quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

LER PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA

 





JOÃO PESSOA ATRAVÉS DE SUAS MENSAGENS PRESIDENCIAIS

EDUARDO MARTINS DA SILVA

Esse trabalho de pesquisa e organização do escritor Eduardo Martins da Silva, contém 186 páginas mais anexos e foi editado em 1978 pela CIA Editora A União, intitulado: JOÃO PESSOA ATRAVÉS DE SUAS MENSAGENS PRESIDENCIAIS”. O livro, se reveste da maior importância quando traz à baila, informações pouco conhecidas, principalmente no tocante ao antes, durante e depois dos ocorridos num dos instantes mais decisivos da história da Paraíba, o que envolve Princesa, no contexto dos primórdios da Revolução de 30, de forma muito abrangente. A obra de Eduardo Martins, aborda a história através das Mensagens do presidente (governador) João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, à Assembleia Legislativa da Paraíba, referentes ao período administrativo de julho de 1929 a junho de 1930. Inacabada, a mensagem, uma vez que em seu curso de elaboração foi, o desditoso presidente, assassinado pelas mãos do advogado João Duarte Dantas, na Confeitaria Glória, no Recife, em 26 de julho de 1930.

Nesse escrito, Martins evoca a versão de João Pessoa, sobre os fatos de 1930, escritos pelo seu próprio punho. Informações que, no mais das vezes, são omitidas ou divergem das trazidas à luz por vários historiadores que já escreveram sobre o assunto. A partir da página 07, começa, o presidente paraibano, a discorrer sobre os fatos que ilustraram a crise política de então: as eleições de 1º de março, o esbulho das candidaturas aliancistas, a Guerra de Princesa, a ameaça de intervenção na Paraíba, dentre outros. Às páginas 08, encontramos o registro do rompimento do presidente da Paraíba com o Governo Federal, quando João Pessoa expede telegrama ao presidente Washington Luís, nos seguintes termos:

 “Reunido Directorio Partido, sob minha presidencia, depois consultados amigos maior representação politica, resolveu unanimemente não apoiar candidatura eminente dr. Julio Prestes successão presidencial Republica. Peço comunicar essa resolução leader maioria em resposta sua consulta sobre attitude Parahyba. Saudações, - João Pessoa”.

No mesmo texto, registra-se o convite dos integrantes da Aliança Liberal, para que João Pessoa figurasse na chapa concorrente à presidência da República, representada por aquela agremiação política e encabeçada por Getúlio Vargas, como candidato a vice-presidente, o que, “de pronto”, foi aceitado por este: “Convite me fazem v. v. excs., pela Alliança Liberal é uma honra que não tenho direito recusar neste momento, sobretudo porque representa uma generosa homenagem ao meu pequeno Estado”. Tanto o rompimento com o Governo Federal, quanto o aceite em compor a chapa majoritária federal, são anotados, pelo presidente João Pessoa, como se fora uma discussão democrática ocorrida no seio de seu partido. Na verdade, é sabido que a Paraíba já havia decidido aliar-se aos Estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, em oposição ao Governo Central e que, por determinação do ex-presidente Epitácio Pessoa, seu sobrinho, João Pessoa, já havia sido indicado para ser o candidato a vice-presidente.     

Rompimento selado e candidatura posta, João Pessoa começou sua campanha eleitoral em périplo pelo Estado, o que, segundo ele [Pessoa], desagradou sobremaneira o Poder Central e aí, se iniciam o que o presidente da Paraíba chama de perseguições políticas, o que desaguou na “Mashorca de Princeza”. Os acontecimentos se precipitaram. Segundo o presidente paraibano - às páginas 17 de sua Mensagem -, este registra que cabia a ele a “orientação” quanto à escolha dos candidatos à renovação da Câmara e do terço do Senado da República. Às páginas 18, quanto a isso, João Pessoa se trai quando afirma:

“Os rumores de traição, as denuncias que recebia diariamente de que correligionarios como os srs. João Suassuna, José Pereira e José Duarte Dantas se haviam mancommunado desde fins do anno passado, para trair o partido, á ultima hora, não conseguiram perturbar a serenidade com que rumei os casos politicos. Não costumo suspeitar dos amigos nem admittir suspeitas sobre elles. Exijo provas”.   

É sabido por todos que as desavenças e antipatias entre o presidente da Paraíba e os líderes sertanejos acima citados, já existiam de há muito. Ambos os lados encenavam e já se articulavam para o rompimento definitivo e o início das retaliações que culminaram com a Guerra de Princesa. Enquanto Pessoa dizia, falsamente, não acreditar nas traições de Suassuna, Pereira e Dantas, estes, hipocritamente, lhes juravam amor eterno. Telegrama de José Pereira a João Pessoa, datado de 13 de outubro de 1930, dando conta da situação política em Princesa: “(...) Nosso Partido coheso e graças a Deus ainda não conta com uma deserção. Todos firmes ao lado da Aliança Liberal”. Essa declaração reverberava o que já havia dito, o coronel José Pereira, na capital do Estado, em entrevista concedida ao diário “Correio da Manhã”, em 07 de setembro de 1930:

“Sou homem de responsabilidade provada ha muitos annos; duvido eu alguém, seja quem fôr, ponha em questão a minha fidelidade politica. Sou epitacista declarado e firme desde muitos annos”.

