segunda-feira, 2 de agosto de 2021

No Vaticano, o feitiço virou por cima dos feiticeiros

Semana passado foi iniciado um julgamento na Cidade do Vaticano para apurar irregularidades praticadas por um cardeal da Cúria Romana que, supostamente, usou o sagrado dinheiro da Santa Madre Igreja para a realização de estripulias imobiliárias na Inglaterra. O cardeal italiano Giovanni Angelo Becciu, conselheiro do Papa Francisco, promoveu o maior escândalo financeiro quando usou dinheiro do Óbolo de São Pedro para comprar um edifício, em Londres, por 220 milhões de libras (1,5 bilhão de reais), ao que tudo indica, um negócio superfaturado. O cardeal nega a negociata e se diz inocente.

A Santa Sé possui, ao redor do mundo, mais de 5 mil imóveis; investe nas bolsas de valores; detém sociedade com indústrias; enfim, empreende como qualquer outra organização com interesses financeiros. O Óbolo de São Pedro é um fundo milionário constituído pelas doações dos fiéis católicos do mundo todo, e os imóveis pontifícios são, em sua maioria, o espólio do que foi tomado dos judeus pela Santa Inquisição. Tribunais do Santo Ofício tratavam como hereges aqueles que não rezavam pela cartilha do Vaticano e, além de queimá-los nas “fogueiras purificadoras” destituíam suas famílias de todos os seus bens em benefício da Santa Madre Igreja.

De bom alvitre seria que os maiores inquisidores da história estivessem ainda vivos para funcionarem como juízes do cardeal Becciu. Presentes, o espanhol Tomás de Torquemada; o francês Bernardo Gui ou o italiano Roberto Bellarmino, o julgamento poderia até terminar em fogueira purgatória, funcionando como um mea culpa pelas atrocidades promovidas pela Igreja Católica durante séculos contra aqueles que discordavam de seus dogmas e de seus ensinamentos. Sentado no banco dos réus, o cardeal italiano, Angelo Becciu, agora representando a Igreja do outro lado do balcão, pagaria pelos pecados cometidos pela mais tenebrosa instituição religiosa do Ocidente. O feitiço virou por cima dos feiticeiros. O tempo é o senhor da razão.




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