Milagres são fenômenos extraordinários que escapam do conhecimento racional.
Impossível pelas leis naturais, os milagres são obras de Deus e não dos homens.
Logo, Bolsonaro, na perspectiva política, não testa positivo para milagres.
Mas, por quê Bolsonaro, que cria um mundão de problemas cabeludos e insolúveis, continua exercendo incólume a presidência do país ?
Isto não é algo fenomenal que desafia o senso comum ? Ou simplesmente não há mais senso comum no Brasil ?
De fato, não existe mais senso comum, por falta de consenso. Só há agora senso incomum, derivado do dissenso.
Bolsonaro se fez presidente pelos dissensos sociais, o inconformismo da população diante de um retumbante fracasso das classes dirigentes.
Fracasso, não ! Desastre de um modelo imoral de gestão que se retroalimentava nos poços da corrupção.
Era uma cleptocracia desembestada que não percebia a ira que se formava do outro lado do balcão.
Quem quer que parecesse diferente, logo diferente era e útil à reação.
Em 2018, Bolsonaro não só parecia diferente e descontente , mas parecia também brutalmente inimigo dos tidos inimigos da população.
Um Xerife em meio à multidão, Bolsonaro xerifou à gosto da revolta social e assumiu a liderança do que seria uma insurreição eleitoral permanente.
A revolta ainda continua como móvel psicológico contra um sistema de desmandos que pôs grande parte do povo de cócaras ante corsários saqueadores.
Resumo da ópera : enquanto existirem rastros dos salteadores, Bolsonaro continua na Xerifatura. Ele é o escudo das vítimas.
É verdade que o Xerife tem um frenesi por brigas, quedas de braço, desacatos, provocações, animosidades, arengas paroquiais, mas faz parte das batalhas travadas nos esgotos e pântanos da república.
Tudo porque também é briguento, inciumado, desconfiado, traiçoeiro, calculista, alcovita, familiaresco, teimoso, renitente e messiânico.
Além do mais, o Xerife é MITOPATA , o que tem a sociopatia que acomete os mitos.
O presidente tem mania de grandeza e está construindo em volta do palácio uma coleção de crateras e abismos só para enterrar inimigos, muitos dos quais já respiram por aparelhos.
É um exterminador do presente e do futuro que, contudo, não conta as valas que já abriu. Como a Covid, não sabe quantos matou e quantos sobreviverão. E esse é o risco de tropeçar nos mortos e cair nas valas.
O Xerife faz que não ver que a pandemia como inimigo invisível está fazendo moradia exatamente onde abriu seus buracos e crateras, de onde montanhas de defuntos assustam a vizinhança palaciana.
E o povo, em pânico pela sobrevivência, pode achar que o mito cuida mais de seu palácio e de sua família do que dos ataques de outro vírus devastador - agora, letal, que fala pelo ranger de cadáveres amontoados.
Gilvan Freira
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