Mentiam todos. João Pessoa já desdenhava os três líderes em questão, desde antes de sua posse na presidência do Estado da Paraíba, e estes, nunca engoliram a indicação de Epitácio Pessoa em favor do nome do sobrinho para governar o Estado. Tudo foi baseado na mentira e na enganação. Às páginas 22 da Mensagem, João Pessoa, diz que ao escolher os candidatos para a Câmara e o Senado, adotou o critério de renovação e que após homologadas as escolhas, fez publicar um manifesto, em 18 de fevereiro de 1930, que foi expedido “telegraphicamente a todos os chefes municipaes”. Essa assertiva também não se constitui verdadeira, uma vez que José Pereira, mesmo sabendo da chapa, através de terceiros, somente tomou conhecimento da mesma, de forma oficial, logo após a partida de João Pessoa, de Princesa de volta à Capital. Na Mensagem, o presidente destaca e agradece às recepções calorosas que recebeu em suas visitas a Taperoá e Princesa, com festas retumbantes, dizendo que essas festas marcaram: “(...) a data exacta em que dois chefes politicos desses municipios desafivelaram as mascaras”.

Em face de toda essa farsa haver chegado ao fim motivada por um afadigamento natural e pela completa impossibilidade de seu escondimento, telegramas oficializaram o definitivo rompimento entre José Pereira e João Pessoa. Recebido o telegrama dando conta do rompimento do coronel de Princesa, o presidente afirma – em seu escrito à Assembleia Legislativa -, haver sido isso: “(...) o primeiro tiro da Mashorca, desfechado pelas costas, como faz o cangaceiro”. A partir daí, estoura a Guerra de Princesa, o que é sabido, com o intuito de provocar a desorganização do Estado e a consequente e desejada – por Zé Pereira, demais lideranças sertanejas e os Pessoa de Queiroz do Recife -, intervenção pelo Governo Federal. No início da guerra, já em março, o município de Princesa, acompanhado pelo de Teixeira, através de seus Conselhos Municipais, enviaram telegramas às duas Casas Legislativas Federais (Câmara e Senado), solicitando empenho para que fosse decretada a intervenção federal na Paraíba. Enquanto isso, incentivados por João Pessoa – que registrou na íntegra, em sua Mensagem, o conteúdo desses telegramas -, vários outros Conselhos Municipais, a exemplo dos de Campina Grande, Santa Rita, Mulungú, Alagoa Grande, Itabaiana, Alagoinha, Ingá, Sapé, dentre outros, enviaram mensagens telegráficas, às mesmas instâncias, pedindo o contrário. Com o intuito de fazer ver que o levante e a sedição de Princesa tinham o aval do governo de Washington Luís, João Pessoa, registra, às páginas 63 de sua Mensagem, a íntegra de uma carta de José Pereira, enviada ao subdelegado de Santana dos Garrotes, Odilon Nicolau. Excerto:

“(...) Havemos de provocar a intervenção, pois estou disposto a occupar todos os Municipios do Sul do Estado o mesmo se fará no Norte outra força commandada por pessoa em evidencia no Estado. Penso ter direito e bem razão em lhe convidar para esta lucta, porque as minhas relações com você me animam assim proceder. Não se enganem porque a causa está amparada pelos proceres da politica nacional - José Pereira Lima – Princeza, 27-2-930”.

A importância desse trabalho, organizado pelo escritor, Eduardo Martins, deita no fato de que o pesquisador, garimpando nos arquivos emergiu para nós a versão oficial (de próprio punho) do presidente João Pessoa, o que expõe verdades, mas traz também contradições que denotam a intenção de justificar ódios pessoais para a efetivação de atos administrativos e políticos afetos ao interesse público. O livro, é uma leitura necessária e que deve ser feita com o vagar necessário para sua compreensão e acurada interpretação.

Eduardo Martins da Silva, escritor, pesquisador, historiador e bibliófilo, nasceu em 13 de outubro de 1918 em Goiana/PE, filho de Francisco Martins da Silva e de dona Jovita Monteiro Martins. Estudou o curso primário no Grupo Escolar Dom Pedro II, em João Pessoa e fez o curso secundário no Liceu Paraibano. Casou-se, em primeiras núpcias, com dona Arlinda Câmara Martins com que teve a filha, Vera Lúcia. Viúvo, contraiu segundo matrimônio com dona Joselita Martins da Silva. Dessa união, nasceram, Eduardo e Joselita. Martins foi redator do jornal A União e diretor do Correio das Artes. Foi funcionário público federal (Caixa Econômica Federal). Escreveu para vários jornais do Brasil e foi membro fundador da Academia Paraibana de Letras (Cadeira 37) e membro do IHGP – Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba. Faleceu na capital paraibana, em 16 de janeiro de 1991.

DSMR, em 10 de fevereiro de 2021.

 

 

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