sexta-feira, 17 de setembro de 2021

LER PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA



HISTÓRIA DO BRASIL

Boris Fausto

Este livro didático, elaborado por um dos maiores historiadores nacionais, contém 677 páginas e foi editado pela EDUSP – Editora da Universidade de São Paulo – 2006. Destinada ao ensino médio e universitário, esta obra, segundo o autor, “tem a esperança de atingir também o público letrado em geral”. A importância dessa resenha literária está no fato de que, apesar do caudal de páginas, é este livro um relato sucinto sobre a História do Brasil. Em sua apresentação, Boris Fausto informa que “(...) obedece [o livro] a um critério de relevância e implica o abandono ou o tratamento superficial de muitos processos e episódios”. Informa ainda, que deixa de lado temas de menor relevância. Daí, a importância da obra para nós princesenses porque, nas páginas 276 e 277, no capítulo que trata da Revolução de 1930, com o subtítulo “O Estopim da Revolução”, Boris Fausto o dedica quase todo à Rebelião de Princesa, quando anota:

 

“A luta de grupos na Paraíba vinha de muito tempo. Eleito governador do Estado, João Pessoa tentou realizar uma administração modernizante, submetendo a seu comando os ‘coronéis’ do interior. Uma de suas preocupações consistiu em canalizar as transações comerciais pelos portos da capital e de Cabedelo, com dois objetivos: garantir o recebimento dos impostos devidos e diminuir a dependência comercial e financeira em relação ao Recife. Suas iniciativas se chocaram com os interesses dos produtores do interior – sobretudo de algodão -, os quais negociavam por terra com o Recife e escapavam facilmente à tributação. A divergência de interesses e os ódios pessoais acumulados resultaram na revolta de Princesa – uma cidade do Sudoeste da Paraíba, quase no limite de Pernambuco – sob o comando do ‘coronel’ José Pereira (março de 1930). A família Dantas, amiga do ‘coronel’, colocou-se a seu lado. Em meio a violências recíprocas, a polícia invadiu o escritório de advocacia de João Dantas na capital do Estado e retirou de um cofre alguns papéis. Entre eles, existiam cartas de amor trocadas entre Dantas e uma jovem professora primária, Anaíde Beiriz. Ambos eram solteiros. O jornal governista A União completou a obra, atribuindo a Dantas a narrativa de atos amorais, em documentos que a decência impedia de publicar, mas que se encontravam na polícia para quem quisesse lê-los. Anaíde caiu em desgraça e, abandonada pela família, fugiu para o Recife. Dantas ‘lavou a honra’ assassinando João Pessoa. Preso após a Revolução de 1930, João Dantas foi assassinado na prisão e Anaíde Beiriz acabou se suicidando”.

 

Em leitura completa do livro, observamos que pouquíssimos episódios que fizeram parte da História do Brasil, merecem referência igual a esta sobre a participação e a influência da Guerra de Princesa para a eclosão da Revolução de 1930. O correlacionamento da amizade de João Dantas com a guerra civil paraibana e o consequente crime da Confeitaria Glória, atestam haver sido, o episódio bélico ocorrido em Princesa, o estopim da Revolução de 1930. Como vimos demonstrando, ao longo das resenhas aqui publicadas, está sim, o movimento rebelde de Princesa, intrinsecamente ligado aos fatos que propiciaram o fim da República Velha.

 

Boris Fausto é historiador e cientista político brasileiro. Nasceu em São Paulo em 8 de dezembro de 1930, filho de imigrantes judeus. É graduado em mestrado, em História e em Direito pela Universidade de São Paulo. É um dos maiores escritores sobre a história política do Brasil no período republicano. Tem vários livros publicados, sendo considerado o principal: A Revolução de 1930 – historiografia e história, publicado pela primeira vez em 1970 e considerado um dos clássicos das ciências sociais brasileiras. Aos 90 anos de idade, reside em São Paulo.


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