A COLUNA PRESTES NA PARAÍBA
MANUEL OTAVIANO
O livro do padre Manuel Octaviano de Moura Lima, lançado em 1ª edição em 1954 e reeditado pela Editora Acauã – João Pessoa/PB - 1979, com 186 páginas, conta a história da Coluna Prestes na Paraíba, dando ênfase ao massacre do padre Aristides Ferreira da Cruz, em Piancó. Importante obra que traz no seu bojo fragmentos da história da Paraíba, inclusive, é claro, de Princesa.
Manuel Octaviano foi aluno do padre Aristides no Colégio Diocesano da Paraíba, onde o sacerdote ministrava aulas de francês. Corria o ano de 1901 e, naquele Seminário, estudavam também o futuro coronel José Pereira Lima,seus irmãos, Manoel Carlos e Antônio Pereira e seu cunhado Inocêncio Justino da Nóbrega colegas, portanto, do autor da obra que ora resenhamos. Eram também contemporâneos, importantes nomes da política e da literatura paraibana, a exemplo de José Américo de Almeida, Irineu Jófili, Heretiano Zenaide, Severino Montenegro, dentre outros. Todos em regime de internato.
Nas páginas 71 e 72, Octaviano faz menção à atuação parlamentar do padre Aristides, de Piancó, na Assembleia Legislativa da Paraíba, em debates acirrados em que tinha como adversário o coronel José Pereira Lima de Princesa, a quem o autor se refere como o “Leão Sertanejo”. Num desses debates, Zé Pereira e Aristides se digladiaram da tribuna daquela Casa Legislativa, quando o primeiro - autor de um Projeto de Lei que autoriza o desmembramento do Distrito de Água Branca de Piancó passando a pertencer a Princesa, teve a ferrenha oposição do sacerdote e líder político de Piancó:
“(...) com argumentos ponderáveis, o padre Aristides opôs-se e bateu-se pela integridade de Piancó, com todas as forças de que dispunha. Defendeu brilhantemente essa velha conquista do Município sertanejo que ele representava, provinha de sua elevação à vila, desde 1831. Foi uma luta renhida, cujos debates chegaram a morder a honra pessoal dos litigantes”.
Outra referência importante, encontrada no livro, é sobre a assunção de José Pereira sobre os destinos políticos de Princesa. A narrativa de Manuel Octaviano se reveste de grande importância, uma vez ser um registro raro e inéditosobre esse momento político da terra princesense. É sabido que o então acadêmico de Direito, José Pereira, cursando o terceiro ano na Faculdade de Recife, teve de vir para Princesa, em 1905, quando do falecimento do seu pai, coronel Marcolino Pereira Lima. Nas páginas 80 e 81 desse trabalho, o autor anota:
“O coronel Marcolino Pereira Lima, pai de José Pereira, representava, em Princesa, o partido de Monsenhor Valfredo, Álvaro Machado e companheiros. Homem rico, honesto, prudente, amigo de sua terra, ocupou a Assembléia Estadual, em mais de uma legislatura. Faleceu, deixando o filho, José Pereira, no primeiro ano de Direito (sic), em Recife. Este abandonou os estudos e veio para Princesa a assumir os destinos políticos de sua terra. Valfredo, no governo do Estado, não lhe quis entregar o Município serrano. Ponderou-lhe, brandamente, que ele ainda era muito moço, ardente, impetuoso, poderia desorganizar a política de sua terra. Mesmo, Princesa tinha velhas ligações com Piancó, onde representava o partido,homem de senso e prestígio, como Felizardo Leite. José Pereira não se conformou. Falou sério ao Monsenhor: ‘pois, então. V. Exa. também não governará Princesa. Não prestarei vassalagem a nenhum chefe, em minha terra. Somos quatro irmãos com muito dinheiro e pouco juízo. Arrazarei Princesa. Não deixarei uma casa de pé’. O chefe do executivo paraibano, homem experiente, tolerante, mediu as consequências, riu baixinho e obtemperou: ‘de fato, José, estou vendo que você tem juízo mesmo não. Vá trabalhar por sua terra e eu o ajudarei. Peço-lhe não criar dificuldades... Ouça-me, sempre, nos casos difíceis’. E, aos vinte e dois anos, José Pereira isolara Princesa de Piancó. Tornando-se ali, baluarte do situacionismo paraibano. Irradiou seu prestígio por todo o Estado, rompeu, mais tarde, por injunções políticas, com Valfredo, ficou ao lado de Epitácio Pessoa, batendo-se, denodadamente, em todo o sertão, por sua vitória, em 1915”.
Essa narrativa, que não encontramos em parte alguma da historiografia princesense, põe-nos em dúvida sobre sua veracidade, ou dá-nos luz para uma versão mais completa sobre esse importante capítulo da nossa história. O padre Manuel Octaviano, amigo e contemporâneo do coronel, pode ter colhido esse relato tanto de Zé Pereira quanto das autoridades estaduais ou, por outra, via confessionário.Certo é que colhemos uma nova versão sobre o episódio da investidura de Zé Pereira como líder político de Princesa. Dessa narrativa, extraímos o que poderia ser um complô do presidente do Estado [monsenhor Valfredo Leal] com o líder político de Piancó [Felizardo Leite], para manter Princesa sob o comando daquele município. A brava determinação do jovem coronel princesense concede a impressão de que foi, esse episódio, a verdadeira ocasião em que Princesa se emancipou politicamente.
Este livro, que ora resenhamos, se não fala especificamente sobre a história de Princesa, traz fragmentos importantes sobre seu maior protagonista: o coronel José Pereira Lima. Daí a importância da obra, que nos ensina algo sobre essa importante personalidade princesense tão falta de dados biográficos.
Manuel Octaviano, nasceu no município de Ibiara/PB, em 27 de abril de 1880 e faleceu em Piancó/PB, em 11 de abril de 1960. Ordenou-se padre em 1910 em Teresina/PI. Foi designado vigário das paróquias de Brejo do Cruz,Catolé do Rocha, Conceição e Piancó, todas na Paraíba. Intelectual e político, foi professor de línguas, deputado estadual e jornalista. Escreveu romances e peças teatrais. Foi membro do IHG - Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba e ingressou na Academia Paraibana de Letras em 25 de agosto de 1945. Deixou vasta produção literária.
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