HOJE TEM ESPETÁCULO?

 

O circo era o da Viúva. O palhaço era “Xexéo”. Os trapezistas eram “Birôco” e “Dorinha” e, as dançarinas, “Jacklene” e “Jackleide”. Isso era na Princesa do final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Com muita frequência, o Circo da Viúva armava sua empanada em Princesa. Vinha para cá e aqui passava meses de espetáculos infindos. O Casamento do Palhaço (que é sempre o último espetáculo da temporada), acontecia mais de três vezes. Estabelecido, à Praça Epitácio Pessoa ou na Rua do Cancão, o Circo exercia uma atração sem par em todas as camadas da sociedade.

Para as crianças, o deleite eram as graças do palhaço “Xexéo” e os truques do mágico Wilson. A rapaziada se comprazia com as gêmeas, Jacklene e Jackleide dançando de minissaias. Para os adultos - principalmente os “bacanas” que assistiam das cadeiras (pobres se contentavam com assento nos poleiros), a atração era o drama: “A Louca do Jardim”. Para todos, como atração principal, as peripécias e as acrobacias de “Birôco” e “Dorinha”, no trapézio, faziam a festa.

O mais marcante para mim, é a lembrança do palhaço de pernas-de-pau que, todas as tardes, desfilava pelas principais ruas da cidade, propagandeando sobre o espetáculo que começaria logo mais à noite: O palhaço perguntava e a meninada respondia: “Hoje tem espetáculo? Tem sim sinhô!”.Em uma dessas ocasiões, eu e meu irmão acompanhamos o palhaço para ganhar o ingresso e ganhamos uma bela surra da nossa mãe porque, mesmo sem ter dinheiro para ir ao circo, não podíamos nos misturar com o que ela chamava de “mundiça”, acompanhando aquele séquito.

Tempos idos que não voltam mais, mas que nos trazem lembranças alentadoras de uma Princesa charmosa, bucólica, romântica e muito nossa. Mesmo se constituindo um pedacinho inexpressivo do Brasil, já disseram ser Princesa o chão mais histórico da Paraíba. Da terra que nos deu à luz não restam somente lembranças, existem ainda espaços que nos fazem recordar o passado.O resgate e a rememoração das coisas de antanho, trazem alento, principalmente àqueles que vivem longe da Terrinha.