sábado, 20 de março de 2021

A POMBA BRANCA DA PAZ, O "DATA VENIA" E AS QUALIDADES EXCELSAS DE VOSSA EXCELÊNCIA, DENTRE OUTROS ANIMAIS EXÓTICOS




Ouvi o jornalista Augusto Nunes referir-se a um advogado criminalista de sua cidade, Tatuí-SP, afirmando que o bacharel iniciava qualquer defesa no tribunal do júri com a seguinte oração: "Nem tudo é nada, nem nada é tudo em matéria de principalmente." A máxima, segundo Nunes, era revestida de uma solenidade própria dos grandes tribunos romanos. E as pessoas, desavisadas, tomavam aquele preâmbulo oratório como sendo o último patamar da erudição interiorana. Aqui no nosso sempre avacalhado solo tupiniquim brotaram, aos montes, os bacharéis de direito e de outras áreas, com uma enorme tendência à empulhação discursiva. Com a elegância própria dos pavões e o conhecimento de um livro em branco, essa turma danou-se a falar. Falar, falar e falar pelos cotovelos e por qualquer outra parte do corpo, não importava e nem importa. Para eles a linguagem nunca se prestara a transmitir um ideia ou qualquer fato objetivo. Falar, de maneira empolada e sempre confusa, dava ao falante uma áurea de superioridade intelectual, jamais alcançada pelo pobre receptor da fala. Tratava-se de um método que, às vezes inconscientemente, o bacharel repetia enquanto houvesse público para ouví-lo. E esse fenômeno não se deu apenas no Brasil. Era um cacoete europeu, e que nos era trazido pelos filhos da aristocracia brasileira, que normalmente estudava em Portugal. Ocorre que a grande campeã da embromação linguística é a Alemanha. Foi lá onde surgiram as tendências de pensamento mais bossais e arrogantes. Os pandectistas, que surgiram com o advento da chamada Escola Histórica Alemã (1840-1918) pretendiam falar em nome de um grupo majoritário, mesmo quando o falante estivesse se comunicando na primeira pessoa do singular. Deriva daquele pensamento o chamado plural majestático. Ou seja, ainda hoje é comum deparar-nos com pessoas falando individualmente e usando os verbos no plural: pensamos, acreditamos, vemos, defendemos etc. Ainda da Alemanha vieram os dadaistas. Escola cultural nascida no início do Século XX e que pretendia, principalmente na pintura, reproduzir a arte como vista pelos olhos das crianças. Daí porque o nome dadaismo ser uma tentativa de reproduzir o gaguejar de uma criança tentando falar"...da, da,da..." Resumidamente: uma besteira arrogante nunca vista. A outra tentativa, também alemã, deu-se com a conhecida Escola de Frankfurt. Trata-se de um enorme mal, que perdura até hoje, e que formou grande parte das mais perversas mentes comunistóides do mundo ocidental. Os seguidores daquela escola tinham e têm o hábito, e isso enquanto método, de falar de maneira confusa, não conclusiva, arrogante, proprietária de uma verdade universal e comumente escorregadia. Enquanto o falar do bacharelismo brasileiro do passado (e ainda do presente) pretendia e pretende apenas mostrar-se culto, os cultores da Escola de Frankfurt usam a linguagem com o propósito de enganar, confundir, criar adesões e servir a um propósito. Para os primeiros vale a pena lembrar símbolos, batidos e rebatidos, de algo como a pomba branca da paz, o tratamento excessivamente bajulatório com os detentores do poder estatal, frases como Vossa Excelência e a sua EXCELSA compreensão, "data venia", Pretório Excelso (assim mesmo, grafado com iniciais maiúsculas e referente a tribunais). No final dessa enrolação os argumentos dão lugar ao falatório vazio, estéril e inútil, enquanto que a razão fica, como sempre, deixada para o dia de amanhã. E como no discurso, na vida cotidiana o Brasil tem sido deixado sempre para amanhã. É o país do futuro. Do futuro que nunca chega.  


Wellington Marques Lima

Um comentário:

  1. Preferia que em vez de ser país do futuro fosse país do passado. Pelo menos assim teríamos histórias para contar.

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