitar dos amigos
nem admittir suspeitas sobre elles. Exijo provas”.
É sabido por todos que as desavenças e antipatias entre o
presidente da Paraíba e os líderes sertanejos acima citados, já existiam de há
muito. Ambos os lados encenavam e já se articulavam para o rompimento
definitivo e o início das retaliações que culminaram com a Guerra de Princesa. Enquanto
Pessoa dizia, falsamente, não acreditar nas traições de Suassuna, Pereira e
Dantas, estes, hipocritamente, lhes juravam amor eterno. Telegrama de José
Pereira a João Pessoa, datado de 13 de outubro de 1930, dando conta da situação
política em Princesa: “(...) Nosso
Partido coheso e graças a Deus ainda não conta com uma deserção. Todos firmes
ao lado da Aliança Liberal”. Essa declaração reverberava o que já havia
dito, o coronel José Pereira, na capital do Estado, em entrevista concedida ao
diário “Correio da Manhã”, em 07 de setembro de 1930:
“Sou homem de responsabilidade
provada ha muitos annos; duvido eu alguém, seja quem fôr, ponha em questão a
minha fidelidade politica. Sou epitacista declarado e firme desde muitos
annos”.
Mentiam todos. João Pessoa já desdenhava os três líderes em
questão, desde antes de sua posse na presidência do Estado da Paraíba, e estes,
nunca engoliram a indicação de Epitácio Pessoa em favor do nome do sobrinho
para governar o Estado. Tudo foi baseado na mentira e na enganação. Às páginas
22 da Mensagem, João Pessoa, diz que ao escolher os candidatos para a Câmara e
o Senado, adotou o critério de renovação e que após homologadas as escolhas,
fez publicar um manifesto, em 18 de fevereiro de 1930, que foi expedido “telegraphicamente a todos os chefes
municipaes”. Essa assertiva também não se constitui verdadeira, uma vez que
José Pereira, mesmo sabendo da chapa, através de terceiros, somente tomou
conhecimento da mesma, de forma oficial, logo após a partida de João Pessoa, de
Princesa de volta à Capital. Na Mensagem, o presidente destaca e agradece às
recepções calorosas que recebeu em suas visitas a Taperoá e Princesa, com
festas retumbantes, dizendo que essas festas marcaram: “(...) a data exacta em que dois chefes politicos desses municipios
desafivelaram as mascaras”.
Em face de toda essa farsa haver chegado ao fim motivada por
um afadigamento natural e pela completa impossibilidade de seu escondimento,
telegramas oficializaram o definitivo rompimento entre José Pereira e João
Pessoa. Recebido o telegrama dando conta do rompimento do coronel de Princesa,
o presidente afirma – em seu escrito à Assembleia Legislativa -, haver sido
isso: “(...) o primeiro tiro da Mashorca,
desfechado pelas costas, como faz o cangaceiro”. A partir daí, estoura a
Guerra de Princesa, o que é sabido, com o intuito de provocar a desorganização
do Estado e a consequente e desejada – por Zé Pereira, demais lideranças
sertanejas e os Pessoa de Queiroz do Recife -, intervenção pelo Governo
Federal. No início da guerra, já em março, o município de Princesa, acompanhado
pelo de Teixeira, através de seus Conselhos Municipais, enviaram telegramas às
duas Casas Legislativas Federais (Câmara e Senado), solicitando empenho para
que fosse decretada a intervenção federal na Paraíba. Enquanto isso,
incentivados por João Pessoa – que registrou na íntegra, em sua Mensagem, o
conteúdo desses telegramas -, vários outros Conselhos Municipais, a exemplo dos
de Campina Grande, Santa Rita, Mulungú, Alagoa Grande, Itabaiana, Alagoinha,
Ingá, Sapé, dentre outros, enviaram mensagens telegráficas, às mesmas
instâncias, pedindo o contrário. Com o intuito de fazer ver que o levante e a
sedição de Princesa tinham o aval do governo de Washington Luís, João Pessoa,
registra, às páginas 63 de sua Mensagem, a íntegra de uma carta de José
Pereira, enviada ao subdelegado de Santana dos Garrotes, Odilon Nicolau.
Excerto:
“(...) Havemos de provocar a
intervenção, pois estou disposto a occupar todos os Municipios do Sul do Estado
o mesmo se fará no Norte outra força commandada por pessoa em evidencia no
Estado. Penso ter direito e bem razão em lhe convidar para esta lucta, porque
as minhas relações com você me animam assim proceder. Não se enganem porque a causa está amparada pelos proceres da politica
nacional - José Pereira Lima – Princeza, 27-2-930”.
A importância desse trabalho, organizado pelo escritor,
Eduardo Martins, deita no fato de que o pesquisador, garimpando nos arquivos
emergiu para nós a versão oficial (de próprio punho) do presidente João Pessoa,
o que expõe verdades, mas traz também contradições que denotam a intenção de
justificar ódios pessoais para a efetivação de atos administrativos e políticos
afetos ao interesse público. O livro, é uma leitura necessária e que deve ser
feita com o vagar necessário para sua compreensão e acurada interpretação.
Eduardo Martins da Silva, escritor, pesquisador, historiador
e bibliófilo, nasceu em 13 de outubro de 1918 em Goiana/PE, filho de Francisco
Martins da Silva e de dona Jovita Monteiro Martins. Estudou o curso primário no
Grupo Escolar Dom Pedro II, em João Pessoa e fez o curso secundário no Liceu
Paraibano. Casou-se, em primeiras núpcias, com dona Arlinda Câmara Martins com
que teve a filha, Vera Lúcia. Viúvo, contraiu segundo matrimônio com dona
Joselita Martins da Silva. Dessa união, nasceram, Eduardo e Joselita. Martins
foi redator do jornal A União e
diretor do Correio das Artes. Foi
funcionário público federal (Caixa Econômica Federal). Escreveu para vários
jornais do Brasil e foi membro fundador da Academia Paraibana de Letras
(Cadeira 37) e membro do IHGP – Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba.
Faleceu na capital paraibana, em 16 de janeiro de 1991.
DSMR, em 10 de fevereiro de 2021.
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