Ouvi o jornalista Augusto Nunes referir-se a um advogado criminalista de sua cidade, Tatuí-SP, afirmando que o bacharel iniciava qualquer defesa no tribunal do júri com a seguinte oração: "Nem tudo é nada, nem nada é tudo em matéria de principalmente." A máxima, segundo Nunes, era revestida de uma solenidade própria dos grandes tribunos romanos. E as pessoas, desavisadas, tomavam aquele preâmbulo oratório como sendo o último patamar da erudição interiorana. Aqui no nosso sempre avacalhado solo tupiniquim brotaram, aos montes, os bacharéis de direito e de outras áreas, com uma enorme tendência à empulhação discursiva. Com a elegância própria dos pavões e o conhecimento de um livro em branco, essa turma danou-se a falar. Falar, falar e falar pelos cotovelos e por qualquer outra parte do corpo, não importava e nem importa. Para eles a linguagem nunca se prestara a transmitir um ideia ou qualquer fato objetivo. Falar, de maneira empolada e sempre confusa, dava ao falante uma áurea de superioridade intelectual, jamais alcançada pelo pobre receptor da fala. Tratava-se de um método que, às vezes inconscientemente, o bacharel repetia enquanto houvesse público para ouví-lo. E esse fenômeno não se deu apenas no Brasil. Era um cacoete europeu, e que nos era trazido pelos filhos da aristocracia brasileira, que normalmente estudava em Portugal. Ocorre que a grande campeã da embromação linguística é a Alemanha. Foi lá onde surgiram as tendências de pensamento mais bossais e arrogantes. Os pandectistas, que surgiram com o advento da chamada Escola Histórica Alemã (1840-1918) pretendiam falar em nome de um grupo majoritário, mesmo quando o falante estivesse se comunicando na primeira pessoa do singular. Deriva daquele pensamento o chamado plural majestático. Ou seja, ainda hoje é comum deparar-nos com pessoas falando individualmente e usando os verbos no plural: pensamos, acreditamos, vemos, defendemos etc. Ainda da Alemanha vieram os dadaistas. Escola cultural nascida no início do Século XX e que pretendia, principalmente na pintura, reproduzir a arte como vista pelos olhos das crianças. Daí porque o nome dadaismo ser uma tentativa de reproduzir o gaguejar de uma criança tentando falar"...da, da,da..." Resumidamente: uma besteira arrogante nunca vista. A outra tentativa, também alemã, deu-se com a conhecida Escola de Frankfurt. Trata-se de um enorme mal, que perdura até hoje, e que formou grande parte das mais perversas mentes comunistóides do mundo ocidental. Os seguidores daquela escola tinham e têm o hábito, e isso enquanto método, de falar de maneira confusa, não conclusiva, arrogante, proprietária de uma verdade universal e comumente escorregadia. Enquanto o falar do bacharelismo brasileiro do passado (e ainda do presente) pretendia e pretende apenas mostrar-se culto, os cultores da Escola de Frankfurt usam a linguagem com o propósito de enganar, confundir, criar adesões e servir a um propósito. Para os primeiros vale a pena lembrar símbolos, batidos e rebatidos, de algo como a pomba branca da paz, o tratamento excessivamente bajulatório com os detentores do poder estatal, frases como Vossa Excelência e a sua EXCELSA compreensão, "data venia", Pretório Excelso (assim mesmo, grafado com iniciais maiúsculas e referente a tribunais). No final dessa enrolação os argumentos dão lugar ao falatório vazio, estéril e inútil, enquanto que a razão fica, como sempre, deixada para o dia de amanhã. E como no discurso, na vida cotidiana o Brasil tem sido deixado sempre para amanhã. É o país do futuro. Do futuro que nunca chega.
Wellington Marques Lima
Preferia que em vez de ser país do futuro fosse país do passado. Pelo menos assim teríamos histórias para contar.
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