sexta-feira, 25 de junho de 2021

LER PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA


A COLUNA PRESTES NA PARAÍBA

MANUEL OTAVIANO


O livro do padre Manuel Octaviano de Moura Lima, lançado em 1ª edição em 1954 e reeditado pela Editora Acauã – João Pessoa/PB - 1979, com 186 páginas, conta a história da Coluna Prestes na Paraíba, dando ênfase ao massacre do padre Aristides Ferreira da Cruz, em PiancóImportante obra que traz no seu bojo fragmentos da história da Paraíba, inclusive, é claro, de Princesa. 

Manuel Octaviano foi aluno do padre Aristides no Colégio Diocesano da Paraíba, onde o sacerdote ministrava aulas de francês. Corria o ano de 1901 e, naquele Seminário, estudavam também o futuro coronel José Pereira Lima,seus irmãos, Manoel Carlos e Antônio Pereira e seu cunhado Inocêncio Justino da Nóbrega colegas, portanto, do autor da obra que ora resenhamos. Eram também contemporâneos, importantes nomes da política e da literatura paraibana, a exemplo de José Américo de Almeida, Irineu Jófili, Heretiano Zenaide, Severino Montenegro, dentre outros. Todos em regime de internato.

Nas páginas 71 e 72, Octaviano faz menção à atuação parlamentar do padre Aristides, de Piancó, na Assembleia Legislativa da Paraíba, em debates acirrados em que tinha como adversário o coronel José Pereira Lima de Princesa, a quem o autor se refere como o “Leão Sertanejo”. Num desses debates, Zé Pereira e Aristides se digladiaram da tribuna daquela Casa Legislativa, quando o primeiro - autor de um Projeto de Lei que autoriza o desmembramento do Distrito de Água Branca de Piancó passando a pertencer a Princesa, teve a ferrenha oposição do sacerdote e líder político de Piancó:

“(...) com argumentos ponderáveis, o padre Aristides opôs-se e bateu-se pela integridade de Piancó, com todas as forças de que dispunha. Defendeu brilhantemente essa velha conquista do Município sertanejo que ele representava, provinha de sua elevação à vila, desde 1831. Foi uma luta renhida, cujos debates chegaram a morder a honra pessoal dos litigantes”.

Outra referência importante, encontrada no livro, é sobre a assunção de José Pereira sobre os destinos políticos de Princesa. A narrativa de Manuel Octaviano se reveste de grande importância, uma vez ser um registro raro e inéditosobre esse momento político da terra princesense. É sabido que o então acadêmico de Direito, José Pereira, cursando o terceiro ano na Faculdade de Recife, teve de vir para Princesa, em 1905, quando do falecimento do seu pai, coronel Marcolino Pereira Lima. Nas páginas 80 e 81 desse trabalho, o autor anota:

“O coronel Marcolino Pereira Lima, pai de José Pereira, representava, em Princesa, o partido de Monsenhor Valfredo, Álvaro Machado e companheiros. Homem rico, honesto, prudente, amigo de sua terra, ocupou a Assembléia Estadual, em mais de uma legislatura. Faleceu, deixando o filho, José Pereira, no primeiro ano de Direito (sic), em Recife. Este abandonou os estudos e veio para Princesa a assumir os destinos políticos de sua terra. Valfredo, no governo do Estado, não lhe quis entregar o Município serrano. Ponderou-lhe, brandamente, que ele ainda era muito moço, ardente, impetuoso, poderia desorganizar a política de sua terra. Mesmo, Princesa tinha velhas ligações com Piancó, onde representava o partido,homem de senso e prestígio, como Felizardo Leite. José Pereira não se conformou. Falou sério ao Monsenhor: ‘pois, então. V. Exa. também não governará Princesa. Não prestarei vassalagem a nenhum chefe, em minha terra. Somos quatro irmãos com muito dinheiro e pouco juízo. Arrazarei Princesa. Não deixarei uma casa de pé’. O chefe do executivo paraibano, homem experiente, tolerante, mediu as consequências, riu baixinho e obtemperou: ‘de fato, José, estou vendo que você tem juízo mesmo não. Vá trabalhar por sua terra e eu o ajudarei. Peço-lhe não criar dificuldades... Ouça-me, sempre, nos casos difíceis’. E, aos vinte e dois anos, José Pereira isolara Princesa de Piancó. Tornando-se ali, baluarte do situacionismo paraibano. Irradiou seu prestígio por todo o Estado, rompeu, mais tarde, por injunções políticas, com Valfredo, ficou ao lado de Epitácio Pessoa, batendo-se, denodadamente, em todo o sertão, por sua vitória, em 1915”.

Essa narrativa, que não encontramos em parte alguma da historiografia princesense, põe-nos em dúvida sobre sua veracidade, ou dá-nos luz para uma versão mais completa sobre esse importante capítulo da nossa história. O padre Manuel Octaviano, amigo e contemporâneo do coronel, pode ter colhido esse relato tanto de Zé Pereira quanto das autoridades estaduais ou, por outra, via confessionário.Certo é que colhemos uma nova versão sobre o episódio da investidura de Zé Pereira como líder político de Princesa. Dessa narrativa, extraímos o que poderia ser um complô do presidente do Estado [monsenhor Valfredo Leal] com o líder político de Piancó [Felizardo Leite], para manter Princesa sob o comando daquele município. A brava determinação do jovem coronel princesense concede a impressão de que foi, esse episódio, a verdadeira ocasião em que Princesa se emancipou politicamente. 

Este livro, que ora resenhamos, se não fala especificamente sobre a história de Princesa, traz fragmentos importantes sobre seu maior protagonista: o coronel José Pereira Lima. Daí a importância da obra, que nos ensina algo sobre essa importante personalidade princesense tão falta de dados biográficos. 

Manuel Octaviano, nasceu no município de Ibiara/PB, em 27 de abril de 1880 e faleceu em Piancó/PB, em 11 de abril de 1960. Ordenou-se padre em 1910 em Teresina/PI. Foi designado vigário das paróquias de Brejo do Cruz,Catolé do Rocha, Conceição e Piancó, todas na Paraíba. Intelectual e político, foi professor de línguas, deputado estadual e jornalista. Escreveu romances e peças teatrais. Foi membro do IHG - Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba e ingressou na Academia Paraibana de Letras em 25 de agosto de 1945. Deixou vasta produção literária.




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